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AMERICANA, 149 ANOS

Americana lidera envelhecimento na RMC e reflete tendência nacional

População idosa em crescimento desafia município a inovar em políticas públicas

Por Ana Carolina Leal

27 de agosto de 2024, às 10h03 • Última atualização em 27 de agosto de 2024, às 11h31

O Censo 2022 colocou Americana como a cidade com o maior percentual de idosos em relação à população na RMC (Região Metropolitana de Campinas). Segundo o Informativo Socioeconômico da prefeitura, dos 237.240 habitantes de Americana, 19% têm 60 anos ou mais, o que equivale a 45.060 pessoas. Este número é inferior apenas ao de Campinas, a maior cidade da RMC, que soma 20 municípios.

Um dos representantes dessa crescente população idosa é José Carlos Baccan, corretor de seguros de 73 anos. Nascido e criado em Americana, Baccan relembra sua trajetória como bancário no antigo Banespa e professor no Colégio Dom Pedro.

“Nunca me imaginei parando de trabalhar. Acordar e ter um dia ocioso pela frente nunca fez parte do meu projeto de vida”, compartilhou em entrevista ao LIBERAL.

José Carlos Baccan, de 73 anos, corretor de seguros – Foto: Leonardo Matos/Liberal

O envelhecimento populacional em Americana reflete uma tendência nacional que requer uma nova abordagem. Em sua tese de doutorado defendida no IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da Unicamp, o professor Anderson Gonçalves destaca que o envelhecimento populacional é um conceito multifacetado, diferente do simples processo biológico de envelhecer.

Ele aponta que a idade cronológica, usada tradicionalmente para categorizar idosos, é insuficiente para desenvolver políticas públicas eficazes. “Precisamos estratificar essa população idosa e reconhecer as singularidades”, afirma.

Gonçalves propõe uma nova medida chamada “idade relativa”, que considera variáveis como região, sexo, escolaridade, renda e força física. Segundo ele, o envelhecimento bem-sucedido depende de políticas públicas desde a infância até a terceira idade, e não apenas de responsabilizar o indivíduo pelo seu processo de envelhecimento.

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Apesar dos avanços nas políticas públicas,  Baccan acredita que ainda há muito a ser feito em termos de atendimento à população idosa. “Fala-se muito em atender crianças e pessoas com necessidades especiais, o que é extremamente válido, mas não sinto o mesmo amparo aos idosos”, critica.

Na visão da doutora em gerontologia Mariana Reis Santimaria, que coordena o Centro de Envelhecimento e Longevidade Vitalità na PUC (Pontifícia Universidade Católica) Campinas, as políticas públicas de saúde, especialmente aquelas implementadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde), têm desempenhado um papel fundamental no processo de envelhecimento da população.

Ela também ressalta a importância da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), uma iniciativa da ONU (Organização das Nações Unidas) em parceria com a OMS (Organização Mundial de Saúde), que visa melhorar as condições de vida dos idosos em todo o mundo.

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Americana, por sua vez, diz oferecer uma gama de serviços voltados ao bem-estar da população idosa. O município conta com unidades de Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, além de Serviços de Proteção Social Especial para Idosos em parceria com organizações da sociedade civil.

Tem ainda o programa Americana Pró 60+, que elabora protocolos de atendimento para idosos em situação de violência. O resultado deve ser publicado em breve.

Expectativa de vida em ascensão

A longevidade é medida pela expectativa de vida da população e, no Brasil, tem aumentado de forma significativa nos últimos anos. Hoje, espera-se viver em média 76,2 anos, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“É um salto em relação as últimas décadas. O aumento da expectativa de vida se deve à diminuição da taxa de natalidade e melhores condições de vida, principalmente acesso à saúde. Acesso à educação e maiores níveis de renda também influenciam este processo”, comenta a doutora em gerontologia Mariana Reis Santimaria.

Um exemplo prático dessa nova realidade é a trajetória de Maria Arruda, de 63 anos, técnica em publicidade e secretariado, que decidiu voltar aos estudos para atualizar seu currículo. Atualmente, Maria está no terceiro semestre do curso de logística, oferecido à distância pela FAM (Faculdade de Americana).

Maria Arruda, de 63 anos, está no terceiro semestre do curso de logística – Foto: Marcelo Rocha/Liberal

Ela afirma que, apesar de sua experiência, incluindo habilidades em idiomas estrangeiros e anos de serviço público, sentia a necessidade de adquirir um diploma de ensino superior para melhorar suas oportunidades no mercado de trabalho.

“Enquanto aguardo com interesse uma nova oportunidade, estou comercializando meus brownies, algo que realmente gosto de fazer”, compartilhou em entrevista ao LIBERAL.

A história de Maria Arruda não é isolada. Segundo o professor Anderson Gonçalves, há uma mudança perceptível na forma como a sociedade enxerga a população idosa.

“Antigamente, os idosos eram classificados como aposentados. Era meio que um sinônimo. Hoje, não temos mais essa percepção. Com 60 anos ou mais, as pessoas não se recolhem aos aposentos. Elas estão ativando a economia, transitando pelas ruas, indo ao mercado, cuidando dos netos e cada vez mais saindo de casa”, observa.

Para acompanhar essa transformação, Gonçalves enfatiza a importância da formação continuada e da reinvenção profissional. Ele aponta que a ideia de aprender uma única profissão e dedicar-se a ela ao longo de toda a vida não é mais uma realidade para a maioria das pessoas.

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“É um processo de transição de carreira ao longo da vida. A pessoa pode ter quatro, cinco, até oito tipos de carreiras diferentes ao longo da vida”, afirma o professor, ressaltando a necessidade de requalificação profissional para que possam se manter ativos no mercado de trabalho mesmo em idades mais avançadas.

Esse cenário também é reconhecido por algumas empresas que valorizam a diversidade geracional como um diferencial estratégico. É o caso do Grupo São Vicente, rede de supermercados de Americana e região.

“Ao darmos oportunidade para profissionais com mais de 50 anos, propiciamos que as diversas gerações trabalhem em conjunto na empresa, ampliando nossos talentos e enriquecendo a cultura do grupo”, afirma Maíra Honório, gerente executiva de Gente & ESG. No quadro de funcionários da empresa, 15% dos colaboradores possuem mais de 50 anos.

Esporte e lazer na terceira idade

A projeção da população idosa para as próximas décadas é de que até 2050 as pessoas com 60 anos ou mais, no Brasil, representarão aproximadamente um terço do total, enquanto as taxas de natalidade continuarão a cair.

Isso resultará em uma maior razão de dependência, com menos pessoas em idade ativa e uma proporção crescente de idosos, especialmente aqueles com mais de 80 anos.

Mariana Reis Santimaria, doutora em gerontologia e coordenadora do Centro de Envelhecimento e Longevidade Vitalità na PUC (Pontifícia Universidade Católica) Campinas, enfatiza que, embora as pessoas estejam vivendo mais, é fundamental que também vivam melhor.

“Precisamos avançar ainda em ações de promoção à saúde que reduzam níveis de inatividade física, obesidade, consumo alimentar não saudável, pois precisamos viver mais, mas com mais qualidade.”

De acordo com ela, as doenças crônicas impactam de forma importante a capacidade funcional e, à medida que as pessoas envelhecem, manter-se com boa capacidade funcional e independentes para fazer aquilo que desejam ou precisam passa a ser o novo objetivo coletivo.

José Geraldo Rechinelli, de 75 anos, se mantém ativo no esporte – Foto: Marcelo Rocha/Liberal

Com 42 anos de carreira no voleibol e em atividades voltadas à terceira idade pela Prefeitura de Americana, José Geraldo Rechinelli, de 75 anos, mais conhecido como Zito, se aposentou compulsoriamente por conta da idade, mas não deixou o esporte de lado.

“O esporte esteve sempre na família e eu continuei até o fim. Fui técnico de várias equipes de vôlei de Americana. Sempre gostei de praticar atividade física. Com a aposentadoria e essa ligação com o esporte, quis manter corpo e cabeça em atividade e, com isso, acabei participando do Jomi (Jogos da Melhor Idade) e, com a conquista da medalha de ouro no arremesso de peso, me classifiquei para o JAI (Jogos Abertos do Idoso)”, conta Zito, que continua ativo e engajado nas competições.

Marlene da Silva Oliveira, de 72 anos, compete na modalidade damas – Foto: Divulgação

A costureira Marlene da Silva Oliveira, de 72 anos, é outro exemplo de envelhecimento ativo. Competindo nos Jogos Regionais há oito anos, Marlene coleciona duas medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze na modalidade de dama. Para ela, a idade não é um obstáculo: “Nossa cabeça e nossa vontade são que mandam”, afirma.

Carlos Alexandre Pavan, técnico em contabilidade de 60 anos, é outro exemplo de como a vida ativa pode estender-se muito além da juventude. Além de trabalhar diariamente, Pavan pedala, em média, 160 quilômetros por semana.

Carlos Alexandre Pavan, de 60 anos, pedala em média 160 km por semana – Foto: Leonardo Matos/Liberal

“Amo minha profissão e a ‘bike’ desde meus 17 anos. Já fui até atleta por Americana. Hoje, acho que 60 anos nem é uma idade tão avançada e tem muitas pessoas na terceira idade ativas, trabalhando”, comenta.

Na cidade de Americana, a população idosa tem acesso a espaços de lazer e convivência, como praças, áreas de esportes e academias ao ar livre, espalhados por todas as regiões.

A Secretaria Municipal de Esportes também oferece uma série de atividades e modalidades voltadas para a terceira idade, incluindo ginástica e musculação em bairros diversos.

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