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O Caixeiro Viajante

Venezuela: perto do fim?

Em cada viagem que faço ao país, vejo a decadência que ali ocorre: falta de tudo

Por Oswaldo Nogueira

29 de setembro de 2024, às 06h49 • Última atualização em 29 de setembro de 2024, às 10h07

Não há dúvida de que Maduro perdeu a eleição: três em cada quatro eleitores afirmam isso. O problema está em aceitar esse resultado. Seu atual mandato encerra em janeiro do próximo ano, e o grupo no poder desde 1998 teme que, ao sair do governo, todos serão presos. Os Estados Unidos, por um lado, aplicam sanções econômicas, bloqueando contas e propriedades dos principais membros do governo. Por outro lado, permitem que a Chevron, petrolífera norte-americana, continue a explorar o petróleo venezuelano, que representa 31% da entrada de dólares no país.

Quando vou à Venezuela, tenho o hábito de alugar um carro em Boa Vista e visitar o interior do país, como um Caixeiro Viajante. Em cada viagem, vejo a decadência que ali ocorre: falta de tudo. As cidades estão vazias, milhões de pessoas já deixaram o país. Em uma cidade que visitei, por exemplo, um lindo shopping tinha toda a parte superior fechada por falta de lojas; as debaixo resistiam com grande dificuldade. A moeda local, o bolívar, não é mais aceita; os comerciantes preferem pagamentos em pepitas de ouro ou dólares. Todos os estabelecimentos têm balanças para pesar o ouro. Até me confundiram, dizendo que eu estava no país para comprar ouro e revender para a Colômbia.

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O apoio das Forças Armadas ao governo é total. Nas estradas, a cada 20 km, há uma barreira policial. Você é constantemente parado, revistado e questionado. Em uma dessas paradas, argumentei com um soldado que já havia sido revistado no bloqueio anterior, ao que ele me respondeu que aquele bloqueio era da Polícia Estadual e que o dele era do Exército. Argumentei que, para mim, seria a mesma coisa. Ele se irritou muito; percebi certa hostilidade. Um oficial se aproximou, me convidou a entrar no quartel e perguntou o que eu fazia na Venezuela. Expliquei que ia visitar uma cooperativa agrícola que estava fazendo a colheita do milho e que, portanto, precisava de sacaria para embalá-lo.

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A partir daí, percebi que o tratamento mudou. Ele disse: “Então, você é um amigo da Venezuela?” Me ofereceu um café, pediu desculpas pelo tratamento anterior e escreveu meu nome em um papel que possuía o timbre do Exército Nacional Bolivariano da Venezuela: todas as pessoas que acessassem aquele documento deveriam prestar todo o auxílio a mim, tratando-me respeitosamente. Assinou o papel, colocou seu telefone e disse que, caso tivesse qualquer problema, deveria telefonar imediatamente. Ao ir embora, observei uma grande placa com os seguintes dizeres: “Neste quartel, não se fala mal de Chávez.” Essa é a realidade da Venezuela.

Oswaldo Nogueira

Empresário e ex-vereador de Americana, escreve sobre temas do cotidiano com o objetivo de ser uma fonte de provocação e reflexão para os leitores; coluna quinzenal