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A infantilização da política

A política contemporânea vive uma crise de infantilização preocupante

Por Raphael Pires do Amaral

10 de setembro de 2024, às 21h55

A política contemporânea vive uma crise de infantilização preocupante. Ao observarmos o cenário atual não é difícil perceber que os debates políticos se assemelham cada vez mais a um recreio desordenado de um jardim de infância, onde as discussões são marcadas por birras, agressões e ausência de qualquer maturidade argumentativa. A falta de lideranças referenciais que ofereçam caminhos de reflexão e moderação contribui para esse esvaziamento da política, tornando o ambiente público uma arena de irracionalidades e hostilidades rasas.

Com o surgimento das redes sociais e sua lógica de velocidade e superficialidade, esse processo ganhou contornos ainda mais dramáticos. No vaivém frenético dessas plataformas, dominadas por algoritmos que priorizam a imagem, o sensacionalismo e a instantaneidade da informação, vivemos um cenário de desinformação coletiva. O formato recortado e fragmentado das redes transforma a ignorância social em um método eficaz de manipulação e dominação política. A verdade é distorcida e o debate público se reduz a ofensas pessoais e polarizações vazias.

Nesse ambiente surgem políticos extremistas, que, por arrogância e intransigência, impedem qualquer forma de diálogo construtivo. A capacidade de se sentar à mesa e discutir racionalmente ideias opostas é substituída por um discurso político agressivo, que apenas consegue levar o nada a lugar nenhum. São políticos que, ao invés de propor soluções, preferem promover o conflito como método de sobrevivência eleitoral.

O resultado disso é a transformação do debate público em uma arena de irracionalidade. A ausência de uma capacidade argumentativa crítica e inteligente, que expõe de forma clara e pedagógica os temas de interesse coletivo, gera uma política que se baseia em agressões vazias, sem qualquer profundidade. No lugar de discussões que promovam o entendimento temos a exacerbação de discursos de ódio e hostilidades, que apenas alimentam extremos e impedem a condução da sociedade a avanços reais.

A política, em sua essência, deveria ser um espaço de diálogo maduro entre adultos, onde as diferenças são discutidas com respeito e racionalidade. Infelizmente, o que vemos hoje é o contrário: crianças grandes, incapazes de conviver entre si, berrando e brigando em praça pública. Se não retomarmos a seriedade do diálogo político, corremos o risco de retroceder não apenas democraticamente, mas também civilizacionalmente.

Precisamos urgentemente de adultos na política, capazes de conviver com a diversidade e de dialogar racionalmente, para que possamos superar os desafios que estão à nossa frente. Os sinais de retrocesso são evidentes e preocupantes. Não podemos mais continuar nesse modo infantil, onde a irracionalidade, a birra e a briga pelo poder a qualquer custo dominam o cenário. É preciso construir uma política de ideias, de propostas concretas, de debates que realmente contribuam para o desenvolvimento econômico e social.

Chegou a hora de deixarmos o recreio e voltarmos a conversar como adultos. Afinal, a política é séria demais para ser deixada nas mãos de crianças que só sabem berrar e brigar. Decididamente, precisamos restaurar o papel da política como um espaço de debate racional e construtivo. Estamos nos comportando como crianças grandes. E crianças grandes, na política, são perigosas. O tempo de brincadeira acabou. Chegou a hora de sermos adultos.

Raphael Pires do Amaral
ADVOGADO ESPECIALISTA EM DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO
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Colaboração

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