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Histórias de Americana

A democracia (ainda) tem gênero

Recentemente, no dia 3 de novembro, foi comemorado o Dia da Instituição do Direito ao Voto da Mulher

Por Gabriela Simonetti Trevisan

13 de novembro de 2022, às 08h13 • Última atualização em 13 de novembro de 2022, às 08h14

Recentemente, no dia 3 de novembro, foi comemorado o Dia da Instituição do Direito ao Voto da Mulher. No atual clima pós-eleitoral em que nos encontramos, vale reforçar que, para as mulheres, esse direito é bastante recente: 90 anos.

Em 24 de fevereiro de 1932, sob governo de Getúlio Vargas, o sufrágio universal foi aprovado, não pela generosidade presidencial, mas pela insistente luta feminista que se insuflava pelo menos desde meados do século XIX. Esse embate se travava especialmente nas páginas de jornais impressos, a grande mídia da época.

Por exemplo, periódicos defensores dos direitos femininos, como A Família, editado pela irreverente Josephina Álvares de Azevedo, clamavam pelo fim da “escravidão da mulher”.

Em Americana, o jornal de circulação à época da aprovação do voto feminino, O Município, não noticiou uma linha sequer sobre a conquista. O periódico publicava textos efervescentes sobre política, como é o caso do debate no mesmo mês de fevereiro de 1932 entre federalismo e unitarismo como modos governamentais em pauta para o País.

Na mesma época, estourava um escândalo sobre o aumento do preço da energia elétrica por conta da equivalência ao valor do dólar. Esta última questão ocupa o jornal até o final de março, sem que os distintos senhores abrissem espaço, nem ao menos em meras notas de rodapé, à divulgação da conquista histórica das mulheres naquele momento.

A situação é sintomática em relação ao cenário conservador da região e do país, uma vez que, em jornais das capitais, por exemplo, a notícia circulou nas manchetes das capas, mas não necessariamente em forma de apoio.

Se a possibilidade do voto foi aprovada há 90 anos para as mulheres, o direito em si só foi usufruído em 1946, após o fim do Estado Novo. E, mais do que isso, a plena igualdade entre homens e mulheres só foi atingida muito recentemente na chamada “Constituição Cidadã”, de 1988, após a ditadura civil-militar brasileira.

Sim, são apenas 34 anos de igualdade entre os gêneros e, talvez por isso, para as mulheres, ainda há uma série de percalços a ultrapassar, como os salários desiguais, a dupla jornada, a violência doméstica e, além de tudo isso, a perpetuação de ideias falaciosas sobre sua suposta inferioridade, muitas vezes presente na fala, inclusive, de representantes públicos.

Hoje, elas ocupam o Congresso, mas ainda são apenas 15% da representação política e, é claro, isso reverbera diretamente na perpetuação de estereótipos de gênero e na deficiência de políticas públicas que sanem a desigualdade. Não esqueçamos que os direitos femininos foram fruto de luta e, em nossa democracia ainda frágil, relembrar essa história é não deixá-los se perderem.

Gabriela Simonetti Trevisan – Membro do grupo Historiadores Independentes de Carioba, dedicado à pesquisa história sobre Americana.

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.