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Entre os corredores da avenida, brigadeiros e sonhos

Em Americana, vendedor de rua sonha em um dia poder ter espaço físico para o próprio negócio

Por Jucimara Lima

03 de julho de 2023, às 07h42 • Última atualização em 03 de julho de 2023, às 09h35

A história de vida do vendedor de rua, Flávio Leal Martins, de 37 anos, morador de Santa Bárbara d’Oeste, daria um filme. Extremamente comunicativo, ele é figura fácil em um dos semáforos da Avenida Iacanga. Com oito meses na cidade, já tornou seus brigadeiros conhecidos.

Elegantemente vestido no que ele chama de “estilo vitoriano”, o empreendedor de rua acredita que o cuidado com a aparência faz a diferença em seu trabalho. “As pessoas não te julgam pela sua ética, moral, código de condutas ou princípios. Em um primeiro momento, elas te avaliam pela aparência”, explica. Com quase 30 anos de experiência no ramo, hoje, ele sustenta os dois filhos, de 3 e 5 anos, e a esposa Talita, com o seu trabalho de vendas nas ruas.

Simpático, Flávio sabe que manter o sorriso no rosto é importante para conquistar a confiança dos clientes – Foto: Júnior Guarnieri – Liberal.JPG

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Gosto amargo. Nascido em São Paulo, Flávio diz ter tido uma infância difícil e desde muito cedo precisou aprender a se virar sozinho. “Fui jogado nas ruas aos 9 anos, não fui criado nem por mãe, nem por pai, mas não vale a pena falar sobre isto.”

Eloquente, o vendedor conta que seu primeiro trabalho foi limpando vidro de carro. “Vi um rapaz fazendo isso e notei que ele ganhava dinheiro, então, tomei coragem e pedi o rodinho emprestado. Ele não emprestou, mas alugou e assim comecei”.

Fome, frio e muitos desafios marcaram os primeiros anos de sua vida. “Lembro que no centro tinha um prédio em construção e na sexta-feira os funcionários iam embora e só voltavam na segunda. Nesse lugar, sempre tinha uma marmitex que eles deixavam para trás e que hoje sei que não esqueciam, na verdade, deixavam para mim”, emociona-se.

Para mim, sucesso é quando você tem um sonho e consegue tornar ele realidade. Quando eu era criança, meu sonho era dormir em uma cama. Hoje, estou satisfeito, tenho cama, família e coisas que jamais pensei que teria. Mato um leão por dia, mas vou construindo minha história”

Flávio Leal Martins, empreendedor das ruas

Primeiros Tempos. Após se adaptar à realidade das ruas, com o tempo, Flávio foi aperfeiçoando sua maneira de interagir com os clientes, desenvolveu suas técnicas pessoais e acabou fazendo de tudo um pouco, algo que inclusive o levou para diversas cidades do Brasil. “Vendi Suflair, lanche natural, água, suco, bala e vários outros produtos. Eu sou o que em São Paulo as pessoas chamam de marreteiro, que é aquele cara que pega um produto, vai vender na rua e transforma em dinheiro. Dessa maneira, conheci todos os estados brasileiros e assim também fui aprendendo a viver”, contou.

Reflexões. Para ele, o segredo para encarar os desafios que as ruas impõem tem a ver com inteligência emocional. “É preciso ter humildade, resiliência e educação. Essas são as minhas armas. O preconceito é grande e muitas pessoas nos olham como se fôssemos marginais em potencial. Por isso, agradeço a generosidade de quem compra meus produtos, afinal, o mundo é feito de pessoas boas e ruins e no decorrer da vida todos nós vamos nos deparando com todos os tipos. Aí, vai de cada um decidir de que lado deseja ficar”, disse.

Satisfeito com a própria trajetória, para Flávio, sua integridade é o maior orgulho. “Apesar de tudo que passei, consegui manter minha conduta e nunca me corrompi. Muitas vezes cheguei perto da morte e tive várias oportunidades para fazer coisas erradas, porém, nunca fiz. Analisando, acredito que tenha sido providência divina, porque não existe explicação pragmática para minha história”.

Paixão por aprender. Amante da leitura, Flávio define seus estudos como limitados, apesar de se comunicar bem e conhecer diversos autores. Segundo ele, aprendeu uma lição com a sua professora da quarta série que nunca mais esqueceu.

“Ela dizia, quem lê, mais vê, mais sabe, mais é. Eu adoro leitura e não durmo sem ler algo. Quando morava nas ruas fazia ficha nas bibliotecas municipais e assim, cheguei a aprender inglês lendo e traduzindo uma revista de rock. Sei que o hábito de ler ajudou a desenvolver a minha comunicação, então, também posso dizer que salvou minha vida”, resume.

Sua própria alcatéia. À espera do terceiro filho, Flávio sonha em ter o espaço físico da Alcateia Leal, nome que deu para sua produção de brigadeiros artesanais, que atualmente é vendido em 16 sabores.

“Faz 13 anos que vendo os brigadeiros e a minha receita é fruto de pesquisas, por isso, eles são firmes por fora e cremosos por dentro”, diz. Sobre atuar nas ruas, ele explica que hoje é uma opção, mas que o sonho maior é abrir o próprio ateliê. “É uma maneira interessante de trabalhar, que traz retorno e dá para pagar as contas, mas eu quero mais. Quero que meus filhos se orgulhem de mim. Quero deixar um legado”, finaliza. 

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