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PERSONAGENS DA FOLIA

Salvação, Flamantes, Bananeira: os blocos e escolas de samba que agitaram gerações nos carnavais de Americana

Entre as décadas de 1960 e 2010, grupos pipocaram e se empenharam para fazer a folia acontecer na cidade; relembre

Por Isabella Holouka

13 de fevereiro de 2024, às 07h56

Desfile de escola de samba em Americana, no ano de 2008 - Foto: Juarez Godoy

O Carnaval de Americana não teria sido o mesmo sem o empenho e a personalidade de blocos e escolas de samba que marcaram gerações com seus desfiles pela Rua Fernando Camargo ou, mais tarde, “pela Passarela do Samba” da Avenida Antônio Pinto Duarte.

Os primeiros registros do Carnaval em Americana são de fevereiro de 1923, quando as pessoas percorreram as ruas da região central fantasiadas homenageando a equipe de futebol do Rio Branco, campeã do interior em 1922. Os clubes impulsionaram o Carnaval de Americana, conforme mostrou a reportagem do LIBERAL publicada no último domingo.

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Mas a cidade também viveu períodos em que os blocos pipocavam e as escolas de samba atraíam público para a passarela. Pequenos grupos de amigos se reuniam e se multiplicavam para trabalhar boa parte do ano e concretizar dois dias de festa.

O LIBERAL buscou foliões e registros para relembrar a história de ao menos dez blocos musicais e escolas de samba de Americana – embora houvesse muitos outros.

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Boa parte dos entrevistados relatou a dificuldade financeira como maior empecilho para continuar a folia, principalmente pela falta de apoio do poder público e da iniciativa privada enquanto o Carnaval se tornava cada vez mais luxuoso e caro. Também citaram mudanças sociais e culturais na cidade. Confira a história de alguns dos blocos e escolas de samba.

Escola de Samba Meninão

O Meninão é apontado como o primeiro grupo carnavalesco de Americana e chegou a ser considerado um grupo de elite. Ari Cia, um dos fundadores, lembrou o início em uma reportagem do LIBERAL publicada em 2000.

Segundo ele, o primeiro desfile, em 1963, aconteceu em uma Kombi que, com as portas abertas, transportou quatro foliões fazendo muito barulho com instrumentos de bateria e sopro improvisados pela Rua Fernando Camargo. A escola, que chegou a ter 500 integrantes, deixou a passarela sete anos depois.

Bloco Musical Salvação

O Bloco Musical Salvação surgiu em 1966 com amigos que se reuniam para discutir política nacional. Sátira, descontração e irreverência eram traços marcantes do bloco, com foliões em carrinhos de supermercado ou usando farinha para interagir com o público. Depois, as fantasias passaram a ser cada vez mais elaboradas.

Totonho Azevedo, estilista do Salvação a partir de 1975, lembra que o tempo e a evolução do grupo, que chegou a desfilar com 500 pessoas, trouxe também a preocupação de “pelo menos tentar rezar a cartilha das grandes escolas de samba”.

O desfile do bloco Salvação, em 1986 – Foto: Secretaria de Cultura de Americana

“Era uma dificuldade para colocar o bloco na rua. Existia muito amor e a rivalidade entre Salvação e Bananeira, o que motivava a gente a entrar nessa disputa e tentar fazer o melhor. Era uma ansiedade pelo resultado”, lembra.

O Salvação foi para as ruas até 1990. Naquele ano, uma chuva atrapalhou o desfile, houve confusão na concentração na Avenida Cillos e o bloco saiu com número reduzido de integrantes, com o samba-enredo “Nossas Alas Fazem a História”.

Bloco Musical Bananeira

O Bloco Musical Bananeira participou pela primeira vez do desfile de rua americanense em 1974. Compositor dos sambas-enredos, o empresário Claudio Roberto Froner era membro da diretoria, juntamente com o também empresário José Luiz Meneghel, o Pé Meneghel.

José Luiz Meneghel e Claudio Froner, figuras icônicas do Bloco Bananeira em clique da década de 80 – Foto: Arquivo pessoal

“Só dava Bananeira. Foi um luxo. Daí para frente, cresceu muito o carnaval de Americana. Nos divertimos muito, apesar de ter muito trabalho. E o legal do Bananeira é que era muito família”, comentou Froner. Outro diferencial, segundo ele, era o requinte das fantasias de Umberto Macetti.

“Quando terminava o carnaval de rua, todo mundo ia para o Rio Branco. Metade do salão vestido de Bananeira e metade de Salvação. Era um tempo muito bom, muito gostoso, muito saudável”, lembrou.

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O bloco desfilou regularmente até 1984, exceto em 1976. Depois de quatro anos de pausa, voltou à Fernando Camargo em 1990 para o seu último desfile, com o tema “Será Que Vai Dar Certo?” em uma alusão ao clima de incerteza, tanto do País quanto do próprio bloco.

“Colocamos o Bananeira novamente na avenida. Será que vai dar certo? Só se falava nisso naquela época. Mas depois começamos a notar uma mudança socioeconômica e cultural. Antes, o pessoal jovem não tinha acesso a carro e ficava na cidade. Depois, muita gente começou a viajar no feriado e essa mudança permanece até hoje”, reflete o decorador Airton Sgobin, último carnavalesco do Bananeira.

Escola de Samba Unidos do Cordenonsi

Com sede na Rua Maestro Silvio Bianchi, a Unidos do Cordenonsi encantou Americana, conta Jair Conde Nandim. Ele é filho de Rubens Conde Nandin e Lúcia Pio Conde Nandin, casal que estava entre os fundadores, e tocava na bateria. A escola teve grande incentivo e foi marcada pela presidência da empresária Lydia Ballan Elias.

Fundada em 1971, teve seu auge em 1973, quando desfilou com quase 400 componentes e conquistou o tricampeonato. “Era uma escola que não acabava mais. Quanta gente na avenida! E os carros alegóricos…”, lembra Jair com saudades.

O grupo voltou à Rua Fernando Camargo em 1975 e seguiu até 1980. Depois, houve uma fusão entre as escolas de samba e o time de futebol amador do bairro, sob a mesma diretoria, mas a fração carnavalesca se enfraqueceu pouco a pouco.

Escola de Samba Flamantes

Criada em 1972 na sede do Clube Flamengo, a Escola de Samba Flamantes teve 200 pessoas em seu primeiro desfile, no ano seguinte, mas encerrou as atividades com mil foliões em 1990, segundo noticiado pelo LIBERAL em homenagem publicada em 2010. Com grandes concorrentes, como a Unidos da Cordenonsi, a Flamantes conquistou sete títulos ao todo, e chegou a ser a única escola na avenida entre 1984 e 1986.

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“Se teve uma característica que marcou os desfiles da Flamantes, com certeza era a beleza, por conta das fantasias superelaboradas e alegorias para lá de diferentes”, trouxe o texto, ressaltando a criatividade inerente de Waldemar De Nadai, dirigente e fundador, ao lado de Sidinei Ragazzi.

Bloco Musical Brahmosos

Nascido em uma mesa de bar, o Bloco Musical Brahmosos desfilou por três anos seguidos, entre 1975 e 1977. No primeiro ano, com o tema Carnaval na Roça definido às pressas, o bloco simulou uma quadrilha, com direito a casamento. No segundo ano o tema foi Brasil Folclórico e, no terceiro, uma homenagem a Monteiro Lobato.

O estandarte do Brahmosos, bloco que surgiu em mesa de bar – Foto: Reprodução

“Nosso bloco era simples, mas fazia a festa na avenida”, lembra o empresário Carlos Roberto Rondello. Segundo ele, o bloco chegou a contar com 250 pessoas.

Bloco Tigreleza

Um grupo de amigos frequentadores das domingueiras do Rio Branco está por trás da fundação do Bloco Tigreleza, que contou com o apoio da direção do clube. Com a presença de figuras importantes da folia americanense, o bloco buscou reanimar o carnaval de rua e celebrar grupos antigos.

“Tivemos uma ala homenageando Bananeira, outra ala homenageando Salvação, bateria homenageando o Meninão. Desfilamos a Fernando Camargo, depois subimos e entramos com a bateria dentro do salão social do Rio Branco”, recorda o ouvidor Celso Ferraz Miante.

Depois dessa noite de carnaval nostálgica em 1996, os foliões ainda foram para a rua até 2007, tendo como principal rival o bloco Catados da Roça.

Imperador do Zanaga

Amigos que já desfilavam há mais de 10 anos pela tradicional Acadêmicos do Salto Grande resolveram iniciar uma segunda escola de samba no bairro Antônio Zanaga. Um dos fundadores e carnavalesco da escola, Glauber Rocha lembra que a Imperador do Zanaga se destacou desde o primeiro desfile, subindo do grupo de acesso ao grupo especial e entrando em disputa acirrada com a Imperatriz Americanense.

“Eram lindos os desfiles das escolas de samba. Com muita garra, por amor, a gente ia buscar fora da cidade algo bacana para trazer para a população assistir”, destacou o bancário, lembrando temas levados à avenida, como a Amazônia ou a história do cinema.

O carro da Imperador durante desfile na Avenida Antonio Pinto Duarte – Foto: Marcelo Rocha/Liberal – 07-03-2011

Imperatriz Americanense

Com a união de remanescentes dos blocos Pé Quente e Tigreleza, em 2007 nasce a escola de samba Imperatriz Americanense, que chegou a contar com 280 integrantes. A escola conquistou o tetracampeonato no carnaval americanense entre 2009 e 2012, quando levou às ruas os temas Amazônia, Reis e Rainhas, Planeta Água e Homenagem a Joãozinho Trinta.

“Depois de um incêndio criminoso que pôs fim ao nosso carnaval, a Imperatriz fez trabalho de inclusão cultural, sustentabilidade e conscientização de como é importante preservar o meio ambiente e amar o próximo”, contou Celso Pires Cardoso, um dos presidentes, sobre a mudança de rota do instituto cultural.

Desfile da Imperatriz Americanense, campeã do Carnaval de 2011 – Foto: Marcelo Rocha/Liberal – 07-03-2011

Bloco das Piranhas

Inspirado em um bloco tradicional de Ribeirão Preto, o Bloco das Piranhas teve início em 1990 e seguiu anualmente até 2018, com produção da rádio VoX 90.3 FM. Sempre no domingo de Carnaval, a folia gratuita iniciou na Praia dos Namorados, mas ao longo dos anos chegou a ser realizada no recinto da Festa do Peão e, mais recentemente, na Fidam (Feira Industrial de Americana). Em seu auge, nos anos 2000, chegou a reunir 40 mil pessoas.

Diretor geral da Vox, Marlon Freitas lembra que a ideia central do bloco era fantasiar com o sexo oposto sem perder o clima familiar, e a programação sempre contava com baterias de grandes escolas de samba de São Paulo ou do Rio de Janeiro. De acordo com ele, o Bloco das Piranhas pode voltar no Carnaval de 2025.

Bloco das Piranhas, durante o Carnaval de 2008 – Foto: Juarez Godoy – 03/02/2008

Banho à Fantasia

Realizado a partir de 1978, o Banho à Fantasia atraiu milhares de pessoas à orla da Praia Azul até a década de 1990. Eram premiados com dinheiro os foliões com as três melhores fantasias nas categorias adulto e infantil.

“Todas as fantasias tinham que ser de papel. Era feita uma passarela, as pessoas desfilavam e, ao término do desfile, tinham que cair na água. Era fantástico, atraía muitos turistas”, lembra Thais Rillo, chefe da Divisão de Cultura no período entre 1985 e 1988, e de 2002 a 2016. Ela lembra que, além dos desfiles de rua e dos clubes, o Carnaval de Americana sempre contou com festas nos bairros, em salões de igrejas.

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