Cotidiano & Existência
Existência
Por Gisela Breno
11 de maio de 2021, às 18h59 • Última atualização em 11 de maio de 2021, às 19h00
Link da matéria: https://liberal.com.br/colunas-e-blogs/existencia/
Semelhantes aos demais seres vivos da natureza, nascemos programados para executar todas as funções vitais. O alimentar, respirar, reproduzir, estão gravados em nossos genes antes mesmo de tomarmos consciência de quem somos, para que e por que viemos a este mundo.
Diferentemente dos outros animais que, sem esforços, desejos, conhecimentos, sem a necessidade de fazer a travessia da natureza para a cultura, sem precisar dar corpo e voz à sua singularidade, nos deparamos com a tarefa infindável de se construir , realizada a partir de nossas percepções.
Nosso mundo é o resultado de nossa visão de mundo.
Desfocada está minha visão quando vê o Cosmo apenas como massa nebulosa. Unidimensional é o meu olhar quando enxergo o ser humano somente como um amontoado de átomos, moléculas, células, tecidos, sistemas, inseridos num corpo apto a executar determinadas funções.
Microscópico é o meu viver quando não compreendo que o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico, partejado e tecido no Cosmo e por isso ligado a tudo e a todos.
E porque o Homo sapiens é o único ser vivo que tem, como companheira em sua aventura pelo Universo, a consciência de sua finitude, que por muitas vezes dilacera sua alma, provoca dores latejantes nos ossos, nas vísceras e lamentos que são fraturas expostas, chagas na carne; e porque é o único ente portador de capacidades e potencial para intervir e interferir não somente no próprio habitat, mas nos destinos do Universo, é mister que, enxergando suas raízes cósmicas, identificando-se com os dramas das criaturas de todos os tempos, brotem de sua existência forças geradoras de compreensão, de acolhimento, de partilha, de solidariedade, de ternura, nestes tempos em que a supremacia do mercado globalizado, a arrogância do individualismo, o desdém pelas forças da Natureza, a racionalidade técnica, a lógica do consumo exacerbado, geraram um imenso vazio ético e esfacelaram a constelação das mais belas motivações que dão sentido a sua vida e a dos demais companheiros dessa bela e árdua jornada por esse Planeta tão espoliado.
Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.