28 de abril de 2024 Atualizado 12:36

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Liberal explica

O sistema bancário está em crise?

O colapso do Silicon Valley Bank foi o primeiro grande alerta, no dia 10 de março

Por Isabella Holouka

27 de março de 2023, às 07h55

CONTEXTO. A possibilidade de uma crise bancária com dimensões imprevisíveis tomou o noticiário depois que três instituições dos EUA e uma da Europa quebraram em pouco mais de uma semana no início de março. Apesar de os problemas serem localizados, foram suficientes para acenderam um alerta geral aos investidores mundo afora, assim como correntistas tradicionais também se preocuparam. Entenda o que leva um banco a quebrar e quais podem ser as consequências para clientes e sistema financeiro.

Operadores trabalham no pregão da Bolsa de Valores de Nova York na esteira da crise – Foto: SETH WENIG – ASSOCIATED PRESS – ESTADÃO CONTEÚDO – 15.03.2023

O colapso do Silicon Valley Bank, o 16º maior credor dos Estados Unidos e responsável pela segunda maior falência de um banco na história norte-americana, foi o primeiro grande alerta, no dia 10 de março.

Um dia antes, o Silvergate Capital Corporation anunciou a intenção de encerrar as operações. Dois dias depois, autoridades anunciaram uma intervenção no Signature Bank de Nova York. Na semana seguinte, a preocupação aumentou e vazou para a Europa, depois que as ações do gigante suíço Credit Suisse desabaram após o banco afirmar ter encontrado “fraquezas” em seus relatórios financeiros.

O rápido colapso dos bancos regionais nos Estados Unidos e o pânico sofrido pelas bolsas nos últimos dias são resultantes dos saques em massa e da desconfiança geral do mercado. O economista e professor Paulo Oliveira, do Observatório PUC-Campinas, explica que “a principal fragilidade dos bancos é que trabalham como multiplicadores, não têm todo o dinheiro que emprestam, nem todos os depósitos garantidos em dinheiro físico”.

“E quando se tem uma crise, é gerada uma desconfiança no sistema e o primeiro efeito é uma corrida bancária. As pessoas correm para os bancos para tentar reaver seus depósitos, mas se todo mundo faz isso ao mesmo tempo, o banco não tem esse dinheiro em caixa”, descreve.

📲 Receba as notícias do LIBERAL no WhatsApp

MOTIVOS. O especialista explica que a insolvência de um banco pode se dar por diversos motivos e o temor de um efeito sistêmico está baseado no fato de que as finanças estão globalizadas – os bancos emprestam dinheiro entre si. “Um banco quebrar pode significar a incapacidade dele de honrar seus compromissos financeiros com agentes que estão em outros países, inclusive em outros bancos”, diz.

Além disso, Paulo aponta o risco de uma crise bancária alavancar uma crise de crédito, significando um freio econômico, com menos emprego, renda e consumo.

Guilherme Augusto Ferreira, sócio da Manhattan Investimentos, assessoria credenciada à XP Investimentos em Americana, relata um período de muitos questionamentos por parte dos clientes, assustados com as notícias que suscitaram lembranças da crise financeira de 2008.

Naquela ocasião, a crise começou em razão da especulação imobiliária nos Estados Unidos e teve a quebra do banco Lehman Brothers, um dos mais tradicionais do país, como auge. Embora o Brasil não tenha sido atingido diretamente em um primeiro momento, houve sérias consequências aos Estados Unidos e Europa, com impactos no mercado financeiro mundial.

Mas Guilherme opina que os órgãos regulatórios do mercado financeiro vêm respondendo aos problemas muito rapidamente com o objetivo de impedir que a crise se espalhe. “Depois de 2008, tudo ficou mais rígido no sistema financeiro como um todo. Os bancos têm trabalhado com muito mais resguardo”, afirma.

DIFERENÇA. Ele argumenta ainda que o SVB quebrou por um problema pontual, relacionado ao perfil atendido pelo banco e uma situação específica de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos. Já o Credit Suisse acumulava anos de erros que prejudicaram a credibilidade da instituição.

Outro ponto apontado pelo assessor de investimentos é que o pequeno e médio investidor, se atingido, tem uma proteção muito grande neste tipo de situação. No Brasil, o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) garante até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por conjunto de depósitos e investimentos em cada instituição ou conglomerado financeiro. Esse valor é limitado ao teto de R$ 1 milhão, a cada período de quatro anos, em garantias pagas para cada CPF ou CNPJ.

Já Paulo Oliveira acrescenta que qualquer comparação entre a situação atual com a crise de 2008 não passa de mera especulação. “Ainda é muito recente, precisamos entender melhor, mas aparentemente são situações muito distintas”. 

Publicidade