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Histórias do Coração

Helena e Gabriel – parte 2

Junto com o fim, há também o fim dos sonhos que foram feitos com a outra pessoa

Por Carla Moro

19 de dezembro de 2021, às 10h11 • Última atualização em 19 de dezembro de 2021, às 10h12

Março de 2019

Na semana passada, comecei a contar a história da Helena e do Gabriel. Por um pedido dela, falamos primeiro do meio. Geralmente, o meio dos relatos traz as coisas como elas eram. Os começos costumam carregar a expectativa do que poderia ser, e os fins, a decepção pelo que nunca aconteceu. A data que aparecia no começo da coluna, abril de 2015, foi o dia em que esse casal deu o primeiro beijo – o início. A data que aparece hoje é o dia da separação.

Conheci a Helena em um terça-feira. Até o último minuto, não sabia se conseguiríamos nos encontrar, tamanha tempestade. Combinamos em um café aqui da cidade. Enquanto eu esperava por ela, eu vi uma libélula. O inseto ia voando entre as poças d’água da calçada, encostando na água rasa da chuva. Pensei que a libélula estava enganada: pousava na poça achando que era um lago. Ela colocava toda a energia do voo esperando pela profundidade do lago, mas só encontrava a água rasa. Quanto tempo ainda até que a libélula percebesse o engano?

Durante os três anos e alguns meses em que esse casal esteve junto, não é possível dizer que a Helena sempre conseguiu ver as coisas como elas realmente eram. E como eram? Muitas vezes, o amor, ou o desejo tão grande por viver o amor, faz com que a gente enxergue as coisas como gostaríamos que elas fossem. Olhamos para a poça d’água, mas vemos o lago. Ela me diz que, desde os primeiros meses, havia certos comportamentos no Gabriel que ela não gostava. Mas o amor é compreensivo, ela pensava. O amor tudo espera e tudo suporta, ela cresceu ouvindo. Não é fácil se livrar daquilo que aprendemos desde criança. Quanto tempo ainda até que ela percebesse o engano?

O grande sonho da Helena era se casar. Os amigos faziam piada com isso, já que, muito antes de conhecer o Gabriel, ela já planejava o casamento. Ela tinha pastas e mais pastas no computador com referências: o vestido, a decoração, os fornecedores, até a música que tocaria na sua entrada na igreja. A Helena emocionava-se imaginando como seria esse momento. Quando o Gabriel chegou, foi como encaixá-lo em um porta-retratos que já estava ali, só esperando para ser ocupado.

Saber ver o fim do amor é sempre mais do que apenas se separar. Junto com o fim, há também o fim dos sonhos que foram feitos com a outra pessoa. São os sonhos que pesam mais. Por três anos e alguns meses, mesmo sabendo que o Gabriel não era a pessoa certa, a Helena tinha medo de abrir mão desses sonhos. Renunciar ao vestido, ao sonho da família, aos próprios desejos, era muita coisa para renunciar de uma vez só. Helena precisou de três anos e onze meses para perceber que o amor do Gabriel, não era amor, era poça rasa.

Os motivos não importam, como também não importa o tempo. Tem gente que acredita no tempo certo e errado das coisas. Eu não. O tempo é apenas tempo, soberano como o amor. Três anos e onze meses foi o tempo da Helena. Em março de 2019, ela olhou e viu o lago, que não era o Gabriel, não era o casamento, era apenas ela mesma. Soberana, como o tempo e o amor.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com