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Cotidiano & Existência

Quanto vale uma mulher?

Por Gisela Breno

28 de março de 2024, às 10h10 • Última atualização em 28 de março de 2024, às 10h59

Na liberdade concedida a Daniel Alves, após seu ato hediondo, ecoa a terrível mensagem de que a vida de uma mulher vale pouco.

A Justiça, que deveria ser o bastião da proteção das vítimas, vacila diante do peso do poder e dos privilégios.

O preço pago pela liberdade de um estuprador milionário demonstra que o sofrimento e a dor infligidos a uma mulher podem ser quantificados e negociados. É chocante e inadmissível que, para alguns, o dinheiro pode comprar impunidade, mesmo diante de crimes tão cruéis.

Enquanto Daniel Alves respira o ar da liberdade, há mulheres que carregam cicatrizes emocionais e físicas para o resto de suas vidas. Mulheres cujas vozes foram silenciadas pela brutalidade dos atos de um homem, que agora caminha livremente entre nós sobre o chão desse sistema judicial que se curva diante da impunidade.

A Justiça comete um erro brutal quando a liberdade de um estuprador vale mais do que o sofrimento, traumas e dores das vítimas.

Cada centavo pago pela sua fiança é um insulto à coragem daquelas que sobreviveram à violência sexual: a soltura de um estuprador condenado não apenas desmerece a dor das vítimas, mas perpetua a cultura de impunidade que alimenta o ciclo de violência contra as mulheres e alimenta em nós a percepção de que a Justiça não é cega, e sim, cara.

É hora de questionarmos não apenas as decisões judiciais, mas também os valores morais e éticos de uma sociedade, que praticamente se cala diante de tamanha injustiça, ou engrossa os argumentos de defesa do criminoso.

É hora de exigirmos um sistema de Justiça, que verdadeiramente proteja e valorize as vítimas, em vez de privilegiar os perpetradores. É hora de dizer em alto e bom som que uma mulher não pode ser quantificada, que sua dignidade não pode ser comprada, para que possamos viver em um mundo onde a vida e a dignidade sejam sagradas e inegociáveis.

PS: me recuso a discorrer sobre as mulheres que duvidam da versão da vítima.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.