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Pelas Páginas da Literatura

Lançamento 2022: “Os Abismos”, de Pilar Quintana

Segundo livro da colombiana publicado no Brasil é contado pela perspectiva de uma criança e cheio de metáforas

Por Marina Zanaki

30 de julho de 2022, às 09h52 • Última atualização em 30 de julho de 2022, às 09h53

As mulheres do novo livro da colombiana Pilar Quintana olham para precipícios reais e metafóricos, e muitas se perdem neles. “Abismos” é um livro simples na superfície e onde quase nada acontece, mas a história é contada através de suas metáforas.

A primeira cena traz Claudia, de oito anos, encarando as plantas do apartamento onde vive com a família na cidade de Cáli, na Colômbia. A menina olha do alto da escada do segundo andar do duplex para a “selva” de plantas lá embaixo, e sente uma vertigem diante daquele abismo. De cara, a autora já deixa claro que acompanhamos a perspectiva de uma criança e apresenta vários elementos que serão importantes.

A trama vai se desenrolar nas relações familiares e em uma viagem para uma casa de campo cercada por precipícios. A mãe de Claudia, que tem o mesmo nome da filha, fica perigosamente fascinada com aqueles abismos. Eles refletem a maneira como ela se sente.

Claudia é uma mulher que teve seu poder de decisão negado. Ela não pôde escolher com quem se casar, sua profissão ou seu futuro. Seus dias são ociosos e preenchidos com a leitura de revistas sobre tragédias de celebridades, como Grace Kelly, Natalie Wood e Karen Carpenter. Ela defende que as mortes dessas mulheres foram, na verdade, suicídios.

Seu estado mental é negligenciado pela família e sua depressão é chamada de “rinite”. A única que parece levar a sério seus problemas é a filha de oito anos, que em sua impotência luta de todas as formas contra o perigo que a ronda.

Contar acontecimentos simples que na verdade são cheios de camadas é uma marca da escrita de Pilar Quintana. Em “A Cachorra”, seu primeiro livro publicado no Brasil, ela faz exatamente isso. Mas enquanto “A Cachorra” é muito sombrio, “Os Abismos” termina com um tom esperançoso.

O livro acaba de forma abrupta, sem dar respostas claras para o que aconteceu com aqueles personagens. Mas em sua escrita sutil, a autora deixa pistas do caminho que aquela história pode seguir. É preciso sensibilidade para entendê-las, assim como para enxergar os precipícios que as mulheres de “Os Abismos” encaram.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.