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Cotidiano

‘A varíola dos macacos não terá a dimensão da covid’, afirma cientista da USP

Segundo especialista, o trabalho dos cientistas de entender o vírus e acompanhar suas mutações é fundamental para frear o avanço da epidemia

Por Agência Estado

14 de junho de 2022, às 08h02 • Última atualização em 14 de junho de 2022, às 16h45

A varíola dos macacos, doença que já tem três casos confirmados no Brasil, não deve causar o mesmo estrago que a covid-19, mas merece ser monitorada com atenção. A avaliação é de Ester Sabino, cientista da Universidade de São Paulo (USP), líder do grupo responsável pelo primeiro sequenciamento do vírus no País, feito em apenas 18 horas.

Isso ocorreu graças a uma técnica metagenômica rápida desenvolvida durante o doutorado de Ingra Morales Claro, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ela faz parte do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), coordenado por Ester. A professora da USP esteve à frente também do primeiro sequenciamento de Sars-CoV-2, em março de 2020, e dos primeiros casos da nova variante Gama, surgidos em Manaus cerca de um ano depois.

Em entrevista ao Estadão, Ester destaca a importância da rapidez do sequenciamento do vírus da varíola dos macacos em comparação ao causador da covid-19, que levou semanas para ser decifrado. Segundo Ester, o trabalho dos cientistas de entender o vírus e acompanhar suas mutações é fundamental para frear o avanço da epidemia.

Qual a importância da técnica metagenômica rápida no sequenciamento da varíola dos macacos? Como auxilia no controle dessa doença?

A nossa missão foi desenvolver ferramentas para tornar mais fácil o reconhecimento de novos agentes, baixando o custo e tornando mais rápido o sequenciamento do vírus. Isso permite que a tecnologia esteja disponível em mais pontos do País, para que quando um novo agente chegue vários lugares consigam trabalhar rapidamente. Quando surgiu o vírus Sars-Cov-2 em Wuhan, na China, demorou cerca de um mês para reconhecerem o agente. Isso tem impacto, porque quanto menor o tempo de reconhecimento, maior a chance de conter uma epidemia. Até existem técnicas mais baratas para fazer a triagem do vírus, mas o problema é que elas dependem de insumos que nem sempre estão disponíveis no início de uma epidemia.

Descobriram algo sobre o vírus que se diferenciasse do que já se conhecia?

Descobrimos que o vírus do paciente (homem de 41 anos que passou por tratamento em SP) já tinha sofrido três mutações em relação aos outros vírus da mesma doença descrito na Europa. O vírus não tem uma taxa rápida de mutação, mas isso precisa ser monitorado.

O que precisa ser feito agora para monitorar o desenvolvimento da doença?

O mais importante é que a gente tenha técnicas de PCR disseminadas pelo Brasil para que os casos sejam reconhecidos rapidamente. E o País precisa ter insumos necessários para fazer PCR (teste de qualidade padrão ouro, com maior precisão) em um grande número de casos. O sequenciamento que fizemos não podemos fazer em todo mundo, então é importante que testes mais simples sejam desenvolvidos.

A vacina para a varíola protegeria contra novas variantes?

Sim, ela deve funcionar. Teríamos de aumentar a sua produção, mas provavelmente devem fazer vacinas específicas para esse agente.

Há riscos de que a varíola dos macacos se torne uma pandemia, assim como aconteceu com a covid-19?

Esse vírus não tem uma transmissão aérea, assim como a covid-19. Doenças respiratórias transmitem mais. O monkeypox precisa de um contato íntimo para contaminar. Por isso, provavelmente a varíola dos macacos não vai ter a mesma dimensão da covid.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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