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Bonecas se tornam ação social de casal

Casal de aposentados encontrou no trabalho voluntário, de restauração de bonecas e produção de roupas para crianças, uma grande oportunidade para fugir da depressão e continuar trabalhando

Por Jucimara Lima

30 de janeiro de 2022, às 10h37

Aurea e Valdeci dedicam a maior parte do dia ao trabalho voluntário - Foto: Claudeci Junior - O Liberal

Quando a analista financeira Aurea Viegas Lopes Cegal, de 55 anos, se aposentou no final de 2019, após uma vida de trabalho iniciada aos 11 anos, ela realmente não sabia o que fazer. “Por mais que você queira, demora um certo tempo para cair a ficha. Quando acontece, você pensa: ‘agora é real. Vou ter que me adaptar a um novo estilo de vida’”, pontua. Companheiro de todas as horas, o marido Valdeci Cegal, de 59 anos, que sempre atuou na área têxtil e se aposentou há 8 anos, recorda que também sofreu um grande impacto quando pendurou as chuteiras. “Senti um alívio e um aperto”, recorda.

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Após esse primeiro momento, em dezembro de 2020, o casal passou a participar de um projeto social de uma conhecida. Aproveitando a oportunidade, Aurea decidiu colocar em prática um antigo plano de fazer trabalho voluntário. “A minha vida sempre foi muito corrida, mas eu tinha vontade de fazer algo. Por outro lado, não me encaixava em nada. Ficava pensando sobre o que eu poderia fazer, mas acredito que Deus vai preparando o caminho e colocando as pessoas certas neles”.

Como não dirige, além dela, o marido Valdeci acabou se envolvendo e tomando gosto pela coisa. “Ele foi muito solidário comigo, porque se não participasse, eu estaria limitada. A verdade é que abraçamos a causa, juntos”, comenta a aposentada.

A princípio, eles começaram ajudando a fazer entrega de cestas básicas, contudo, Aurea não se adaptou. Segundo ela, ficava muito impactada com o sofrimento das pessoas e por acreditar que cada uma tem seu papel, ela acabou encontrando outra maneira de contribuir e até contagiar outras pessoas.

“Você que se aposentou e ficou sem saber o que fazer, procure algo para se ocupar, seja o que for. Mesmo que ache que não tem nenhum dom, muitas vezes o que falta é você dar uma oportunidade para ele aflorar. Tem sempre alguma coisa que você pode fazer para ajudar ao próximo e consequentemente ajudar a si mesmo”

Aurea Viegas Lopes Cegal

Trabalho manual. Assim sendo, atualmente, Aurea e Valdeci se dedicam a duas atividades: restauro de bonecas e confecção de roupas para crianças. Para essa segunda atividade, Aurea chegou a entrar no curso de corte e costura.

A ideia veio quando eles receberam a doação de retalhos de tecidos e ela pensou que seria uma boa maneira de dar uma utilidade para eles. Curiosamente, fazer corte e costura era uma das coisas que estava em sua lista para quando se aposentasse.

Restauração das Bonecas. As bonecas chegam ao casal de várias maneiras e em diversos estados, inclusive, algumas vindas até do lixo ou de depósitos de recicláveis. Desde as novas, com roupinhas e cabelos em ordem, até as mais desgrenhadas com cabelos danificados, sem roupa e até com riscos de canetas, todas ganham uma preparação especial. “Lavo, passo, deixo cheirosinha. Acho importante colocar carinho em cada detalhe”, explica a voluntária.

Para as que estão sem roupas, Aurea costura, faz peças em crochê e promove ajustes. Nos cabelos, usa shampoo, condicionador e costuma colocar em prática algumas técnicas que aprendeu na internet, como o processo de passar na água fervendo e depois na água com o gelo para o cabelo ficar macio.

Outra receita tirada do que ela chama de “santo Google” é para apagar risco de caneta. “Pomada de acne em abundância, três ou quatro horas de sol, depois é só esfregar. Sai tudo”, garante. Casados há 29 anos, eles não têm filhos e encontraram no trabalho voluntário uma maneira de passar o tempo e fugir da depressão. Hoje, brincam que as bonecas que eles restauram são seus filhos. “Temos vários”, diverte-se Valdeci.

Transformação. Quem olha o sorriso e o bom humor do casal não imagina o quanto os últimos anos foram difíceis para eles. “Entre 2017 e 2020 tivemos muitas perdas familiares. Foi um período terrível e traumático, então, precisávamos tirar o foco de toda aquela situação que estávamos vivendo. Depois que tudo amenizou o emocional cobrava, então, pra gente foi uma forma de escape também”.

Ressignificando a vida, Valdeci comenta que eles pensavam. “Vamos deixar para chorar amanhã, hoje a gente não tem tempo para isso”. E assim foram se recuperando. “O brilho que você vê nos olhos das crianças que recebem a boneca é incrível”, comenta. “Ver a alegria das crianças que recebem a bonequinha, ou das mães que ganham as roupinhas para seus bebês, me emociona muito”, completa ela, que agora, pretende comprar uma máquina industrial para aumentar a produção e fazer roupinhas de inverno para as crianças.

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