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Guaia

Marcelo Jeneci lança terceiro álbum da carreira

Com novo álbum, Marcelo dá mais um passo na consolidação de sua trajetória como voz instigante da música contemporânea nacional

Por Agência Estado

22 de julho de 2019, às 07h30 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h24

Foram seis anos de espera, mas ela acabou: nesta segunda-feira, o cantor, compositor e músico Marcelo Jeneci lança o terceiro álbum de sua carreira, Guaia, e dá mais um passo na consolidação de sua trajetória como voz instigante da música contemporânea nacional.

Com um time de parceiros que inclui Arnaldo Antunes, Chico César e José Miguel Wisnik, a produção apurada de Pedro Bernardes e Lux Ferreira e a mixagem de Mario Caldato, o disco tem nove faixas que viajam entre ritmos nordestinos e texturas eletrônicas e que, segundo o músico, exploram uma reconexão com suas próprias origens.

Foto: Facebook / Reprodução
Com novo álbum, Marcelo dá mais um passo na consolidação de sua trajetória como voz instigante da música contemporânea nacional

Os primeiros shows já estão marcados: 2 de agosto no Sesc Palladium, em Belo Horizonte; 3 e 4 de agosto, no Sesc Pompeia, em São Paulo, e 13 de setembro no Sesc Sorocaba.

Desde De Graça (2013) – disco que lhe rendeu o prêmio de melhor compositor da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e teve uma indicação para o Grammy Latino -, Jeneci se mudou da zona oeste de São Paulo para o Rio, no Alto da Boa Vista, próximo à Floresta da Tijuca, onde vive, casado. Ele nasceu, porém, em Guaianases, na zona leste da capital paulista – de onde vem o título do novo álbum.

“Mudei para o Rio e isso foi um fenômeno na minha vida, porque saí do urbano e fui para o meio da Floresta da Tijuca”, conta, reflexivo, numa entrevista em um apartamento alugado temporariamente no Copan, em São Paulo, para o processo de divulgação do novo trabalho.

“Ali, fiquei bastante isolado e o tempo todo sendo colocado frente a frente com a densidade da minha própria natureza. No começo, estranhei, porque achei que com aquelas paisagens e mirantes eu pegaria meu violão e sairia compondo. Mas foi o contrário. Fui me desabitando para uma transformação, que é o grande assunto de Aí Sim (a primeira faixa divulgada). Cheguei lá já precisando começar a construir um novo disco, mas não encontrei um ponto de equilíbrio. Foi um processo que tive de entender e respeitar.”

Pouco a pouco, porém, o músico observou as mudanças na música contemporânea em geral e suas canções foram ganhando corpo. “A expressão muda com o tempo, daqui a pouco já são outras buscas estéticas que estão no ar. Fui vendo de longe e fiquei lá com meu piano na sala, me devolvendo pouco a pouco para mim mesmo, naturalmente. Nada disso foi pensado, mas foi vivido de maneira muito profunda.”

Na intenção de “traduzir sua história em um novo território sônico”, Jeneci convocou o produtor e músico Pedro Bernardes – à dupla se juntou mais tarde Lux Ferreira, também produtor. O trio ergueu o disco a partir de bases sonoras diversas que construíram um caminho particular, e Jeneci compara o processo a adubar e regar uma muda, e então passar a cuidar dela.

“A minha preocupação está em ter força sonora”, explica.”Prezo muito pela excelência. Não digo que a alcanço, mas olho muito para ela. Aprendi muito nesse disco: lidar com o desconhecido na hora da criação, e não só com a arte de controlar a arte. Porque fazer música, até certa medida, tem a ver com fazer um produto. É o que aconteceu no show biz. Mas aprendi muito com o Pedro a não se colocar à frente da coisa toda, num sentido filosófico. Comecei a criar menos expectativa da resposta do mundo, e dar mais energia para minha entrega, minha presença, e com ajuda de outras pessoas, lançar o trabalho.”

Ele conta como o processo do trio – diferentemente do que seria com uma banda no estúdio, por exemplo – apresentou resultados inusitados, como na faixa Redenção, que une “canto gregoriano, bateria de frevo e guitarra Enio Morricone”, nas suas palavras. “Não daria tempo de fazer isso se fosse apenas com um dia e com banda. Porque é processual. E isso brota, e aí você não pensa em mais nada, a não ser fazer aquilo vingar no seu território potente.”

A primeira faixa do disco, porém, partiu de uma necessidade particular de falar sobre o planeta. Os primeiros sons que se ouvem em Emergencial são as notas suaves de um canto indígena – executado pela cantora Ikashawhu, da tribo iauanauá.

“A narrativa da minha canção é como se fosse o planeta Terra em primeira pessoa”, explica Jeneci. “Mas questionei: qual é a voz do planeta além da natureza? São os índios, os guardiães do mundo. E mais do que isso: um canto feminino. Os iauanauás têm um canto suave. A ideia era que viesse um sopro de uma voz feminina. Ela canta ali sobre uma arara vermelha que teve sua terra usurpada e não pode voltar.”

É o “abre caminho” do disco – que ainda explora sons do baião, do frevo, das bandas de pífanos de Caruaru sem esquecer dos contornos pop. Um disco, enfim, de Marcelo Jeneci.

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