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Adolescente aprendeu Libras para ajudar a comunicação de deficientes com o mundo

Por Jucimara Lima

24 de julho de 2023, às 08h01 • Última atualização em 25 de julho de 2023, às 10h01

Eu te amo”, que é um sinal internacional - Foto: Marcelo Rocha - Liberal

O estudante Murilo Gabriel Piveta Rodrigues, de 14 anos, é um grande garoto, contudo, sua dimensão não tem a ver com a altura (quase 1,90m), nem mesmo com o alto desempenho escolar que o tornou um medalhista em competições de matemática e uma grande promessa barbarense para os próximos anos, independentemente da área profissional que decida trilhar.

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Sua grandeza, na verdade, está na consciência que, mesmo tão jovem, ele já tem sobre seu papel na sociedade. Sabe aquela ideia de ser a diferença que deseja ver? Ele segue a essência e desde os 9 anos ajuda o mundo a se tornar um lugar mais acolhedor, entre outras coisas, por se comunicar através da Libras (Língua Brasileira de Sinais), sem contar nas aulas gratuitas de matemática que oferece aos amigos, ou ao fato de voltar a sua antiga escola para ensinar as crianças a tocarem instrumentos inusitados como a escaleta e a lira, que ele próprio aprendeu sozinho e que hoje compartilha o conhecimento para manter a fanfarra viva.

Primeiros sinais

Segundo o jovem, ele não se recorda ao certo como o interesse pela Libras surgiu, mas acredita que tenha sido após assistir a algum vídeo no YouTube. “Eu ficava assistindo conteúdos relacionados ao tema pela internet, a princípio por curiosidade, contudo, aos 12 anos, de tanto assistir e estudar, acabei ficando fluente”, conta.

Curiosamente, seguindo a tendência de sua geração, apesar de ter participado de alguns cursos, nenhum foi presencial. “Um dos cursos que fiz foi na IBMA (Igreja Batista Memorial de Alphaville) de São Paulo. Lá, tem uma comunidade grande de surdos e foi onde tive meus primeiros contatos”, recorda.

Embora o começo tenha sido aleatório, hoje ele tem consciência da importância do que faz, tanto por ser algo que ele considera escalável, mas essencialmente pelo que cumpre. “Eu acho que é bom ser uma ponte para pessoas, porque ainda é algo que falta muito. Se comunicar é essencial, sem a comunicação não é possível fazer nada, então, imagina como é a vida do deficiente auditivo?”, questiona.

Murilo apresentando o sinal de “mundo” – Foto: Marcelo Rocha – Liberal

Outros interesses

Sobrinho da treinadora da SBAtletismo, Leandra Piveta, Murilo também sempre esteve envolvido com os esportes e apesar de não se dedicar mais ao atletismo, tem alguns marcos na sua história com a Libras, relacionadas a competições, já que a primeira vez que tomou consciência de que realmente conseguia se comunicar na língua foi nos Jogos Regionais de 2019.

“Antigamente era mais raro conversar com surdos, hoje tenho muito mais acesso porque o online possibilita muito, mas no começo era bem diferente. Só descobri que estava realmente fluente quando conversei com uma menina de Itapira, inclusive, foi ela que me deu o sinal, que é como se fosse um nome”, diz.

Segundo o jovem, tradicionalmente quem faz essa espécie de batismo sempre é um deficiente auditivo que convive com o ouvinte e que escolhe o sinal a partir das características físicas ou da personalidade. No caso dele, foi uma pinta que tem no rosto.

Situações curiosas

Veterano das interpretações por Libras, Murilo já participou de eventos do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, de ações da Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana), do Festival Paralímpico, da ONG carioca Smile nos especiais Setembro Amarelo e Campanha de Natal, além de vários eventos na Igreja Batista de São Paulo, assim como todos os conteúdos produzidos para a Associação SBAtletismo.

Um momento especial para ele e para a mãe, Alessandra Piveta Rodrigues, de 39 anos, foi quando o jovem participou de um trabalho que ela fez na época da faculdade. “Foi um trabalho sobre deficientes auditivos e precisávamos de um intérprete. Como mãe, foi bem legal vê-lo participando, me ajudando nessa situação, inclusive, acabei emprestando ele para outros grupos”, diverte-se.

Para ela, apesar do imenso orgulho que sente do filho, o mais importante é que Murilo faça o que gosta. “Tudo que ele faz, a gente incentiva, mas ele é livre, até pela pouca idade dele, não forçamos nada”.

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Confissões de adolescente

Diferente de boa parte dos garotos de sua idade, às vezes a mãe tem até que pedir pra ele parar um pouco de estudar. Extremamente dedicado, Murilo cronometra o próprio tempo livre e costuma contar o tempo líquido que estuda.

“Já cheguei, ao estudar, fazer duas provas da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática), para alunos de Escola Pública, por dia”, afirma. Para ele, essa dedicação é importante por conta do reconhecimento e dos benefícios que participações em olimpíadas podem trazer.

“Para quem é premiado, acaba tendo o direito de entrar direto em alguns cursos de faculdades públicas. Na Unicamp, por exemplo, eu poderia entrar em 30 cursos”.

Mesmo com o futuro bem encaminhado, Murilo volta a ser adolescente quando pinta a dúvida sobre qual carreira seguir.

“Fico um pouco indeciso, mas acho que minha primeira opção é medicina, apesar de pensar em algo ligado à área de matemática. Também penso sobre ir para o exterior, mas aí penso sobre a questão dos contatos profissionais que o convívio na universidade possibilita. Ainda estou refletindo”, confessa. 

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