Saúde em Pauta
A tal da coceira
Quando nos coçamos, a ação das unhas na pele causa um leve sinal de dor que se sobrepõe à sensação de coceira. É como um tipo de distração, que dá uma sensação de alívio
Por Paulo Renato Monteiro da Silva
12 de novembro de 2023, às 09h50
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Todos passamos, diariamente, pela experiência de alguma coceira, geralmente de pequena intensidade e curta duração e, às vezes, irritante. Você já se perguntou por que ela existe?
As pessoas comuns sentem dúzias de coceiras diferentes por dia. Elas podem ser desencadeadas por diversos fatores, como pele ressecada, alergias e até algumas doenças. Também existem as coceiras misteriosas que aparecem sem qualquer motivo, e, às vezes, a simples menção da palavra “coceira”, já a desencadeia.
Vamos falar sobre uma das causas mais comuns: picadas de insetos.
Quando um mosquito te pica, ele injeta um produto químico no seu corpo, um anticoagulante, que dificulta a coagulação do sangue, e esse componente estimula a liberação de histamina, substância essa que faz nossos capilares incharem, e com isso o fluxo sanguíneo, na região da picada, aumenta, extravasando líquido, o que explica o inchaço.
Esse é o mesmo motivo pelo qual os ácaros podem fazer você espirrar, seu nariz escorrer e seus olhos lacrimejarem.
A tal da histamina também estimula os nervos responsáveis pela coceira, motivo esse que faz com que qualquer situação que leve à liberação desse produto venha desencadear a tal da coceira.
A sensação de coceira ainda não é completamente compreendida e quase tudo que sabemos, vem de estudos realizados em laboratórios, com cobaias (ratos). Os cientistas descobriram que sinais de coceira na pele do rato são transmitidos por uma subclasse dos nervos, que é associada à dor. Esses nervos produzem uma substância chamada polipeptídeo natriurético tipo B, que desencadeia um sinal que viaja da medula espinhal até o cérebro, onde então cria a sensação de coceira.
Quando nos coçamos, a ação das unhas na pele causa um leve sinal de dor que se sobrepõe à sensação de coceira. É como um tipo de distração, que dá uma sensação de alívio.
Mas qual a razão de a coceira existir? Será que tem alguma finalidade apenas ou é apenas para nos irritar?
A principal teoria é que a pele evoluiu tornando-se muito sensível ao toque, para que possamos lidar com os riscos do mundo externo.
A resposta à coceira seria uma forma de afastar qualquer coisa prejudicial que esteja presente em nossa pele, como um pernilongo, substâncias químicas, planta urticantes etc.
Em algumas pessoas, falhas no processo responsável por tudo isso resultam em coceira excessiva, como um distúrbio psicológico chamado parasitose delirante, em que a pessoa acredita que seu corpo está infestado de pulgas ou ácaros, correndo por cima e por baixo da pele, o que a leva a se coçar incessantemente.
Outra situação, conhecida como coceira fantasma, pode ocorrer em pacientes amputados. A coceira pode ser tão discreta a ponto de ser descrita como “coceira boa”, porém pode ser praticamente insuportável. Para esses casos temos uma série de medicamentos, como os que bloqueiam a ação da histamina, os chamados anti-histamínicos (conhecidos como antialérgicos), e outros tipos, utilizados de acordo com cada situação.
O médico Paulo Renato Monteiro da Silva, especialista em alergologia e imunologia, fala sobre temas da saúde em alta e sobre como manter hábitos saudáveis