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Cotidiano & Existência

Acalento

Empoleirado num dos coqueiros do meu jardim, um pássaro oferece além da beleza um canto que aquieta minha alma

Por Gisela Breno

30 de junho de 2020, às 10h08

Não sei há quanto tempo ele me espreita pela janela da cozinha. Desde que meu companheiro de vida se foi, um pouco antes do isolamento social , pela manhã, quando descerro a mente para enfrentar (sim é esse o verbo) o dia a dia ainda mais pesado por conta da pandemia, noto esse pequeno pássaro me olhando ternamente.

Empoleirado num dos coqueiros do meu jardim, oferece além da beleza um canto que aquieta minha alma.

Das aulas do ilustre Dr. Jacques Vielliard, guardo na memória as funções, as características, a importância do canto para os pássaros.

Mas para mim esse bem-te-vi que me encanta também pela faixinha branca na cabeça, feito sobrancelha, é um enviado dos Céus, um sopro para secar as lágrimas que sempre vertem dos meus olhos.

Apesar do pequeno tamanho e aparente fragilidade, o bem-te-vi é bastante territorialista e agressivo em determinados períodos de sua vida.

Por isso meu coração sabe que ele , como guardião, vem pra me proteger nessas horas de desamparo e vulnerabilidade da minha existência.

Também acredito, como tantas pessoas, mesmo que a ciência não comprove, que ele é uma ave anunciadora de chuvas. Então esculpo palavras como paz, esperança, alento,em porçõezinhas imaginárias de banana, maçã, mamão, para que ele as leve diretamente aos rios, que terão parte de suas águas evaporadas e cairão como chuva mansa para nutrir corações ávidos de esperança como o meu.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.