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O lado privado da polarização pública

Por Fábio Ortolano

01 de outubro de 2020, às 09h21

A polarização pode ser uma forma de racionalizar a realidade e os fatos, uma maneira em que diferenciamos opiniões, posicionamentos políticos e projetos de sociedade. É relevante para definirmos o que acreditamos, demarcarmos a justiça e compararmos o que é diferente e antagônico. Contudo, quando levada ao extremo, se torna limitadora, visto que as realidades e sociedades são complexas.

A maior consequência da polarização é o reducionismo, muitas vezes naturalizando, cristalizando e essencializando algumas realidades, coisas e pessoas por meio de processos cognitivos como a generalização e a discriminação. Desse modo, deixamos de lado o pensamento complexo, uma leitura holística, e passamos agir e interpretar pelas emoções, estigmas e preconceitos. Entretanto, tudo há vários lados e muitas partes, conhecidas ou não, sejamos conscientes ou não. E quando agimos apenas pelas emoções nos tornamos alvos de manobra.

A polarização extrema nos leva à alienação, coopta nossa consciência política e nos mantém inertes a apatia ou agressividade desmedida. Torna-se campo fértil para tutela e servidão. Além disso, a polarização extrema pode levar ao maniqueísmo leviano, gerando tensão, raiva, medo e, assim, se tornando paralisante para os indivíduos e coletivos.

Na polarização extrema nos fechamos para o diálogo e empatia, produzimos um ambiente hostil. Com efeito, observa-se a destruição da ética, um estado de atenção em que se colocam em cena diferentes morais, o dissenso e o espírito democrático. Tudo isso desvia nosso foco de atenção daquilo que realmente deveríamos lutar contra: a violência, o terrorismo, o fascismo, a fome, a tortura, o latifúndio, o desmatamento, a destruição da dignidade da pessoa humana etc.

Fábio Ortolano
Professor e pesquisador no campo da Psicologia Política e Multiculturalismo

Colaboração

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