Saúde em Pauta
Vacina antidrogas
O paciente com dependência química tem uma convicção: "doutor, quando quiser, eu paro"
Por Paulo Renato Monteiro da Silva
23 de julho de 2023, às 18h04 • Última atualização em 23 de julho de 2023, às 18h11
Link da matéria: https://liberal.com.br/colunas-e-blogs/vacina-antidrogas/
O paciente com dependência química tem uma convicção que pode ser traduzida com a seguinte frase: “Doutor, quando quiser, eu paro.”
Mas as coisas não são tão fáceis assim, já que a dependência química é uma doença do cérebro. Mas bem que isso poderia ser verdade, ou seja, a solução poderia estar dentro da gente.
Nosso organismo tem várias maneiras de nos defender e uma dessas formas está no nosso cérebro, que funciona como um escudo, é uma linha de defesa chamada “barreira hematoencefálica”.
Essa proteção, é formada por um conjunto de células que ficam em volta das artérias e veias do nosso cérebro, não permitindo que bactérias, vírus e substâncias nocivas entrem.
Mas as drogas conseguem passar essa barreira, devido ao fato de serem muito pequenas, conseguindo entrar e bagunçar nosso cérebro. E o que poderíamos fazer para tentar deter essa entrada? Será que nosso sistema imunológico não poderia nos ajudar nesse sentido?
Investigadores nos Estados Unidos perceberam que alguns dependentes acabavam produzindo uma resposta contra a própria droga. É como se o sistema imune deles dissesse: “Chega, pare, não precisa de mais de drogas”.
Pensando nisso, dr. Frederico Garcia, professor do Departamento de Psiquiatria da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), com muita dedicação e trabalho árduo, conseguiu chegar a duas moléculas que conseguem se ligar à droga, não permitindo que ela passe pela proteção do cérebro e, portanto, sem gerar os efeitos nocivos tão conhecidos.
Em estudos feitos com ratos, se observou que, quando os animais são vacinados, a droga não consegue entrar no cérebro, ficando concentrada no sangue e dessa forma podendo ser eliminada pelo corpo.
Nos estudos comparativos, observa-se que esses ratos que receberam a vacina e depois foram expostos às drogas, não tiveram seu comportamento alterado, é como se não sofressem os efeitos nocivos do entorpecente.
Essa vacina antidrogas abre um horizonte de oportunidade para essas pessoas com dependência química e esperamos que, muito em breve, poderão de fato dizer se querem ou não parar de usar drogas.
Paulo Renato Monteiro da Silva
Médico alergologista e imunologista
alergiaseculo21@gmail.com
O médico Paulo Renato Monteiro da Silva, especialista em alergologia e imunologia, fala sobre temas da saúde em alta e sobre como manter hábitos saudáveis