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Educação

Preparação para o Enem escancara desigualdade no ensino

Alunos e professores da rede pública entendem que pandemia amplificou disparidade no caminho até o exame

Por Leonardo Oliveira

26 de julho de 2020, às 14h24 • Última atualização em 27 de julho de 2020, às 08h02

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) impôs uma nova realidade para aqueles que se preparam para prestar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Estudantes, professores e especialistas da região ouvidos pelo LIBERAL afirmam que a desigualdade no acesso ao ensino nas esferas pública e privada foi escancarada com a implantação “forçada” da aprendizagem à distância.

Com um cenário de disparidade social, a escola pública recebe alunos em diferentes condições econômicas, muitos deles sem o acesso a uma estrutura para viabilizar o estudo diário em casa. Esse apontamento é feito pela professora e doutora Alayde Maria Pinto Digiovanni, que atua no Departamento de Psicologia da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste).

“O ensino remoto vem acentuar esta desigualdade, pois muitas das crianças e jovens não têm sequer uma moradia com condições dignas em nosso país, tendo dificuldade para ter um local adequado e materiais necessários para sua realização”, afirma.

Pedro Nunes, de 16 anos, estudante da escola João 23, enxerga dificuldades no formato à distância – Foto: Divulgação

Pedro Nunes, de 16 anos, estuda na Escola Estadual João 23, em Americana. Seu sonho é cursar Engenharia Química na USP (Universidade de São Paulo). Para isso, planejava intensificar os estudos para o Enem no início deste ano, mas o surgimento da pandemia criou dificuldades no processo de evolução intelectual.

Antes da pandemia, a escola funcionava em período integral, das 7h às 16h. No formato EaD, adotado desde março, as aulas acontecem entre 8h e 11h10. Apesar de entender que essa é a única maneira do ensino ser viabilizado, o estudante ressalta problemas enfrentados neste novo modelo.

“Não é a mesma coisa que estar em uma sala de aula. No meu caso é bem difícil de focar nos estudos porque tem minha família, minhas irmãs. Às vezes eles ficam fazendo barulho, assistindo TV. Eu acredito que todos estamos aprendendo muito pouco em relação ao que estaríamos aprendendo na escola”, destaca.

A mesma visão é compartilhada pela estudante Khamyle Fideles, de 17 anos, que sonha ingressar em uma universidade para cursar artes cênicas. “Você acha que um aluno que não tem muita estrutura, que não tem como baixar um aplicativo, quanto mais assistir um vídeo no YouTube, vai simplesmente aprender com um professor que ele nunca viu na vida?”, indaga.

Para os professores, o período tem sido desafiador. São mais horas trabalhadas para atender a todas as turmas, tendo que tirar do próprio bolso para conseguir as condições necessárias para o estudo à distância, de acordo com a diretora da subsede da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) em Americana, Zenaide Honório.

“Nós temos uma grande parcela de professores que não tem equipamento adequado, uma outra parcela de alunos que também não tem. Às vezes você tem uma família que tem um aparelho celular, que muitas vezes o pai e a mãe utilizam para o trabalho, então nas horas vagas tem uma disputa para saber quem é que vai ficar”, explica.

Os profissionais relatam que nas escolas privadas a adaptação à nova forma de ensinar foi mais fácil, pois muitos dos alunos já tiveram contato com o EaD e podem se dedicar integralmente ao aprendizado.

Nova data
O Ministério da Educação marcou a prova presencial do Enem para os dias 17 e 24 de janeiro e a prova digital para 31 de janeiro e 7 de fevereiro. A escolha foi na contramão de uma enquete do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que teve a preferência de 49% dos alunos pela realização do exame em maio.

“O Inep desconsiderou qualquer opinião pública e escolheu o finalzinho de janeiro. Mostra o quanto o aluno do ensino particular é privilegiado, sim, já que ele tem conteúdo online, tem aula online. Eu, como estudante do ensino público a minha vida toda, acredito que os estudantes perderam um ano de suas vidas”, argumenta a estudante Khamyle Fideles.

Na época do anúncio, o argumento do então secretário-executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel, para a escolha foi a de que, se o exame fosse aplicado em maio, o ingresso nas faculdades ocorreria somente no segundo semestre do ano que vem.

Podcast Além da Capa
O contexto da DRS (Diretoria Regional de Saúde) de Campinas definiu o avanço de todos os seus municípios à fase laranja do Plano São Paulo, conforme anúncio do Estado feito nesta sexta-feira (24). Entretanto, quais são as particularidades que dão o contexto de Americana, em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), neste momento? Nesse episódio, o editor Bruno Moreira conversa com os repórteres George Aravanis e Rodrigo Alonso sobre tal cenário.

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