Alessandra Olivato
Pontuador eleitoral
A tarefa de escolher em quem votar é desafiadora perante a infinidade de candidatos e legendas partidárias
Por Alessandra Olivato
28 de setembro de 2022, às 07h04
Link da matéria: https://liberal.com.br/colunas-e-blogs/pontuador-eleitoral/
Estamos à véspera das eleições. A tarefa de escolher em quem votar é desafiadora perante a infinidade de candidatos e legendas partidárias e a quantidade de informações que muitas vezes mais pretende manipular a opinião pública do que esclarecer. Como então votar de maneira o mais consciente possível?
Em primeiro lugar, como eleitores deveríamos ter algumas competências, como saber as ideias do candidato se identificam com as nossas. Parece óbvio mas não é. Outras capacidades desejáveis: ter alguma noção sobre os temas que nos interessam, saber a ideologia política do candidato e o que isso significa, dar igual importância ao voto para deputados e para governador e presidente – e saber a diferença entre cargos legislativos e executivos e, não menos, saber “ouvir”, isto é, ter o mínimo de discernimento para decifrar os discursos políticos, uma vez que muita coisa não é dita diretamente e sim entrelinhas ou simplesmente ocultada (na verdade, isso vale para a vida). Como boa camarada, criei um “pontuador eleitoral” de zero a dez para ajudar a avaliar as promessas que ouviremos – não sei porquê, tenho forte intuição de que serão essas:
“Nosso governo vai investir em saúde/ educação/ segurança etc”: Frase mais generalista possível, repetida milhões de vezes desde tempos imemoriais, sem dizer o quanto será investido, como e o que será feito, não esclarecendo absolutamente nada. Nota zero;
“Finalmente vamos colocar o Brasil no caminho”, “O Brasil no rumo certo”: Também repetida milhares de vezes sem nem ao menos dizer que rumo certo é esse. Se eu fosse marqueteira política proibiria o candidato de dizer tais insanidades, já virou vergonha alheia. Podem dar a mesma nota para frases como “Nossa cidade será líder na região” ou afins: zero;
“Vamos criar xxx empregos”: Como, criatura? Como isso será feito dada nossa baixa escolaridade, falta de mão de obra qualificada e falhas de infraestrutura que inviabilizam a geração de empregos? Além disso, como os pretensos novos milhões de empregos seriam mantidos ao longo do tempo? Proposta vazia, nota zero;
“Criaremos a bolsa x, bolsa y, bolsa não sei que”, ou “Vamos elevar o salário mínimo para tanto”: Essas frases sim têm significado, que são: cuidado, alerta, atenção! Que impacto terá nas contas públicas, onde se pretende chegar e o que se pretende resolver com tais bolsas? Quais os retornos a médio e longo prazo e quais problemas estruturais serão resolvidos? Para cada questão não explicada, zero de novo;
“Fulano foi o pior presidente de todos”, “Estamos na maior crise da história”: só pode indicar loucura ou falta de criatividade ou dinheiro pra contratar um marqueteiro melhor. Pode ser também falta de vergonha na cara. Zero.
Se tivermos muita sorte pode ser que ouçamos algo como: “Uma de nossas prioridades será a área x. Para isso, investiremos tantos % do orçamento que serão aplicados desse e daquele jeito, para o qual contrataremos os melhores técnicos sobre o assunto, além de nos basearmos nos tais e tais estudos nacionais e internacionais, corrigindo os erros x e y do passado etc etc. Com isso pretendemos alcançar tais e tais resultados. Mas, não prometemos totalmente pois há fatores que podem impedir o alcance dos objetivos.” Proposta com embasamento, que demonstra alguma dedicação e certa humildade. Pode alcançar alguma nota, talvez até chegando a um 6 ou 7.
Brincadeiras à parte, o pontuador eleitoral pode esclarecer as últimas dúvidas. Preste atenção a tudo o que foi dito. Temos menos de uma semana para escolher quem atuará no poder legislativo do próximo período e quem poderá governar o Estado e o país. Estejamos fartos ou não da política, muita coisa depende dela. Que possamos estar o mais ciente possível de que nossas escolhas terão consequências.
Mestre em Sociologia, Alessandra Olivato aborda filosofias do cotidiano a partir de temas como política, gênero, espiritualidade, eventos da cidade e do País.