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Tatuador de Americana tem obra exposta em museu na Alemanha 

Júlio Cesar Lapazzi Lisboa, de 39 anos, abandonou carreira de engenheiro civil e hoje tem obra exposta no Museu Albrecht Dürer, em Nuremberg

Por Jucimara Lima

23 de setembro de 2024, às 08h42

Engenheiro por formação e artista por vocação, atualmente Júlio se considera realizado - Foto: Arquivo Pessoal

Desde fevereiro deste ano, o tatuador de Americana Júlio Cesar Lapazzi Lisboa, de 39 anos, está vivenciando o prazer de expor sua obra no Museu Albrecht Dürer, em Nuremberg, na Alemanha.

O trabalho do artista foi selecionado para participar da exposição “Dürer Under Your Skin”, ou seja, “Dürer Sob Sua Pele”.

Assim como Dürer, Lisboa é um gravurista que utiliza a técnica da hachura em suas obras, com a diferença de que Dürer trabalhava em telas e Lisboa, na pele. Lisboa explica que a “Engraver Tattoo”, ou “Tatuagem em Hachura”, tem origem na arte clássica e era utilizada por artistas renascentistas.

“Nela, há representações de sombras e texturas em pinturas e desenhos, por meio de traços finos e paralelos, retos e curvos, próximos uns dos outros, simulando efeitos de luz, sombra e meio-tom, conferindo volume ao trabalho”, pontua.

Segundo ele, um dos adeptos mais notórios desse estilo foi Leonardo da Vinci. “Acredito 100% que a arte é um instrumento que conecta as pessoas ao divino e traz à tona toda a sensibilidade que temos como seres humanos. Ela nos conecta e nos mostra quem verdadeiramente somos ou podemos ser”, reflete.

Além de gravurista, Dürer também foi pintor, ilustrador, botânico e matemático.

“Provavelmente, ele foi o artista mais famoso do Renascimento Nórdico, tendo influenciado centenas de artistas no século XVI, tanto em seu país quanto nos Países Baixos.”

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Exposição. Inédita, a exposição reúne fotografias de trabalhos feitos por tatuadores de vários lugares do mundo e apresenta releituras de obras de Dürer feitas na pele. “Fui convidado pelos organizadores, que entraram em contato comigo e solicitaram que eu enviasse fotos das obras que eu tinha”, confirma o artista.

Fã de Dürer, Lisboa conta que já possuía vários trabalhos inspirados na obra do alemão. “Enviei todas e fui escolhido para compor a exposição com a obra ‘Adão e Eva’, que realizei em Americana, no meu cliente e amigo Victor Felisbino, em abril de 2023.”

Segundo ele, essa foi a única releitura de “Adão e Eva” enviada para a exposição.

A releitura feita pelo artista de Americana – Foto: arquivo Pessoal

“Tem sido um prazer e uma grande honra para mim estar entre grandes artistas do mundo, os quais admiro e me inspiro.”

Lisboa conta que, embora complexa, a releitura foi realizada em apenas duas sessões. Para ele, uma das maiores dificuldades foi tentar transpor para a pele toda a essência e sutileza da obra original. “Isso é sempre um desafio em releituras, porque converter para a pele, uma superfície viva e com diferentes nuances, é muito mais difícil do que transferir a mesma obra para um papel ou processo digital, por exemplo.”

Para ele, além da beleza estética, o fato de a obra remeter a conceitos religiosos é um destaque. “É um tema comum para pessoas de todas as partes do mundo.”

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Nasce um artista. Júlio é filho de uma secretária e de um pintor e, desde cedo, se apaixonou pela arte. “Eu cresci em meio a tintas e letreiros”, comenta.

Ainda na infância, viu seu interesse por ilustrações crescer quando ganhou da mãe uma assinatura semanal dos gibis da Turma da Mônica. “Isso me incentivou a começar a desenhar e a criar minhas próprias histórias em quadrinhos. Posso dizer que o Mauricio de Sousa foi minha primeira referência e inspiração.”

Formado como técnico em edificações e em engenharia civil, ele passou a viver da arte muito tempo depois. “Trabalhei três quartos da minha vida para chegar onde estava, e quando alcancei o que almejava, o que eu achava que iria me completar, não me senti feliz.”

Para ele, viver de arte era um sonho. “Comecei a tatuar aos 33 anos, em 2018, depois de ter trabalhado 16 anos no mercado formal, com carteira assinada. Comecei sozinho em casa, sem a ajuda de ninguém. Eu e alguns amigos que estavam dispostos a serem minhas cobaias”, brinca.

Nesse início, contou com a ajuda de vídeos que via na internet e, pouco depois, com o apoio do amigo Eduardo Fonseca, que também estava começando. “Vê-lo aprendendo me incentivou a tentar algo também. Então pedi que ele me mostrasse como funcionava a máquina de tatuagem.”

Depois disso, mudou de vida e nunca mais parou.

“Não conseguia mais focar no trabalho, não via mais paixão em planilhas de Excel e em metas que eu não havia realmente estabelecido para a minha vida, até que um dia pedi para ser demitido e fui em busca do que me completaria.”

Trabalho do tatuador de Americana foi escolhido entre mais de 300 releituras enviadas por artistas de todo mundo – Foto: Arquivo Pessoal

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Reflexões. Para ele, tatuagem é arte, e, como arte, o que pode ser considerado bom ou ruim é muito relativo. Contudo, alerta que não existe segredo, além de dedicação, trabalho duro e clareza do estilo de trabalho que deseja seguir, além de muito estudo e especializações. “Toda profissão possui fatores mínimos para que o trabalho seja desenvolvido com qualidade.”

Consciente de seu talento, ele afirma que é possível ser um bom tatuador sem ser um artista, mas é impossível ser um bom artista sem estar completamente conectado e imerso na arte. “Existe uma grande diferença entre tatuador e artista. Tatuador você encontra em cada esquina, artista é diferente. Então, se você pretende ser um bom tatuador, primeiro precisa ser um bom artista, ou, minimamente, estar disposto a ser um.”

Para finalizar, ele afirma: “Faço por amor. Acordo todos os dias me sentindo o cara mais abençoado do mundo, sabendo que estou fazendo o que gosto verdadeiramente, o que eu faria até o meu último momento de vida.”

Para quem quiser continuar acompanhando sua história, siga o Instagram @meiopulmao.

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