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Notícias que inspiram

Entre linhas e retalhos, americanense vai tecendo o bem a partir de seu trabalho

Senhora de 93 anos passa seus dias criando e produzindo peças para doações

Por Jucimara Lima

16 de outubro de 2022, às 10h21 • Última atualização em 16 de outubro de 2022, às 10h25

Caprichosa, dona Lúcia só doa as peças depois de lavar e passar - Foto: Marcelo Rocha - Liberal.JPG

Dona Lúcia Pio Conde Nandin é uma típica americanense, única descendente viva de uma família de 21 irmãos. Moradora do Cordenonsi, ela é filha de italianos que vieram para a cidade em busca de uma oportunidade. “Quando meu pai chegou em Americana só tinha seis casas de barro”, conta ela, orgulhosa das origens.

Quando jovem, trabalhou na indústria têxtil, na época em que não faltava serviço na área. Curiosamente, prestes a comemorar 94 anos, é costurando que ela vê o tempo passar, embora ainda cuide pessoalmente dos afazeres de casa.”Meu serviço eu mesma faço. Lavo, passo, limpo, engomo, na verdade, eu nunca parei na vida e acho que só vou parar quando eu subir”, brinca.

Dona de uma personalidade cativante, apesar da insistência da família, mora sozinha na casa em que vive desde a década de 60, construída por seu saudoso marido, com quem esteve casada mais de 60 anos. No lugar onde ela viu os três filhos (Jair, Cláudio e Aparecida) crescerem, conhece cada cantinho e, é nesse espaço que hoje mantém um quarto para a costura e outro para o estoque das peças que começou a produzir durante a pandemia de Covid-19, a partir sugestão de um dos filhos, o aposentado Jair Nandin.

Costurando o bem. Orgulhoso da mãe, seu Jair conta que os retalhos reaproveitados na produção das peças são frutos da doação que um amigo dele faz. “Quando esse meu amigo que trabalha com tecidos me falou que os retalhos sobravam, pedi para dar uma olhada e sugeri que esse material fosse doado. Aí, tive a ideia de trazer para minha mãe, na expectativa de que ela se interessasse em fazer algo”.

Assim sendo, há dois anos dona Lúcia começou a produzir lençóis, mantas, bolsas, almofadas e mais uma série de itens, totalizando mais de 500 peças confeccionadas com amor e muito esmero. Como a ação começou de maneira despretensiosa, apenas quando o estoque começou a ficar grande veio a ideia de doar para instituições assistenciais da cidade, entre elas o Lar dos Velhinhos São Vicente de Paulo e a Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), essa última, entidade que mais toca o coração da doadora, especialmente após conhecer de perto o trabalho.

“Minha filha me levou porque eu queria saber como funcionava, que jeito era. Achei o lugar maravilho e fiquei muito encantada, inclusive, até vi a banca onde ficam as coisas que doei. No dia, a moça me disse que tinha saído quase tudo, restando só duas almofadas”, celebra.

Ensinamento. Obstinada, dona Lúcia não entrega uma peça sem lavar ou passar. Mesmo com defeitos, muitas vezes manchados e até rasgados, ela emenda e dá um jeito de transformar o que iria para o lixo em peças tão bonitas que entidades como a Apae aproveitam para comercializar e assim arrecadar fundos para a sua manutenção.

Mesmo chamando a atenção de pessoas que já se ofereceram para pagar pelas peças, a “costureira do bem” faz questão de que tudo seja doado. “Adoro fazer esse trabalho para doar. Compro linha, zíper, enchimento, mas não quero um tostão porque diz Deus: dai de graça o que de graça recebeste, não é? Então, eu dou de graça o que eu recebo de graça”, ensina.

Autodidata. Centenária, sua companheira de trabalho é uma máquina de costura herdada de uma de suas falecidas irmãs. “Outro dia mandei dar uma geral na máquina, porque de tanto pedalar ela engripou. Acho que faltava óleo”, diverte-se.

Apesar de produzir peças muito bem feitas, engana-se quem pensa que dona Lúcia já sabia costurar antes de começar. “Eu não sabia costurar, mas a costura reta vai embora. Não sei fazer outras coisas, mas o que dá para fazer a gente vai fazendo com capricho”, pontua.

Além disso, tudo tem a medida feita a partir de seus olhos e as criações saem de sua própria cabeça, inclusive, sem nem ao menos precisar usar óculos. “Tenho muita fé em minha Santa Luzia”, justifica.

E como tudo é reaproveitável, os poucos retalhos que ela não aproveita, também acaba doando. “Tem uma senhora que cata reciclável e pega para mandar ao Paraná. Diz que lá eles usam tudo.”

Mesmo tendo feito até o primário, dona Lúcia é uma surpresa atrás da outra e diz que sua maior alegria na vida é ter criado filhos trabalhadores e honestos, algo que evidentemente só reflete ela própria.

Poetisa, inclusive com publicações no LIBERAL, ganhadora de concurso de samba-enredo na época em que o marido atuava na Escola de Samba Unidos do Cordenonsi, a mulher que começou a trabalhar aos 7 anos levando roupa na cabeça, segue sua vida dando exemplo e inspirando pessoas. “Tudo isso, graças a Deus, que sempre me deu saúde para continuar”. 

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