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34ª Festa de Carioba

História que atravessa várias gerações

Comunidade de Carioba comemora 75 anos com a 34ª edição da Festa São João Batista

Por Isabella Holouka

09 de junho de 2022, às 09h34 • Última atualização em 09 de junho de 2022, às 09h59

Lançamento da pedra fundamental para construção da igreja, em 29 de junho de 1947 - Foto: Arquivo Pessoal

O retorno da Festa de São João Batista, a tradicional Festa do Padroeiro de Carioba, é esperado com ansiedade após dois anos sem realização devido à pandemia da Covid-19. A festa é tão aguardada porque carrega simbologias preciosas para os seus promotores, diferentes gerações de cariobenses. Este foi o segundo momento de pausa em uma história de comunhão que completa 75 anos em 2022.

O dia 29 de junho de 1947 marca o lançamento da pedra fundamental da construção da Capela de São João Batista, a segunda da comunidade, em um ponto alto, que seria visível de qualquer lugar de Carioba. A Igreja foi construída com fundos arrecadados nas quermesses em homenagem ao padroeiro, por meio de listas mensais feitas pelos fiéis e através do tradicional jogo de tômbola toda sexta-feira à noite no Clube Recreativo Esportivo Carioba.

A Capela ficou parcialmente pronta em 1949 e desde então a comunidade do bairro Carioba promove trabalhos de pastoral, litúrgico e social. A construção de um galpão e de um forno nos fundos da igreja, por volta de 1971, foi um marco, pois facilitaria os trabalhos na já famosa quermesse do padroeiro em junho.

Porém, a primeira pausa na promoção da Festa de São João Batista aconteceu a partir de 1977, como consequência do fechamento da Fábrica de Tecidos Carioba e da destruição do bairro, restando apenas a capela. Com a mudança dos moradores (grande parte para o bairro Cariobinha), a comunidade se enfraqueceu. Neste período, a perseverança de pessoas como Antonio e Olinda Justi, conhecidos como Sr. Tito e D. Nenê, manteve a capela de pé e as missas acontecendo.

17 anos depois, em 1994, uma nova comissão é formada, visando o crescimento da comunidade e eventos tradicionais. Assim, também promoveu ampliações e reformas na capela, como troca do telhado, da rede de energia elétrica e do forro de madeira, recuperação e pintura, construção do barracão de festas e, mais recentemente, fechamento de toda a nova área destinada à comunidade.

Jader Neves Grillo, professor de 60 anos, estava entre as pessoas que se organizaram para a retomada da comunidade na década de 1990 e participa da comissão da festa até hoje. Ele nasceu e viveu 18 anos em Carioba e acompanhava o pai na promoção do evento nas décadas de 1960 e 1970.

“Era moleque e ficava com ele na sala de coordenação, contando as fichinhas das comidas, e via todo mundo trabalhando, fazendo os assados e as outras coisas, e acabei pegando o gosto por isso também. Depois, a igrejinha estava abandonada, então filhos e netos de antigos moradores de Carioba nos reunimos, formamos uma equipe e resolvemos voltar a fazer as festas de São João para angariar fundos e recuperar a capela”, lembra.

Segundo Jader, a festa teve um boom de visitantes, crescendo exponencialmente, especialmente entre 2005 e 2015. Antigamente se reuniam no máximo 1,5 mil pessoas por noite, e a festa durava apenas a semana em que se comemora o dia de São João, em 24 de junho.

Hoje, a festividade ao padroeiro integra o calendário oficial de Americana. Neste ano serão três semanas de festa, do dia 10 ao dia 25. Na última edição, em 2019, a organização estima que em torno de 5 mil pessoas visitaram a festa nos sábados e uma média de 2 a 3 mil pessoas nas sextas-feiras e domingos.

A capela de São João Batista foi construída num ponto alto, que a tornaria visível de qualquer ponto do antigo bairro Carioba – Foto: Clau

DEVOÇÃO. A festa do padroeiro contempla a devoção dos fiéis, a tradição e a comunhão dos cariobenses, além de ser importante para a manutenção da comunidade que abrange as paróquias Nossa Senhora Carmo e São José Operário, da Vila Cordenonsi e do bairro São Manoel, informa o pároco Marcos Daniel de Moraes Ramalho, responsável pela comunidade há 3 anos.

“É uma devoção muito querida e relevante a São João Batista, uma devoção popular.

É uma celebração da comunidade por tudo aquilo que representa Carioba, por toda a história da Vila de Carioba e das pessoas que ali viveram e cresceram. É a capela daquele tempo que está acessível e representa a comunidade, um passado, uma história, raízes”, afirma o padre.

A herança cultural de Carioba, transmitida hoje principalmente através da capela, da Festa de São João e do presépio, é destacada por Geisa Rober, aposentada de 60 anos, que hoje é uma das coordenadoras de barracas da festa, com duas décadas de participação na organização do evento. Ela nasceu no bairro operário, onde viveu com toda a família até 1972 e conta ter uma ligação muito forte com a história de Carioba.

“Mesmo tendo destruído todo o bairro, a igreja permaneceu. Ela, o presépio que todo ano é aberto para visitação e a festa, que o pessoal não deixou acabar. Temos muito amor nisso porque é o que sobrou de Carioba”, diz.

As tradições de Carioba são algo que o senhor Sidnei Aparecido Baptista, conhecido como Turcão, de 84 anos, e a esposa Celina Baptista, de 77, fazem o possível para continuar. O casal viveu boa parte da juventude no bairro operário, se casou na capela de São João Batista em 1965, batizou no mesmo local os três filhos, canta no coral da igreja, participou da montagem do presépio de Carioba e foi conselheiro na organização da festa do padroeiro por mais de 20 anos. Turcão continua comandando o preparo dos galetos — tradição saborosa iniciada por ele.

Eles lembram que a festa começou pequena, em um barracão feito com bambu e lona, com cardápio “simples de tudo”. Tantos anos depois, o evento cresceu e a comunidade de Carioba continua sendo o principal motivo para continuarem presentes. “As pessoas querem participar por conta da história, mas quando entram na festa encontram todo mundo rindo, brincando, é muito bom. Neste ano, graças a Deus, estaremos mais uma vez lá”, comenta Turcão.

AMIGOS. Reencontrar os amigos é um dos pontos altos das festividades de Carioba para o senhor Alcides Granzotti, aposentado de 86 anos, que colaborou com a festa nas décadas de 60 e 70, participou da retomada em 1990 e continua no preparo do quentão. Ele se mudou para Carioba com a família em 1948 e era menino quando aconteceram as primeiras edições da festa do padroeiro. “Para mim, tudo era divertimento. Mas sempre foi uma festa boa, sem hora para acabar, eu não largo daquilo lá enquanto puder”, diz ele, ansioso para cada dia de Festa.

Coordenadora geral do evento, a empresária de 55 anos Nina Coletti aponta a devoção a São João como principal motivação para todo o trabalho na organização da festa. “Carioba tem uma história muito bonita. Quando eu cheguei, a festa já tinha 50 anos. As pessoas gostam porque cresceram no mesmo bairro, têm afeição, e vão encontrar amigos de muitos anos, que gostam de lembrar das histórias de Carioba. Isso é muito bonito”, acrescenta.

Nina aponta, entretanto, a necessidade de novos voluntários para que a tradição continue nos próximos anos. Quem sentir o desejo de participar da festa ou da comunidade de Carioba pode procurar a organização, informando a disponibilidade.

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