19 de maio de 2024 Atualizado 18:43

Notícias em Americana e região

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Pelas Páginas da Literatura

Resenha: ‘A falência’, de Júlia Lopes de Almeida

Jornalista e escritora, Júlia Lopes foi a autora mais publicada durante o período da Primeira República

Por Marina Zanaki

13 de maio de 2023, às 10h14 • Última atualização em 13 de maio de 2023, às 10h15

Diferente de seus colegas escritores contemporâneos, como Aluízio Azevedo e Lima Barreto, Júlia Lopes de Almeida foi excluída do cânone literário brasileiro. Esse esquecimento não é à toa, e é sintomático da continuidade do machismo estrutural que ela já denunciava no início do século XX.

Carioca, ela cresceu na cidade de Campinas e teve acesso a uma educação muito melhor do que as outras mulheres de sua época. Jornalista e escritora, foi a autora mais publicada durante o período da Primeira República, com sucesso de crítica e de vendas. Ela foi uma das idealizadoras da ABL (Academia Brasileira de Letras). Contudo, seu nome foi excluído do quadro de fundadores pois o estatuto não previa mulheres na Academia. Por tudo isso, e pela qualidade indiscutível de sua obra, a escritora deve ser resgatada, celebrada e, claro, lida.

“A falência”, que é leitura obrigatória do vestibular da Unicamp e está em domínio público, conta a história da família Teodoro na capital fluminense em 1891. Francisco se orgulha de ter saído da pobreza, construído fortuna e por poder proporcionar à família uma vida de abundância. Mas a fachada de perfeição burguesa esconde transgressões e hipocrisias.

Enquanto cultua a própria riqueza, Francisco não percebe que a esposa Camila está tendo um caso. A autora parte desse conflito para tratar de uma rica seleção de temas, como abolicionismo, educação feminina, violência doméstica e o surgimento de favelas.

Apesar de claramente ser abolicionista, o livro peca na linguagem com que caracteriza negros, que chega a ser pejorativa ao tentar ser naturalista. Esta é minha única crítica à obra, e me faz pensar que nesse aspecto a escrita dela não envelheceu tão bem.

Por outro lado, me agradou muito que, diferente de outros clássicos que trazem a figura da adúltera, como “Ana Karenina” e “Madame Bovary”, a personagem Camila não é castigada com pena de morte pela autora. Pelo contrário, os sofrimentos que ela passa vão levá-la em uma jornada de desenvolvimento pessoal e redenção. Após essa recomendação, a coluna terá uma pausa nas próximas semanas.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.