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Arte Daqui

Conheça Marina Mathey, americanense que conquistou o maior prêmio do teatro musical brasileiro

A atriz travesti trilhou um longo caminho e viveu recomeços para alcançar o feito

Por Redação

09 de junho de 2024, às 08h41

O Prêmio Bibi Ferreira é considerado a mais importante premiação do teatro musical brasileiro, consagrando peças e atores como os melhores daquela temporada. Em 2022, uma americanense fez história no evento, levou o nome de Americana aos holofotes e se tornou a primeira travesti consagrada com o prêmio. O nome dela é Marina Mathey.

A atriz foi a vencedora da categoria “Melhor Atriz Coadjuvante em Musicais” pelo papel como Cinthia Minelli na peça “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”. Antes de chegar no “estrelato”, Mathey precisou trilhar um longo caminho de recomeços.

Marina Mathey transita pelas vertentes artísticas, é atriz, roteirista, diretora e cantora – Foto: Ligia Jardim

Marina conta que sempre gostou de estar envolvida com as mais diversas linguagens da arte. Foi aos 12 anos que compreendeu que poderia e queria levar seu dom artístico para o lado profissional.

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A atriz “apostou” inicialmente na carreira de modelo para publicidade. Fez algumas fotos com Juarez Godoy, que a aconselhou a cursar aulas de teatro para que o objetivo fosse alcançado. 

Marina então iniciou seu aprendizado no Teatro Fábrica das Artes, na Vila Rehder. “Logo de início eu já entendi que era aquilo que eu queria fazer”, contou. 

Ela ficou na turma juvenil de teatro por dois anos até que sentiu que poderia se desenvolver mais, o que só aconteceria se fosse para a turma adulto, onde esteve pelo mesmo período de tempo. 

Aos 16 deu início a um curso profissionalizante da área, desta vez em São Paulo. Marina ia toda sexta-feira para a capital e passava o sábado fazendo um intensivo para, no fim do dia, retornar a Americana. 

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“Certo dia um tio meu falou ‘por que você não vem morar em São Paulo?’”, lembra. Depois de muita análise com a família, perceberam que seria a melhor opção para a carreira da atriz. Os pais a emanciparam e ela começou a trilhar um novo caminho.

Por lá, o curso feito durante um dia passou a ser realizado em quatro. Em seguida, engatou mais aulas na então escola Beto Silveira e, na idade de faculdade, passou na EAD (Escola de Arte Dramática), da USP (Universidade de São Paulo).

Os trabalhos começaram a surgir. Marina fez um musical infantil em 2012, trabalhou em produção, realizou peças, participou de algumas campanhas publicitárias e teve a oportunidade de fazer “Um Bonde Chamado Desejo”, do dramaturgo Tennessee Williams.

Sua percepção de gênero se deu em 2016, uma época em que a representatividade transgênero na cena artística estava começando a ser discutida. Marina Mathey, que até então era requisitada nos palcos de teatro, precisou de um novo recomeço na carreira.

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“Já vinha construindo, estabelecendo algum caminho na minha carreira. Só que quando eu me percebo travesti e manifesto isso para o mundo, tudo meio que cai por terra”, conta.

Marina aponta que a oportunidade para transgêneros e travestis é mais escassa, porque não conseguem enxergar a pluralidade neles. “É como se a gente só pudesse interpretar nós mesmas”.

A atriz, no entanto, encontrou um caminho no audiovisual. Ela conseguiu um papel para a segunda temporada da primeira série brasileira da Netflix, a “3%”. Depois, realizou diversos trabalhos na área, na qual atua até hoje. Marina está com duas produções em andamento em 2024.

O retorno aos palcos dos teatros aconteceu com o musical que a premiou no Bibi Ferreira. Era início de 2021, segundo ano de pandemia, e Marina viu que as audições para o espetáculo estavam abertas. 

A montagem apresentava a história da considerada “anjo da guarda das travestis”, uma travesti paulistana ativista da causa LGBTQIA+, que brigava pelo respeito, dignidade e prevenção contra AIDS nas décadas de 1980 e 1990.

“Pensei ‘estão convocando travestis para fazer um musical sobre ela. Eu sei cantar, dançar e interpretar. Eu tenho que fazer esse musical”. E assim foi. Marina fez a montagem audiovisual e depois, no pós-pandemia, subiu aos palcos para apresentar Cinthia Minelli ao público. 

A atriz principal, a travesti Verónica Valenttino, venceu o Bibi Ferreira no mesmo ano na categoria “Revelação em Musicais”.

“A gente está começando a conquistar essas outras possibilidades com mais frequência. E a Cinthia foi uma dessas possibilidades”, avalia. Ela conta que a conquista está para além do trabalho árduo como atriz, mas também da oportunidade que recebeu.

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“Se não nos dessem personagens bem escritas, com poder, complexas, interessantes e profundas, a gente não teria tido a oportunidade de mostrar a profundidade do nosso trabalho. E não mostrando, também não teria a oportunidade de ganhar prêmios e o reconhecimento que a gente ganhou”.

Arte Daqui

“Arte Daqui” é uma série de reportagens do Caderno L, que no primeiro domingo de cada mês apresenta personalidades que fomentam a cultura das cidades da RPT (Região do Polo Têxtil). Nesta edição, a publicação está sendo veiculada excepcionalmente no segundo domingo no mês de junho.

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