18 de outubro de 2024 Atualizado 11:57

Notícias em Americana e região

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Notícias que inspiram

Encontrando saídas no esporte

Vindo de um projeto esportivo de periferia, aos 29 anos, professor de beach tennis sonha em “devolver” ao universo tudo que já conquistou

Por Jucimara Lima

11 de julho de 2022, às 08h03 • Última atualização em 11 de julho de 2022, às 08h43

Histórias de superação, esforço e dedicação relacionadas ao esporte são relativamente comuns, no entanto, sempre é bom conhecer a trajetória de pessoas que, apesar de tudo, usam a resiliência comum aos atletas para não desistirem de batalhar, mesmo que a vitória tenha poucas chances de acontecer.

Lucas sonha em mudar a realidade de meninos que passam pelas mesmas dificuldades que ele – Foto: Junior Guarnieri – Liberal.JPG

Aos 29 anos, o professor de beach tennis Lucas Cavalheiro acaba de montar um canal no Youtube (O Lucas Cavalheiro), justamente para contar um pouco sobre sua vida e como ele, que nasceu e viveu na periferia, conseguiu ser um dos melhores atletas de badminton do país na categoria Júnior, se formou em logística, estudou relações internacionais, cursa a faculdade de educação física e hoje sonha em fazer um projeto social para ajudar crianças carentes.

Apaixonado por esportes, Lucas conta que desde muito cedo já demonstrava aptidão para várias modalidades, contudo, apenas aos 12 anos conheceu o esporte que mudaria sua vida: o badminton, que mesmo sendo olímpico desde a década de 90, até hoje ainda é pouco conhecido no Brasil.

Apesar de ter nascido em Campinas, Lucas viveu a primeira infância em Sumaré. Filho de pais separados, quando a mãe foi contemplada com uma casa do CDHU no Parque Anchieta, em Campinas, não houve opção, senão mudar para sua cidade natal. “Como estudava em uma escola periférica, comecei a participar dos projetos sociais de lá e assim tive o primeiro contato com o badminton, quando uma professora decidiu montar um time com os melhores alunos da escola. Em um primeiro momento, não me interessei, contudo, como os meus amigos começaram a praticar, também quis. Como tinha me negado a fazer parte do grupo no começo, essa professora não queria mais me deixar participar, porém, pelo tanto que insisti, uma hora ela acabou cedendo com a condição de que eu precisaria vencer o melhor atleta da categoria. Foi o primeiro ensinamento que a Marta Lopes me daria, de muitos outros que viriam pela frente: eu precisava merecer entrar no time”, conta.

A partir dali, poder competir passou a ser meta de vida para Lucas, que além de ter bom desempenho nas quadras, também precisava ter boa performance em sala de aula. “A média da escola era 5, porém, os atletas precisavam tirar no mínimo 7. Eu comecei a viver o esporte. Mergulhei naquele universo. Nós vínhamos de uma comunidade em que não tínhamos acesso a muita coisa, então, o esporte era nossa única saída”, recorda.

Claro que nos primeiros anos da adolescência, naquela fase de contestação sobre o mundo, houve um pouco de rebeldia, porém, nada como ser proibido de jogar para fazer um apaixonado pelo esporte recolocar a cabeça no lugar. “A Marta conversava muito com a gente e nos fazia refletir sobre a vida. Ela dizia que poderíamos nunca ser atletas, mas que com dedicação, seríamos bons profissionais em outras áreas e, principalmente, boas pessoas”.

Uma década desperdiçada. Após a fase colegial e tendo no currículo o vice-campeonato brasileiro de badminton e algumas competições internacionais, as condições financeiras de Lucas acabaram tirando ele das quadras.”Fiz 18 anos e levei aquele ultimato da minha mãe. Não ganhava dinheiro com o esporte e sempre tem aquele paradigma que esporte não dá futuro, então segui a vida em outras áreas”, explica. Nesse percurso, o jovem enfrentou 10 anos de infelicidade e desajustes, trabalhando com coisas que não gostava, passando por inúmeras dificuldades, entre depressão, separação e vários outros problemas, até que, em 2021, finalmente se reconectou com sua essência.

Após atuar um tempo em uma grande rede de artigos esportivos, Lucas conheceu o beach tennis e se “apaixonou” novamente. Assim, ele passou a jogar e, há um ano, foi convidado para ser professor no Atenas Beach Sports, em Nova Odessa. “Eu nunca tinha dado aulas, mas fui treinado pelo pessoal daqui. Agora, tenho alunos que vêm de outras cidades para ter aulas comigo, então, tenho consciência de que estou no caminho certo! Por essa razão, quero devolver para o universo tudo de bom que recebi. Precisei passar por muita coisa, mas hoje sou essa pessoa que planta uma sementinha do bem e que sabe que uma hora vai colher”, disse.

“Eu vim de um projeto social e eu preciso devolver isso. O esporte me deu tudo! Ele me proporcionou alegrias, tristezas e deu um norte para minha vida. Se eu sou o que sou hoje, foi graças ao esporte. Por isso, quero retribuir. Acredito que através do esporte é possível educar e transformar vidas!”

Lucas Cavalheiro

Beach na Vila. Falando em “sementinha do bem”, o projeto idealizado por Lucas é denominado “Beach na Vila” e deverá ocorrer na Vila Anchieta, em Campinas, onde já tem até o espaço, mas que ainda precisa de recursos para se concretizar, assim como mais um professor voluntário para dar aulas com ele.

Tendo o Guga como ídolo dentro e fora das quadras, Lucas, que já passou 3 dias comendo amendoim com a sua dupla porque não tinha dinheiro para se alimentar adequadamente, sonha em mudar a realidade de meninos que passam pelas mesmas dificuldades que ele um dia enfrentou. “Meus amigos que faziam parte do projeto social comigo seguiram suas vidas. Já os outros, na maioria, ou estão presos ou mortos. A verdade é que se eu morasse em outro país, como no Japão ou EUA como o atleta que fui, com certeza seria uma estrela do esporte, contudo, a realidade do Brasil é outra. Então, olhar um cara como o Guga, que tem um projeto social como Instituto Guga Kuerten, me inspira! Eu quero ser essa pessoa”, finaliza. 

Publicidade