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Histórias do Coração

Helena e Gabriel – parte 1

Por Carla Moro

12 de dezembro de 2021, às 10h50 • Última atualização em 17 de dezembro de 2021, às 15h14

Abril de 2015

A Helena dá início à nossa conversa dizendo que gostaria de começar a sua história pelo meio, porque lhe dói menos que o final e lhe pesa menos que o começo. Achei bonito.

Helena é mulher que não tem vocação para mártir, gosta do que é fácil e rotineiro. “Nunca esperei os grandes gestos, eu queria mesmo o amor de todo dia, sabe? Acordar, fazer café, dar bom dia, dividir a pia na hora de escovar os dentes. Era esse o amor que eu esperava”. Eu concordo com a cabeça. E foi esse amor que a Helena teve, pelo menos no meio dessa história.

Helena e Gabriel moraram juntos por quatro anos. Trabalhavam na mesma empresa, mas em setores diferentes. Foi lá, inclusive, que se conheceram. Mas sobre o começo, eu conto depois. A diferença na rotina deles é que a Helena acordava uma hora antes, o tempo de deixar o café pronto e sair.

Na hora do almoço, Helena descia com as marmitas e o casal almoçava junto no refeitório. Encontravam-se novamente às seis da tarde, quando pegavam o mesmo ônibus para casa. Jantavam na mesa de vidro, presente da mãe dela, aprontavam a marmita do dia seguinte e se preparavam para dormir. Helena dormia uma hora antes, às vezes mais, porque o Gabriel tinha insônia em algumas noites. Nessas noites, a Helena acordava e não via o moço ao seu lado. Levantava assustada e encontrava o Gabriel fumando na cozinha. Por quatro anos, eles repetiram os dias como um ritual, a ordem que garantia a paz. Bem, na verdade, três anos e alguns meses. Antes de completarem quatro anos, a Helena decidiu se separar. Mas, sobre a dor do fim, eu também conto depois.

Embora trabalhassem no mesmo lugar, eles só se conheceram porque uma colega de trabalho insistiu. Essa colega tinha conhecido o Gabriel enquanto fumavam depois do almoço, nos fundos do refeitório. Helena já tinha visto o moço pelos corredores. A colega marcou uma festa em sua casa e convidou os dois. O primeiro beijo aconteceu em abril, no meio da sala ou da cozinha. A Helena não lembra direito porque tinha bebido um pouco mais do que de costume. O peso desse começo não vem da bebedeira, vem do futuro que estava para começar.

Querer muito uma coisa, como querer o amor, muitas vezes nos faz vê-lo onde ele não está. Helena queria tanto o amor de todo dia, que achou que o Gabriel era finalmente quem ela tinha esperado todos os dias até ali.

Conheceram-se em abril, para em outubro morarem juntos. O Gabriel teve alguns problemas com os colegas de apartamento. Ele já ficava na casa da Helena todo dia mesmo, que mal havia se ele se mudasse para lá em definitivo? Em dezembro, como a Helena também morava com amigas, o casal se mudou para a casa onde morariam juntos pelos próximos 3 anos e alguns meses. Nesse tempo, dormiram e acordaram juntos, trabalharam no mesmo lugar, cozinharam juntos, dividiram a pia do banheiro e a lista de compras do supermercado. Todos os dias, juntos. Como a Helena achou que deveria ser. Esse foi o meio, e um pouco do começo, da história dela e do Gabriel. Mas, sobre a dor do fim, eu conto depois.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com