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Se meu Fusca falasse… A história de um corretor de imóveis e seu Fusca 84, uma herança que passou por várias experiências

Mais do que paixão pelo modelo de automóvel - que já foi o mais vendido do mundo -, Marcelo Boldrini tem uma relação de companheirismo e muitas histórias com seu carro

Por Jucimara Lima

08 de julho de 2024, às 10h47

Herança familiar, Fusca é quase um membro da família Boldrini - Foto: Marcelo Rocha_Liberal

“Quem tem um Fusca, possui também um pedaço da história.” A frase popular na internet, comum em quadros e camisetas de entusiastas do clássico da Volkswagen, tem autoria desconhecida, embora pudesse perfeitamente ter sido escrita pelo corretor de imóveis de Americana Marcelo Curi Boldrini, de 59 anos.

Mais do que paixão pelo modelo de automóvel – que já foi o mais vendido do mundo -, Marcelo tem uma relação de companheirismo e muitas histórias com seu carro, modelo cinza carrara, ano 84, uma herança familiar que entre idas e vindas veio parar em suas mãos novamente em 2018.

Quase um membro da família Boldrini, o veículo é utilizado por ele como meio de transporte, trabalho e lazer. “Como me disse um mecânico certa vez, Fusca tem que colocar para rodar”, diverte-se.

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Os Fuscas de Sua Vida. Caçula entre cinco irmãos, Marcelo é filho do conhecido e saudoso casal Diva e Francisco Boldrini, fundador da Boldrini Administração de Imóveis, imobiliária tradicional da cidade, que abriu suas portas no início dos anos 70. Apesar de ser paulistano de nascimento, é americanense de coração, tendo sido criado na região central, estudado na escola Heitor Penteado e frequentado os bailes do Rio Branco, assim como boa parte da juventude de sua época.

Na década de 70, teve o primeiro contato com o modelo de carro que trilharia com ele muitos quilômetros vida afora. “Meu pai comprou um Fusca para atender as necessidades da família, e minhas irmãs mais velhas costumavam levar meus irmãos para aprenderem a dirigir. Como eu era muito pequeno, apesar de acompanhar, elas não me deixavam pegar o carro. De tanto observar, acabei aprendendo sozinho. Sentei no Fusca e saí dirigindo”, recorda.

No final da década de 70, aos 16 anos, Marcelo começou a trabalhar na empresa da família, quando passou a ter como uma das funções colocar e tirar o Fusca da empresa da garagem. Em pouco tempo, como não havia muita fiscalização, mesmo sem habilitação, já dirigia pelas ruas da cidade e até da região. “Eu ia levar cliente para ver terreno no Jardim Pérola, que ainda era só terra.”

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Primeiro Carro. No início dos anos 80, como era fã do carro, o patriarca da família Boldrini comprou mais um Fusca, um modelo 79 que, segundo Marcelo, “era um luxo só.” A princípio, a ideia era colocar o carro para ser usado na imobiliária, algo que acabou não acontecendo. “Comecei a adaptar, coloquei um vidro degradê, volante diferente, um banco especial e, quando vi, estava com o carro para mim.”

Em 1984, no auge da juventude, o corretor sofreu um acidente na Avenida Cillos. Bateu em um poste e deu perda total no carro. “Só cortei o joelho, mas o veículo só deu para revender algumas peças.”

Mesmo com a experiência traumática, não demorou muito para ele oficialmente comprar um Fusca “para chamar de seu”. Com o tempo, vieram os filhos Júlia e Vitor Boldrini e com a família aumentando, o carro acabou substituído por outros, mas nunca saiu da memória afetiva do corretor.

O último Fusca. O último Fusca dos “Boldrinis” é o modelo que ainda hoje Marcelo ostenta pelas ruas de Americana. Comprado zero, para substituir o anterior perdido no acidente, o modelo 1984 nunca mais saiu da família, a não ser por um breve período de tempo, quando foi roubado em 2010. Na época, ele estava encostado na garagem quando foi levado por ladrões.

“Ficamos muito tristes, porque era uma herança de família. Tínhamos muitas histórias com ele, meus sobrinhos aprenderam a dirigir nele, além da parte emotiva por ser do meu pai.”

Curiosamente, cerca de oito meses depois, o carro foi recuperado em uma ação da Polícia Civil de Piracicaba. “Quase não acreditamos quando recebemos a ligação pedindo para identificar o carro em Rio das Pedras. Descobriram pelo número de série do cinto de segurança ao acionarem a Volks para ver a nota fiscal. Foi um verdadeiro milagre, já que encontrar um Fusca naquela época, ainda mais em bom estado, era quase impossível, pois ele já era uma relíquia”, alega.

Velhos companheiros de jornada, Marcelo e seu Fusca 84 são inseparáveis – Foto: Arquivo Pessoal

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Novos recomeços. Em 2019, Marcelo passou pelo processo de divórcio, quando ficou sem carro, e o irmão lhe repassou o velho Fusca para usar. Meses depois, devido ao isolamento imposto pela pandemia, depressão e uso de medicamentos para ansiedade, o corretor teve uma séria crise de abstinência e chegou a ficar internado. Após tratamento, se recuperou, teve uma breve passagem pela Associação Vinde a Luz como cuidador social. Hoje, há pouco mais de um mês, está de volta atuando em sua primeira profissão, na empresa onde teve seu primeiro emprego. O retorno foi um convite do irmão Júnior, atual proprietário da Boldrini. “Fiquei muito feliz e animado em voltar para cá. São muitas memórias”, emociona-se.

Assim, como dois viajantes que retornam de uma longa viagem, marcada por muitos imprevistos, superações e aventuras, Marcelo e seu velho companheiro, o Fusca 84, regressam as suas origens, evidentemente com algumas avarias, muitas histórias para contar, bons quilômetros rodados (60 mil, para ser exato), contudo, mantendo a mesma força e parceria de sempre.

“Pretendo ficar com ele até morrer. Depois, quero repassar a herança para alguém que aprecie sua história”, finaliza. 

Na companhia do Fusca, Marcelo segue sua jornada de recomeço – Foto: Marcelo Rocha_Liberal

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