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Cotidiano & Existência

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Leia o artigo desta semana da professora Gisela Breno

Por Gisela Breno

28 de julho de 2020, às 07h04

Se eu tivesse cargo, uma equipe de educadores que já vivenciaram a práxis das salas de aula e poder de decisão para corrigir alguns caminhos tortuosos e torturantes da educação brasileira nesses tempos difíceis, lutaria para que os conteúdos programados para esse ano letivo, de quaisquer séries, da pré-escola à graduação, não fossem absolutamente prioritários.

Pois, mais do que nunca, urge criarmos condições para que educandos e educadores se aperfeiçoem como seres humanos.

De que adianta o aluno ter o domínio da língua portuguesa, saber que o “quê” pode ser substantivo, interjeição , se a gramática da solidariedade não for capaz de prepará-lo para ser sócio benemérito da humanidade?

Pouco importa que possuindo destreza para assinalar a alternativa correta das questões em segundos, ele não compreenda que diante das incertezas, dos mistérios da vida, nem sempre escolhemos o melhor caminho, tampouco encontramos respostas para os inúmeros porquês que fazem morada em nosso coração.

Importante que o ensino o leve a enunciar a teoria da relatividade, o teorema de Pitágoras, a lei de Lavoisier, a teoria da evolução, e pronto esteja para devolvê-las nas avaliações . Mas terá condições e protagonismo para construir naves que alcancem as galáxias dos seus sonhos, anseios e desejos mais íntimos se suas habilidades socioemocionais não forem estimuladas, desenvolvidas?

Se meus sonhos realidades se tornassem, postergaria investimentos maciços em aulas remotas, importantes sem dúvida alguma, mas priorizaria a legião de alunos que, além de não terem acesso à Internet, praticamente não têm oque comer.

Como professora sei o quão exaustivas e estressantes são as tarefas sem fim dos educadores, multiplicadas na pandemia. Sem aviso, sem formação e preparo prévios tiveram literalmente que fazer das tripas coração para que o processo ensino aprendizagem não desandasse. Também por isso receberiam, além do reconhecimento do valioso e primoroso papel na sociedade, condições dignas para o exercício de tão nobre e essencial profissão.

Ciente de que o cansaço, o desânimo, a nova rotina desgastaram todas as pessoas da comunidade educativa ( gestores, educadores, alunos, pais…) -e não me venham com o argumento falacioso de que elas tiveram um período de descanso, pois as férias desse ano não foram férias- encerraria agora o ano letivo na certeza de que essa decisão traria um pouco de alívio, conforto; brisa suave para corpos e mentes devastadas por esse intenso e extenso vendaval que nos pegou despreparados.

Ano letivo tem todo ano.

Ano de vida não.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.