O sobrenatural sempre encantou Antônio Calmon. Foi por conta dessa fascinação que o autor concebeu a gótica “Vamp” e a paranormal “Olho no Olho”, por exemplo. Na virada dos anos 2000, aproveitando-se da espiritualidade aflorada em meio às expectativas do novo milênio, Calmon resolveu voltar ao tema em “Um Anjo Caiu do Céu”.

Exibida há exatos 20 anos, a novela conta a história de João Medeiros, de Tarcísio Meira, um fotógrafo de fama internacional que sofre um atentado em Praga, na República Tcheca, ao clicar, por acaso, um líder nazista durante uma reunião secreta. Em seus últimos momentos no plano terrestre, sua vida é salva pelo anjo Rafael, de Caio Blat, que foi enviado pelas altas instâncias celestiais para oferecer uma nova chance a João.

Entretanto, o anjo avisa ao fotógrafo que ele terá apenas mais seis meses de vida para resolver seus problemas com a família, negligenciada desde que ele abandonou tudo pelas aventuras típicas da profissão. “Estava sob forte influência dos filmes do diretor Frank Capra, responsável por filmes clássicos da década de 1940, como ‘Felicidade Não se Compra’ e ‘Do Mundo Nada se Leva’, que são longas que abordam muito bem a busca por redenção. O João tinha de fazer as pazes com seu passado para poder seguir sua viagem”, explica Calmon.

Entre as principais pendências da vida do protagonista, ele precisa resolver sua situação com a ex-mulher Naná, que agora vive com o aproveitador Tarso, papéis de Renata Sorrah e José Wilker. Além disso, também tem de se entender com suas duas filhas: Virgínia e Duda, papéis de Débora Evelyn e Patrícia Pillar, respectivamente.

A primeira se tornou uma conceituada estilista, mas culpa o pai pelo problema na perna causado por um acidente que sofreu na adolescência e que acabou com sua carreira de bailarina.

Já Duda desenvolveu transtorno obsessivo-compulsivo após seu filho Kiko, de Jonatas Faro, ter desaparecido anos antes, colocando seu casamento em uma longa crise. “Apesar do contexto dramático, esse personagem foi meu reencontro com a comédia, um gênero que eu não explorei tanto ao longo da minha carreira. Me diverti muito ao lado do Caio. A gente sempre termina uma novela cansado. Mas, no caso desta, quando acabou eu estava leve e saudoso”, valoriza Tarcísio.

Universo da moda

Já explorado por Calmon em “Top Model” e “Sex Appeal”, o universo da moda serviu como principal pano de fundo de “Um Anjo Caiu do Céu”. Naná é uma estilista de sucesso e dona da marca de roupas Garota de Ipanema. O sucesso de Naná nos negócios e no amor sempre despertou a inveja de sua própria irmã, Laila, de Christiane Torloni.

Ex-modelo e dona de uma faculdade de moda, a perua acabou como a principal antagonista da história e ainda guardou um dos principais segredos da novela: sua filha, Cuca, de Débora Falabella, é fruto de uma única noite de amor entre ela e João. “Ao longo da vida a gente cruza com diversas pessoas parecidas com a Laila, que são movidas por essa vontade de querer a vida de outras pessoas. Como personagem, ela era um banquete para qualquer atriz, com diálogos divertidos e cortantes”, elogia Torloni.

Gravando em Praga

Como de praxe no início dos anos 2000, as gravações de “Um Anjo Caiu do Céu” começaram fora do Brasil. A locação escolhida foi a cidade de Praga, na República Tcheca. Por conta da complexidade das cenas de ação, a equipe comandada pelo diretor Dennis Carvalho contou com a consultoria da empresa americana Special Effects Unlimited e o apoio de uma produtora local.

“Foi insano ter de coordenar tantos detalhes. Foram mais de 100 profissionais envolvidos nas cenas e tudo teve de ser feito com muita antecedência por conta dos efeitos visuais. No fim, gosto do acabamento que esse trabalho teve. Praga foi um cenário inspirador e nada óbvio”, conta Dennis Carvalho.

Fazendo jus à função de interpretar o personagem-título, apesar do elenco estelar, foi Caio Blat o grande destaque da produção. Aos 20 anos, o ator brilhou na pele do Arcanjo Rafael, que perde seus poderes à medida em que vai se tornando mais humano. “O sucesso do personagem com as crianças era incrível. Foi minha estreia como protagonista na tevê. A gente nunca acha que isso pesa até realmente viver a situação. Nunca tinha visto tanto texto na minha frente”, relembra Caio Blat.