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Operação Elmo

Investigação contra o PCC em Sumaré teve início após ameaça de atentados

Interceptações telefônicas identificaram risco de ataque a PMs; episódio originou operação deflagrada na semana passada

Por João Colosalle

03 de novembro de 2021, às 08h02 • Última atualização em 03 de novembro de 2021, às 09h41

A investigação do Ministério Público contra a facção PCC (Primeiro Comando da Capital) em Sumaré, que deu origem à Operação Elmo, deflagrada na semana passada, surgiu após interceptações telefônicas identificarem o risco grave e real de atentados contra forças de segurança do município.

As ameaças surgiram durante monitoramentos após a realização da Operação Ferrolho, em agosto de 2018, e depois que policiais da Rota frustraram um “tribunal do crime” no bairro Matão, em setembro do mesmo ano. Nas conversas interceptadas, integrantes do PCC ameaçam atacar viaturas da Força Tática, da Polícia Militar.

Em um relatório reservado com data de 12 de setembro de 2018, três dias após a conversa sobre um possível ataque a viaturas, foi sugerida a abertura, em regime de urgência, de uma nova operação para acompanhar a facção e antecipar possíveis crimes.

Policiais estiveram em condomínio no bairro Nova Veneza onde morava suspeito de ser uma das lideranças do PCC em Sumaré – Foto: Wagner Souza / Futura Press / Estadão Conteúdo_26-10-2021

“Foi detectado que os membros do PCC estão planejando realizar um grande atentado contra as forças de segurança da comarca de Sumaré, conforme interceptado em conversas do alto escalão da organização criminosa, verificando-se que há um perigo real de este fato se concretizar, conforme já visto em meados de 2006”, alerta o relatório, em referência à série de atentados ocorridos no Estado há 15 anos.

O documento é a conclusão de uma denominada Operação Baygon, que monitorou membros da facção entre 29 de agosto e 11 de setembro de 2018. As ameaças contra órgãos de segurança seriam uma represália a prisões em Sumaré e Hortolândia.

Apesar de não haver referência direta no relatório, o clima de tensão coincide com os dias seguintes à realização da Operação Ferrolho. Na ocasião, em 28 de agosto de 2018, uma operação do Ministério Público na cidade, originária da investigação do homicídio de um cabo da PM em 2017, buscou e prendeu diversos suspeitos com ligação com o PCC em Sumaré, Hortolândia, Nova Odessa e Monte Mor. Catorze pessoas foram denunciadas e ainda aguardam julgamento neste caso.

Na sequência das operações Ferrolho e Baygon, surgiu a Operação Elmo, com desfecho na semana passada. Nesta mais recente investigação – cujo nome faz referência ao capacete que protegia a cabeça de soldados medievais –, foram monitorados os telefones celulares de lideranças locais da facção por seis meses. No período, a apuração interceptou relatos de tráfico de drogas, roubos e assassinatos na cidade.

Os grampos ocorreram entre outubro de 2018 e abril de 2019, e serviram para embasar a acusação apresentada em maio deste ano pela Promotoria em Sumaré contra 24 integrantes da organização criminosa no município e em cidades vizinhas, como Hortolândia e Monte Mor.

A denúncia do MP hierarquiza o envolvimento dos investigados e suas funções na célula local da facção. Um dos principais alvos das autoridades foi Willian José Silva Tenório, de 30 anos. A acusação do Ministério Público o coloca como alto escalão no organograma do PCC na cidade.

Conhecido pelo apelido de Paratudo ou Hector, seu nome surgiu em evidência durante o monitoramento entre as operações Baygon e Elmo. É em uma ligação do dia 9 de setembro de 2018, junto a outros supostos integrantes do PCC, que surgem as ameaças, por parte dos interlocutores, de ataques a policiais.

As interceptações telefônicas nos meses seguintes levaram os investigadores a concluírem que Willian José era uma liderança da facção que era procurada por moradores da comunidade para que resolvesse “problemas nas quebradas”. Ele se identificava nas ligações como “jet” de Sumaré, denominação atribuída a líderes do PCC.

Willian também teria atuação para arregimentar trabalhadores de condomínios habitacionais onde há o tráfico de drogas. Ou seja, ele interferiria na contratação de funcionários para que eles colaborassem, por exemplo, quando houvesse uma operação policial. Com a ajuda deles, seria possível retardar a entrada de policiais nos condomínios.

Além disso, seria ainda de responsabilidade dele os chamados “batizados” na cidade – quando um membro se torna integrante do PCC – e o repasse dos valores arrecadados com rifas para lideranças regionais.

O monitoramento do Ministério Público encontrou também indícios de envolvimento de Paratudo em crimes graves, como homicídios. Em uma conversa interceptada na noite de 14 de outubro de 2018, Willian diz a um interlocutor que “em quatro meses na rua, enterrou treze”.

Nove dias depois, a liderança do acusado também se evidencia no teor das ligações. Em uma conversa telefônica, um interlocutor identificado como Abutre pede autorização a Willian para matar uma pessoa conhecida pelo apelido de Grafite.

Apesar de não haver uma anuência clara, o homicídio, de acordo com as investigações, de fato ocorreu. No dia 25 de outubro de 2018, Grafite foi esfaqueado na favela do bairro Vila Vale. Segundo as conversas sobre o crime interceptadas pelo MP, a briga teria ocorrido por desavenças pessoais.

Na terça-feira passada, 26, policiais militares do 10º Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia) saíram às ruas para cumprir os mandados da Operação Elmo expedidos pela 1ª Vara Criminal de Sumaré.

No rol de alvos constavam 24 nomes. Destes, nove já estavam presos, um havia morrido e outro estaria morando no Pará. Em relação aos outros treze, a polícia conseguiu prender nove. O décimo foi morto durante a abordagem: Willian José.

Segundo informações do boletim de ocorrência do cumprimento do mandado, os policiais chegaram ao apartamento de Paratudo, no condomínio Águas da Prata, em Nova Veneza, pouco antes das 6h. Encontraram a porta entreaberta e viram o suspeito saindo de um dos cômodos com um revólver na mão.

Os PMs relataram que pediram para que ele soltasse a arma por três vezes. Willian José teria corrido para um banheiro e feito um disparo. Dois policiais revidaram e um dos tiros atingiu o acusado no tórax.

Cerco ao crime organizado

Confira uma cronologia das principais operações contra o PCC em Sumaré:

2014: Em Conchal, policiais encontram um pendrive com uma série de cadastros de membros do PCC. Foram identificados 17 com atuação em Sumaré.

2016: Investigação inédita descobre uma célula bem estruturada da facção agindo na cidade. Foram 28 denunciados pelo Ministério Público.

2016: A Operação Tormenta, do Gaeco de Campinas, prende em Sumaré duas pessoas que lideravam um grupo criminoso que fornecia armas para o PCC.

2016: A Operação Ethos, do Gaeco de Presidente Prudente, tenta prender uma advogada de Sumaré e outro quadro relevante da facção, que encabeçavam o “setor jurídico” do PCC. A mulher foi presa em 2017, no Paraguai.

2018: No contexto da Operação Ferrolho, 14 pessoas são acusadas de integrarem a facção e promover o tráfico de drogas em outros crimes em Sumaré e região.

2021: O MP de Sumaré identifica e processa 24 suspeitos de fazerem parte do PCC na cidade, no âmbito das investigações da Operação Elmo.

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