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Cumprindo a promessa de ser ponte

Após abandonar uma carreira brilhante como analista de sistemas, moradora de Santa Bárbara d'Oeste se tornou uma das principais referências da Rede Feminina de Combate ao Câncer

Por Jucimara Lima

08 de agosto de 2022, às 09h09

Carla já foi presidente e hoje atua, entre outras funções, na gestão da Rede - Foto: Marcelo Rocha - Liberal.JPG

A coordenadora local e regional do polo têxtil da campanha McDia Feliz, Carla Eliana Bueno, de 59 anos, é a própria simpatia em pessoa e leva como ninguém a missão que assumiu com a causa há quase 10 anos. Sempre trabalhando muito, ela não esconde a alegria (e a paz) de estar no lugar que escolheu estar.

Em 1997, após descobrir um câncer, a coordenadora lutou bravamente contra a doença, e tendo superado três recidivas, hoje é considerada livre da enfermidade.

Nesse período, Carla recorda-se que já vivia o auge de sua carreira como analista de sistemas e gerente de produtos de um banco de grande porte. “Era um trabalho agitado, em que ficava mais de 10 horas por dia focada, então, quando me curei do câncer, decidi que não queria mais aquilo para mim”, conta.

Nascia assim o desejo de “trabalhar por vidas e não mais por coisas”, como ela faz questão de frisar. “Foi a maneira que encontrei de agradecer a Deus pela cura”.

Em 2012, quando, a convite da sogra Raquel Margato, participou de uma reunião da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Carla finalmente encontrou seu lugar. “Lembro que estava nessa mesma salinha e não tinha nem cadeira para sentar. Dona Zezé Mano [ex-vice-prefeita de Santa Bárbara, falecida em 2020] comentou que precisavam de pessoas mais jovens na causa, para que o projeto não tivesse fim. Na mesma hora, senti um arrepio da cabeça aos pés e falei: é aqui. Quero ser a presidente”, lembra ela, que apesar do apoio familiar, deixou todos perplexos com a decisão de abandonar quase 30 anos de carreira.

Na semana seguinte, pediu demissão, mas só conseguiu o desligamento oficial oito meses depois. “Em determinado momento, fiz uma cartinha, coloquei algumas fotos de crianças, escrevi a frase: ‘onde meu coração não está, eu não existo’. E entreguei para minha superior. Naquele dia, ela concordou em me demitir e pouco tempo depois estava fora do banco”.

Missão em Prática. Em quase dez anos de trabalho na Rede, Carla foi presidente por apenas dois anos. Atualmente, se dedica à coordenação na RPT (Região do Polo Têxtil) do McDia Feliz – que esse ano acontecerá dia 27 de agosto -, a maior campanha do Brasil em arrecadação de fundos para crianças e adolescentes com câncer, coordenada pelo Instituto Ronald McDonald, e para a educação de jovens, coordenada pelo Instituto Ayrton Senna. “Hoje é onde meu coração está”, confessa.

Além disso, ela atua como multiplicadora dos sinais e sintomas do câncer infantil. “Tenho essa responsabilidade ética e pessoal”, afirma.

Nesta primeira década, ela foi ponte para várias conquistas, como tirar a rede de uma salinha e levá-la para a sede própria. “Eu tomei uma decisão, encontrei a porta aberta e trouxe minha experiência de trabalho e gestão”, pontua.

Atualmente, a organização da Rede é uma referência na região em vários setores, como apoio nutricional único que oferece às pessoas com câncer, assim como a fisioterapia para pacientes que ficam debilitados pelas mutilações que sofrem. “O que eu tive eu gostaria que as pessoas tivessem e o que eu não tive, gostaria mais ainda”.

De acordo com a gestora, tudo isso só foi possível graças as parcerias e apoiadores.“Existe toda uma estrutura de gestão por trás disso tudo, então, em dez anos, a Rede mudou muito. Não basta você ter uma causa. É preciso vivenciar a causa, ter mapeado quais são as sequelas e mazelas da doença e assim trazer isso para um mundo de gestão profissional para dizer como, de que forma, com que recurso, com quais profissionais contar, planejar e executar”, explica.

História da Rede. Em 2022 a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Santa Bárbara comemora 50 anos de fundação. Fruto do trabalho da saudosa e memorável Carmem Prudente, a história da organização começou há 70 anos, quando ela, que era esposa de um famoso médico oncologista, percebeu a dificuldade de portadores de câncer conseguirem tratamento.

“Ela viu que o Brasil era grande, então, passou a ir de cidade em cidade buscando mulheres da sociedade para ajudá-la. Assim, essas mulheres iam mapeando as pessoas com câncer de suas regiões e Dona Carmem se encarregava de providenciar o transporte delas para São Paulo. Além disso, ela engajava essas mulheres na arrecadação de materiais como toalhas, produtos de higiene e lençóis. “Dona Carmem foi uma mulher inacreditável e talvez a maior captadora de recursos humanos e financeiros para a causa do câncer, em uma época sem muitos recursos de comunicação”, diz Carla.

Em Santa Bárbara, ela encontrou apoio em Rosinha Wakabara, e juntas criaram a Rede em 16 de junho de 1972. De lá até hoje, foram 23 diretorias, formadas por mulheres que trouxeram a rede aos seus 50 anos de acolhimento.

De acordo com a gestora, quando a idealizadora da Rede faleceu, as organizações se desvincularam e passaram a atuar com estatutos, causas e públicos diferentes. Curiosamente, a Rede barbarense é uma das poucas do Brasil que cuida de todos os sexos e idades.

Assim como Dona Carmem, e outras que seguiram seu exemplo, hoje, Carla segue construindo sua parte na história e sonha um dia poder ver a Rede barbarense se tornando um Centro de Tratamento Integrado com várias especialidades. “Acredito que quando você decide agir, Deus age junto, porém, ele para quando você para, então, não posso correr esse risco, porque se assim fosse, não seria eu”, conclui. 

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