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Rota do Tráfico

Aeroportos do interior são ‘atraentes’ para rota do tráfico

Falta de fiscalização e localização são elencadas por pesquisador como “trunfos” para o transporte de drogas nestes locais

Por Leonardo Oliveira

24 de novembro de 2019, às 08h12

Aeroportos menores, dedicados a voos particulares e que sejam operados pelas prefeituras e não pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) são constantemente usados como alternativa para o transporte aéreo de entorpecentes, de acordo com o jornalista Allan de Abreu, pesquisador do tema há mais de uma década.
Falta de fiscalização e localização estratégica são os motivos elencados por ele para justificar a escolha desse tipo de estrutura para o tráfico de drogas.

“Esse tipo de aeroporto é muito usado por traficantes de drogas no interior de São Paulo porque você tem uma pista pouco vigiada. Americana é na boca de Campinas, a 120 km de São Paulo. Se você pensar com cabeça de um traficante é viável trazer a cocaína dos países vizinhos para Americana”, disse ao LIBERAL.

Foto: Divulgação
Jornalista Allan de Abreu escreveu o livro “Cocaína – A Rota Caipira”

Entre 2017 e 2018 Americana serviu como entreposto para o tráfico internacional de cocaína, de acordo com uma apuração da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes).

Um hangar alugado no aeroporto era ponto de encontro de pilotos que transportavam droga e dinheiro entre países da América do Sul.

O traficante Wesley Evangelista Lopes, procurado pela Interpol desde 2018 e preso em 31 de agosto deste ano em Prado (BA), foi apontado como operador logístico do esquema em Americana e responsável por cooptar pilotos.

Ao todo, 11 pessoas foram presas e sete aviões e um helicóptero acabaram apreendidos em diversas cidades do Estado. Três delas no aeroporto de Birigui, também usado por criminosos ligados ao tráfico, a exemplo do de Penápolis, lembra Abreu.

Para o comandante Marcos Abreu, que já foi gestor de segurança operacional do aeroporto de Guarulhos, os casos relacionados ao tráfico de drogas nestas estruturas devem ser coibidos pelas forças policiais e não passam necessariamente pela gestão dos aeroportos.

Foto: Dise Americana / Divulgação
Aeronave apreendida em Birigui (SP) também era usada por criminosos ligados ao tráfico

“É um caso de polícia não de uma questão de análise técnica relacionada ao aeroporto em si. É possível haver operação dessa natureza em qualquer aeroporto desde que determinadas barreiras sejam derrubadas”, destaca.

O comandante Carlos Camacho, piloto de linha aérea e consultor de acidentes aeronáuticos, defende um trabalho mais intenso de vigilância das operações de aeronaves. Ele sugere até mesmo a interdição da pista no período noturno.

O transporte terrestre já foi muito usado pelas facções criminosas, mas cedeu parte do espaço para as aeronaves, que minimizam o risco de apreensões durante o trajeto e se deslocam mais rapidamente, embora transporte uma quantia menor de drogas do que os caminhões.

“Eles arrancam todos os bancos do avião, só deixam o do piloto. Geralmente são abastecidos no Paraguai. Tem uma autonomia de voo de dez horas e com essa autonomia eles conseguem chegar até o interior de São Paulo, geralmente sem escala”, detalha Camacho.

As regiões com canaviais são ainda mais atrativas pois se tratam de áreas onde é comum a presença de aviões que atuam na pulverização da cana-de-açúcar. Por esse motivo, possuem pistas clandestinas que também são usadas pelos traficantes, destaca Allan.

“Teve um traficante do PCC (Primeiro Comando da Capital), o Rodrigo Felício, que até uns cinco anos atrás usava muito canaviais de Santa Bárbara para pousar aviões com cocaína. Essa região é a rota caipira, está na rota do tráfico da cocaína que sai dos países vizinhos e vai para São Paulo e porto de Santos”.

O jornalista lançou há dois anos o livro “Cocaína – A Rota Caipira”. Nele, conta, entre outras coisas, como cidades do interior paulista e do triângulo mineiro se tornaram o principal corredor de drogas no país.

A carga de entorpecentes vem de países como Colômbia e Bolívia, passa pelo interior do Brasil, chega até São Paulo para distribuição nacional e segue para o porto de Santos quando é para ser exportada.

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