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Celebridades

Estrutura artística consolidada

De volta ao ar na edição especial de “A Vida da Gente”, Marjorie Estiano valoriza trama emotiva e densa das seis

Por Caroline Borges_Tv Press

22 de março de 2021, às 07h34

Além de “A Vida da Gente”, Marjorie também poderá ser vista na edição especial de “Império”, que irá substituir “Amor de Mãe” no horário nobre - Foto: Divulgação - Globo

Marjorie Estiano já trilhava um caminho de sucesso na primeira década dos anos 2000. Revelada em “Malhação”, a atriz acumulava trabalhos no horário nobre, como a protagonista Maria Paula, de “Duas Caras”, e a tímida Tônia, de “Caminho das Índias”. No entanto, apesar das experiências prévias, Marjorie buscava um projeto que mudasse a rota de sua maturidade artística.

E foi com a meiga e profunda Manuela, de “A Vida da Gente”, que a atriz sentiu uma transformação em sua trajetória. “Era uma personagem que me dava muito material para fazer essa transição. Esse projeto me deu amparo para que eu pudesse transformar meu lugar de atriz e aprender mais. Foi um exercício intenso, árduo e profundo, que exigiu muito e também me ofereceu a oportunidade de alargar e sedimentar alguns entendimentos”, afirma.

Na história assinada por Licia Manzo, Manuela é a irmã mais velha de Ana, papel de Fernanda Vasconcellos. Rejeitada pela mãe, Manu cresceu à sombra da irmã talentosa e perfeita, sua única amiga e confidente. Após o acidente que deixa a irmã em coma, assume a responsabilidade por Júlia e, tempos depois, uma relação com Rodrigo, de Rafael Cardoso.

“O legal é que a personagem tinha múltiplos sentimentos. Não era uma coisa só. A Manuela era muito amorosa, acolhedora e empática. Mas também muito permissiva em algumas situações. Ela precisou aprender a se impor mais”, aponta.

O retorno da trama de “A Vida da Gente” foi bastante celebrado nas redes sociais. Após 10 anos da exibição original, você ficou surpresa com a repercussão da reprise da novela?
Estiano Dentre as novelas que fiz parte, essa sempre foi uma das mais citadas pelo público. Sempre saudosos dos personagens preferidos e gratos ao Globoplay pela oportunidade de revê-los. Citavam personagens, cenas, conflitos, falas, a torcida. Tenho certeza que quem viu, vai querer ver novamente. É uma novela delicada e aguda. De drama psicológico, com dilemas possíveis, conflitos frequentes e comuns a todos nós.

Qual a importância desse trabalho na sua trajetória?
O aprendizado é um exercício contínuo, sem fim. No meu caminho como atriz até o último papel que interpretar na vida, vou seguir aprendendo e descobrindo coisas novas. E, nesse percurso, eu diria que a Manuela foi um papel muito importante nessa experimentação por conta da personalidade, dos conflitos, das circunstâncias… e da etapa em que me encontrava dentro do aprendizado. Foi um exercício intenso, árduo e profundo, que exigiu muito e também me ofereceu a oportunidade de alargar e sedimentar alguns entendimentos. Acho que com ela eu caminhei para o final de uma etapa.

Como assim?
A Manuela me deu muito material e ferramentas para fazer essa transição de fase enquanto atriz. Foi muito profunda e complexa. Esse projeto me deu amparo para que eu pudesse, dentro do meu lugar de estudo, encontrar minha função como atriz. A partir dessa trama, eu fui entendendo melhor como se constrói uma cena, quais instrumentos posso usar para tornar esse texto do roteiro mais potente. Foi uma transição de uma outra etapa da minha compreensão como atriz.

Além do enredo romântico, “A Vida da Gente” é muito baseada na relação entre as irmãs Manu e Ana. Como você trabalhou essa rivalidade na época?
Isso foi muito louco na época. Mas, com o tempo, eu fui entendo essa divisão do público entre time Manu e time Ana. A trama criou uma discussão para refletir, mudar de ideia, concordar, não concordar… Até hoje, eu não sou muito de redes sociais. Mas eu ficava obcecada em acompanhar essa discussão nas mídias sociais. No entanto, eu só conseguia acompanhar pela divulgação. Era quase algo terceirizado (risos). Tinha sempre alguém querendo que eu respondesse algo, tomasse partido. É comum exigir que você tome um lado na história. A gente tem uma dificuldade em equilibrar esses lados. Ninguém é seu inimigo porque você não concorda com a pessoa.

Você costuma rever seus projetos antigos?
Não, não tenho esse hábito. Gosto de priorizar outros filmes ou séries em vez de rever coisas que eu fiz. Naquela época, eu era muito violenta me vendo. Não me assistia exatamente porque sabia que faria uma crítica excessiva. Hoje, eu já consigo ver meus projetos com mais acolhimento, generosidade e carinho. Estou em um futuro simpático comigo. Claro que vou ter diversas observações sobre o meu trabalho em “A Vida da Gente”. Mas, com esse distanciamento do tempo, vou estar mais entregue ao enredo. Agora, eu consigo ver mais a novela e focar menos no personagem.

Tem alguma cena que você espera rever nessa edição especial?
Não sei ao acerto. Tem bastante tempo que a novela foi ao ar, mas tenho certeza que ao rever, vou resgatar várias. As memórias, o que marca, como e porquê marca, a transformação que promove nem sempre é muito consciente, nem sempre é de fácil acesso. Mas rever a novela vai ser uma experiência interessante, certamente vai abrir essa porta de percepção. Estou curiosa para me deparar com essa experiência. Eu gosto muito da cena em que a Ana acorda do coma e a mãe está ao lado dela. A relação daquela mãe era muito profunda. Ela tinha certeza que a filha acordaria em algum momento. Foi muito emocionante.

A novela contou com gravações em algumas cidades do Rio Grande do Sul. Como foi esse período de trabalho longe dos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro?
Foi ótimo. É bom sair dos estúdios. As cidades já convidavam a gente a entrar nessa sintonia da novela. Lembro que a gente saía muito para explorar os locais. Todos os ambientes traziam essa atmosfera do texto. O silêncio e os sons eram bem diferentes do eixo Rio-São Paulo. Eram cidades que convidavam a uma escuta mais atenciosa, mais entregue.

A Manu foi sua segunda protagonista após viver a Maria Paula, de “Duas Caras”. Como foi essa experiência no horário das seis?
A demanda era muito grande e com um ritmo puxado. Muito mesmo. E especialmente no período do pós-acidente, contando com a filmagem do acidente, em particular a parte dentro d’água, foi bastante desgastante. Era uma sequência grande de muito sofrimento, de um momento trágico na vida da personagem. Viver essa carga por um período longo foi difícil e doloroso.

Saudosa lembrança
A trama de “A Vida da Gente” carrega memórias muito especiais para Marjorie Estiano. Durante todo o período da novela, a atriz estreitou laços com a saudosa Nicette Bruno, que morreu em dezembro do ano passado em decorrência de complicações da covid-19.

Ao longo da convivência, Marjorie ficou impressionada com a jovialidade da veterana atriz na frente e atrás das câmeras. “Ela era muito impressionante. Não consigo falar dela e não chorar. A Nicette não pertencia a uma geração. Ela tinha uma conexão muito clara com tudo e com todos. O mundo se transforma, né? Se você nasceu em determinada época, às vezes, tem dificuldade de acompanhar as mudanças. A Nicette parecia que sabia de tudo, estava sempre à frente”, elogia.

Com tanto tempo de convivência nos bastidores, Marjorie e Nicette começaram a construir uma intensa intimidade. Inclusive, durante as gravações no Rio Grande Sul, Marjorie flagrou inúmeros momentos pessoais da atriz com o marido Paulo Goulart, que faleceu em 2014.

“Eu era apaixonada pela Nicette. Ficava observando-a o tempo todo, todos os detalhes. A gente filmava de madrugada e ela acordava sempre toda disposta, pronta. E o Paulo ligava pra ela para dar bom dia, falar com ela um pouquinho antes do dia começar. Eu ficava achando tudo tão incrível, casados há tantos anos, tão viva essa relação, o acompanhamento, a delicadeza”, relembra.

Realidade x ficção
Marjorie Estiano carrega sentimentos mistos desde o anúncio da reestreia de “A Vida da Gente”. Apesar de vibrar com a reprise da novela, a atriz não consegue se desligar das caóticas notícias da pandemia do novo coronavírus. “Continuo triste, sensível, abalada e perplexa. As angústias e os medos ganharam um contorno diferente. A gente tem batido recordes diários de óbitos. Estamos vivendo uma tragédia e não tem como se acostumar com isso. Vai levar um tempo para gente retomar a vida”, afirma.

Aos poucos, a atriz, inclusive, retoma seu dia a dia de gravações. Ela já está envolvida com os trabalhos da quarta temporada de “Sob Pressão”. Ainda durante a fase mais rígida do isolamento social, Marjorie gravou o especial “Sob Pressão – Plantão Covid”, mergulhando ainda mais no contexto da pandemia. “‘Sob Pressão’ é uma obra de dramaturgia que cumpre a missão não só de entreter, mas também de conscientizar e aproximar realidades. É um exercício muito grande ler a realidade e interpretá-la na ficção”, defende.

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