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Intolerância cotidiana

‘Rotas do Ódio’ estreia no Globoplay

Realista e bem feita, série mostra potencial do audiovisual brasileiro no gênero policial

Por Geraldo Bessa / TV Press

25 de janeiro de 2021, às 07h14

A força do gênero policial na tevê americana é imensa. Prova disso é a longevidade de títulos como “Law & Order SVU”, que está há 22 temporadas fazendo sucesso na tevê aberta e é único derivado sobrevivente da clássica franquia “Law & Order”.

No Brasil, o gênero ainda engatinha, mas tem seus expoentes e, além disso, um público ávido por histórias de crimes e investigações. Um desses casos é a envolvente “Rotas do Ódio”, série realizada pelas produtoras Panorâmica e Modo Operante em regime de coprodução com a NBC Universal International.

A boa recepção do público foi essencial para que a série ganhasse um terceiro ano com investimento nitidamente maior – Foto: Divulgação

Originalmente exibida pelo canal pago Universal, do sistema Globosat, a série agora tem suas três primeiras temporadas disponíveis na Globoplay e chama a atenção pelas boas coincidências com a já citada “Law and Order SVU”: parceria do mesmo conglomerado internacional, a presença do renomado roteirista Barry Schkolnick como consultor da equipe de roteiro e, em especial, a semelhança entre as protagonistas de ambas produções: a investigadora Carolina, de Mayana Neiva, e a icônica tenente Olivia Benson, personagem vivida por Mariska Hargitay. Onde ambas entregam atuações que equilibram bem as porções “cabeça” e “coração” de papéis que poderiam muito bem cair em qualquer estereótipo policial barato.

Planejada desde 2014 pela cineasta e documentarista Susanna Lira, a produção só conseguiu orçamento para se tornar realidade em 2017. Pela carreira da diretora, já se espera a dose certa de realismo essencial a este tipo de dramaturgia. Susanna, entretanto, vai além e faz um primoroso trabalho de pesquisa ao retratar o cotidiano da Decradi – Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Raciais e Delitos de Intolerância – de São Paulo.

Fortemente inspirada em fatos reais, a série desenvolve suas histórias em cadência envolvente, tendo como base o processo de afirmação de grupos de extrema-direita ligados ao neonazismo que assolam a capital paulista. Com uma eletrizante primeira temporada de cinco episódios lançada em março de 2018, a série logo conquistou o público do canal e, em setembro do mesmo ano, lançou sua segunda leva de episódios.

A boa recepção do público foi essencial para que a série ganhasse um terceiro ano com investimento nitidamente maior e com temática ainda mais pretensiosa, quando a história do mesmo grupo extremista se abre para legítimas conexões com assassinatos de pessoas do movimento LGBTQIA+ e a exploração de imigrantes latinos e africanos.

Quando o assunto é violência contra minorias, o que não falta é fonte de inspiração. É deste lamentável cotidiano que “Rotas do Ódio” se alimenta e, sem didatismo, aborda o problema. Com sequências de ação bem elaboradas e texto funcional, o que brilha mesmo em cena é o trabalho dos atores.

Além da ótima performance de Mayana, nomes como Antonio Saboia, Marat Descartes e Rafael Losso, entre outros, valorizam a produção. Sem poupar o telespectador e sem subterfúgios na hora de mostrar cenas fortes, a série demonstra a potência do audiovisual brasileiro para ir além de narrativas meramente folhetinescas e, assim como “Law & Order SVU”, tem grandes trunfos para alcançar a longevidade.

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