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Cultura

Relembre os mistérios latinos de ‘Kubanacan’ na Globoplay

Com “descamisados” e trama “sci-fi”, Globoplay valoriza a obra de Carlos Lombardi com a volta de “Kubanacan”

Por Geraldo Bessa / TV Press

01 de dezembro de 2020, às 07h52

Com novelas contemporâneas recheadas de humor rasgado, diálogos marcantes, mocinhas poderosas e homens descamisados, Carlos Lombardi foi um dos novelistas mais celebrados entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 2000.

Depois do grande êxito de “Uga-Uga” – que superou os 50 pontos de audiência -, Lombardi deu sinais de que estava cansado de se repetir na faixa das sete. Por conta dos bons serviços prestados à Globo, acabou ganhando a chance de escrever uma minissérie para a linha de shows. Utilizando a ironia cômica que lhe é peculiar, o autor viajou até a chegada da Família Real ao Brasil e fez sucesso com “O Quinto dos Infernos”, de 2002.

A experiência de fazer uma produção de época foi animadora e, ciente que deveria voltar para às 19 horas no ano seguinte, ele propôs à emissora uma novela ambientada nos anos 1950. Dessa forma surgiu a agitada e passional “Kubanacan” que, após diversos pedidos nas redes sociais, furou a fila de lançamentos no projeto de resgate de novelas clássicas promovido pela Globoplay e chega esta semana ao aplicativo.

“Fiquei muito feliz em saber que a novela seria disponibilizada. Antes mesmo de pensar na história de forma completa, ela já tinha título. Lembrei de uma música do Ney Matogrosso que ouvi muito nos anos 1970. O início da canção dizia ‘Coubanakan, misterioso país do amor’. Simplificamos a grafia, ligamos para o Ney e pedimos para ele regravar a música para a abertura da novela”, explica o autor.

O General Carlos Camacho, de Humberto Martins, dá um golpe de estado e instaura uma ditadura no país – Foto: Divulgação / TV Globo

Inspirado por “Que Rei Sou Eu?”, sucesso de Cassiano Gabus Mendes que satirizou a situação política do Brasil com uma trama medieval, a ideia de Lombardi era abordar com humor os contrastes políticos e sociais de países latino-americanos que passaram por ditaduras militares.

A fictícia ilha de Kubanacan era banhada pelo mar do Caribe e popularmente conhecida como República das Bananas. Não apenas por ser uma grande exportadora da fruta, mas também pelos problemas econômicos.

Marcos Pasquim como Esteban em Kubanacan – Foto: Divulgação / TV Globo

Após a morte do então presidente, o General Carlos Camacho, de Humberto Martins, dá um golpe de estado e instaura uma ditadura no país. Além disso, ainda se casa com a viúva de seu antecessor, a populista Mercedes, de Betty Lago. É nesse momento conturbado que um misterioso homem chamado Esteban, protagonista de Marcos Pasquim, cai do céu próximo da Vila de Santiago.

“Esse trabalho faz todo sentido quando a gente pensa que novela é realmente uma obra aberta. A história teve grandes viradas e novos ganchos surgiam a todo momento. Foi uma experiência que exigiu empenho, mas que me trouxe muitas alegrias”, conta Pasquim.

Esteban começou a trama se apaixonando por Marisol (Danielle Winits), com quem ficou casado durante sete anos – Foto: Divulgação / TV Globo

Desmemoriado, Esteban fica aos cuidados da bela Marisol, de Danielle Winits. Mesmo casada com o pacato Enrico, de Vladimir Brichta, ela se apaixona pelo forasteiro. Enrico sai de casa e vai morar em uma cidade próxima. Anos depois, já casado com a religiosa Lola, de Adriana Esteves, os caminhos de Enrico e Esteban se cruzam novamente.

Por ironia do destino, a nova esposa também se apaixona pelo “pescador parrudo”. “A novela era muito divertida. Pude exercitar meu humor de forma mais escancarada e foi uma chance de ouro de trabalhar com o Lombardi depois de alguns desencontros”, conta Esteves, para quem o autor escreveu a mítica Babalu de “Quatro por Quatro”, que acabou nas mãos da então iniciante Letícia Spiller.

Para complementar esse mosaico de paixões, há ainda a insegura Rubi, de Carolina Ferraz. Irmã de Lola, ela sempre foi apaixonada por Enrico e se culpa pelo fato dele ser seu cunhado. “Sempre fiz dondocas. A Rubi era uma mulher desengonçada, sem vaidade e que tinha o sonho de entrar para o exército. Foi um alívio fazer algo diferente do que estava acostumada”, valoriza Ferraz.

Com direção de Wolf Maya, “Kubanacan” teve suas gravações fixadas no Rio de Janeiro. As externas praianas foram feitas na região da Restinga da Marambaia e a grande parte das cenas foram captadas na imensa cidade cenográfica erguida nos Estúdios Globo. Com elenco enxuto, em torno de 45 nomes, muitos foram os destaques ao longo dos 227 capítulos, casos de Marco Ricca, Werner Schünemann, Bruno Garcia, Daniel Boaventura, Marcelo Saback, Rafaela Mandeli e Fernanda de Freitas.

Desentendimento nos bastidores

Como toda novela muito longa, alguns desentendimentos de bastidores foram inevitáveis, entre eles, o rompimento da parceria entre autor e diretor, com Wolf Maya alegando atraso na entrega dos capítulos, e a insatisfação de Humberto Martins com a pouca importância de seu personagem na trama. O ator acabou ficando meses fora do folhetim e voltou apenas nos capítulos finais.

O final de “Kubanacan”, inclusive, é um dos mais controversos da carreira de Carlos Lombardi. Por trás de toda a trama sobre ditadura existia uma ousada história de ficção científica. Esteban, na verdade, se chama León e fez uma viagem no tempo para salvar Kubanacan de um ataque atômico. “A novela nunca foi reprisada e acabou virando cult com o tempo. Até hoje, as pessoas criam especulações e falam comigo sobre esse lado mais científico da trama. Usei minha liberdade como autor para fechar a história com complexidade e ousadia”, gaba-se Carlos Lombardi.

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