18 de outubro de 2024 Atualizado 17:17

Notícias em Americana e região

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Notícias que inspiram

A arte de lançar um novo olhar à vida

Conheça a história da Lilica, uma personagem emblemática de Americana que encontrou sua missão após uma grande perda

Por Jucimara Lima

05 de dezembro de 2021, às 14h52

Difícil quem não conheça a palhaça Lilica em Americana. Sempre de macacão pink, camisa branca e cabelos coloridos, ela é uma figurinha fácil e está sempre por aí com os integrantes do Projeto Vida. Apesar da notoriedade, ironicamente poucas pessoas sabem quem é a mulher por trás da palhacinha que no dia 11 de dezembro comemorará seu aniversário de 11 anos.

Lilica prefere manter sua identidade em sigilo e quase nunca sai do personagem criado em 2010 – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

O sigilo é algo que Lilica faz questão de manter, não só para preservar sua identidade, mas principalmente para manter o encanto. “As crianças acreditam piamente que a Lilica existe, então, é assim que tem que ser”, comenta a voluntária, que tem como principal objetivo levar um upgrade na vida dos participantes do projeto, que já existe há mais de 25 anos.

Idealizado por Silvia Salles, o movimento atende atualmente cerca de 70 pessoas com deficiência física, em sua maioria crianças e jovens com idades entre 7 e 30 anos. Com o foco voltado para a compra de cadeiras de rodas adaptadas, o Projeto Vida vai muito além, proporcionando aulas de música, acompanhamento psicopedagogo e principalmente inclusão.

Nascimento

No dia 11 de dezembro de 2010, no antigo Rancho Bem Brasil, nascia a Lilica, resultado de uma imensa dor, transformada em amor. Eliana, nome da mulher que dá vida à Lilica, perdeu o marido em 28 de agosto de 2010, portanto, naquela época ela vivia um dos piores momentos da vida.

Aliás, “vida” era a maneira carinhosa que ela e o marido, que era piloto de avião, se chamavam. No dia 11 de dezembro daquele ano, se ele estivesse vivo, comemorariam o aniversário dele em uma viagem para o Chile. Contudo, uma fatalidade não permitiu que os planos pudessem ser concluídos.

Sendo assim, a data era um momento de muita dor para ela, que durante algum tempo ficou pensando o que faria naquele dia para se sentir menos triste. Foi então, que o telefone tocou. Era uma conhecida querendo saber se ela tinha algum palhaço para indicar, pois, haveria uma festa de Natal para as crianças da entidade onde trabalhava e precisavam de alguém. Eliana se candidatou, mesmo sem nunca ter nem passado perto de um circo.

Curiosamente, o marido costumava presenteá-la com miniaturas de palhaços que ele comprava durante as viagens que fazia a trabalho.
Era a Lilica estreando no mundo.

“Quando cheguei lá, já tinha três palhaços atuando. Fiquei com vergonha, queria ir embora, mas uma criança me viu e gritou: ‘olha a palhaça!’ Aí já era tarde, tive que entrar na festa”, recorda ela, que até então não sabia que eram crianças com deficiências.

“Quando olhei vi um monte de criança de cadeiras de rodas, me deu um frio na barriga, olhei para o céu e disse: ‘meu Deus, o que estou fazendo aqui’”. Nesse momento, ela conta que visualizou a voluntária que tinha feito o convite. “Na camiseta dela estava escrito: Projeto Vida”, algo que de imediato a fez entender as razões. “Sabe que até hoje dá vontade de chorar ao lembrar desse momento?”.

Depois do episódio, em pouco tempo, Lilica se tornou voluntária ativa do projeto, fazendo renascer em Eliana o desejo de viver. Para ela, que considera a Lilica uma espécie de plano de Deus em sua vida, tudo é aprendizado. “Basta a gente prestar atenção nos detalhes”.

Projetos

O cotidiano do Projeto Vida é bastante agitado e boa parte disto se deve a inquietude de Lilica, afinal, ela é apenas uma garotinha e, como tal, não gosta muito de ficar parada. Sendo assim, Lilica carrega “seus príncipes e princesas”, como ela costuma chamar os participantes do projeto, para várias aventuras, como o passeio ciclístico criado em 2018 e as corridas de ruas quando os participantes do projeto são conduzidos por atletas em triciclos.

Segundo relatos, o primeiro contato dos participantes do Projeto Vida com o mar foi uma das coisas mais emocionantes já vistas – Foto: Divulgação

Em 2019, montados em suas “carruagens adaptadas”, muitos deles viajaram para o Guarujá, quando tiveram a oportunidade de entrar no mar pela primeira vez. Recentemente, ela voltou a embarcar em nova aventura, levando mais de 80 pessoas entre usuários e seus familiares para fazer o famoso passeio do Barco Escola na Represa do Salto Grande. Além disso, durante a pandemia, Lilica criou o projeto “Serenata do Amor”, quando ia às casas dos participantes para cantar para eles.

No momento, ela sonha em realizar um de seus maiores desejos: a criação do Parque da Lilica, um parque totalmente adaptado e inclusivo. “ Estamos dependendo apenas de uma aval da prefeitura que deve ceder um local para a implantação do parque, previsto para ficar pronto em 2022”.

De acordo com a voluntária, o Projeto Vida já possui boa parte dos parceiros que ajudarão a custear as obras. Ansiosa pela momento de conseguir tirar o sonho do papel, ela ressalta. “Quando o Parque da Lilica ficar pronto, a gente vai poder brincar bastante”.

Além disso, no momento, os esforços do grupo estão voltados para a arrecadação de doações para a compra e troca de algumas cadeiras de rodas, que custam em média cerca de R$ 6,8 mil. “Apesar do poder público ter a obrigação de ceder, muitas vezes demora muito, a criança cresce e quando a cadeira chega, ela já não é adequada para aquele usuário”, comenta.

Finalizando o ano, no dia 14 de dezembro, Lilica acompanhará a entrega dos presentes de Natal doados pelos padrinhos do projeto. Detalhe: dessa vez a entrega será feita de caminhão. “Será uma festa linda”, revela, animada.

Publicidade