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Pelas Páginas da Literatura

Resenha: “Quando os pássaros voltarem”, de Fernando Aramburu

Lançamento da editora Intrínseca conta história de professor de filosofia que decide se suicidar

Por Marina Zanaki

11 de fevereiro de 2023, às 11h36

Aos 54 anos, Toni não tem mais expectativas. Professor de filosofia no ensino médio, divorciado, sem conseguir ter uma relação próxima com o filho e com poucos amigos, pensa em cometer suicídio. Ele estabelece a data da própria morte – para dali exatamente um ano – e o momento limite para tomar a decisão – quando os andorinhões, pássaros migratórios, retornarem.

Essa é a sinopse de “Quando os pássaros voltarem”, do basco Fernando Aramburu, autor do aclamado romance “Pátria”. A princípio, pode parecer que o lançamento da editora Intrínseca é um livro com lições de vida, mas vai muito além disso.

O primeiro choque é entender que o protagonista, diferente do que o material de divulgação afirma, não é “espirituoso”. Toni é um homem misógino, que, entre outras coisas, se vangloria de nunca ter agredido a esposa, apesar de já ter sentido vontade várias vezes e ter fantasiado sobre esfaqueá-la. Essa é apenas uma das muitas confissões torpes que Toni faz no diário que escreve toda noite.

No começo do livro, queria que Toni encontrasse um novo sentido para sua existência. Contudo, conforme ele vai revelando sua história de vida, não consegui torcer por ele. Toni machuca as pessoas que o amam, sabota suas relações e é extremamente egoísta.

Cheguei ao fim das mais de 500 páginas desprezando o protagonista. Fernando Aramburu nos faz odiar o protagonista para, ao fim da jornada, transmitir o estado deprimido de Toni de forma tão violenta que cheguei a sonhar com o livro e tive dificuldade em terminá-lo. Fiquei marcada por uma frase em que Toni diz que o fracasso de sua tentativa de formar uma família o devastou. Mesmo sem admitir, a culpa foi disso, em grande parte, dele. O que não impede que ele seja dilacerado.

No direito penal, existe o perdão judicial nos casos em que, ao cometer um crime, o resultado é mais terrível para o criminoso que qualquer pena. Ao final da obra, Toni encontra uma espécie de redenção que é como um perdão judicial por sua vida cheia de erros. “Quando os pássaros voltarem” é um livro difícil de engolir, e grandioso justamente por isso.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.