Histórias do Coração
Salete e José Coelho
Amor do casal vem sendo construído há mais de 45 anos e é esse amor que permanece e atravessa o tempo
Por Carla Moro
08 de agosto de 2021, às 10h40
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Na década de 1960, o Instituto de Educação Presidente Kennedy era conhecido por seu rigor e por sua excelência. Referência em educação, a escola recebia não somente os alunos de Americana, mas também de outras cidades da região. O Kennedy, como a escola era chamada, não existe mais. Ainda que os lugares mudem e que o tempo passe, as histórias permanecem. Como a história da Salete e do Coelho que eu conto hoje e que começou há mais de 45 anos.
Muitas vezes, me pego pensando em como o homem foi capaz de criar coisas que sobrevivem a ele próprio. Nosso desejo de imortalidade, um desejo que já sabemos de antemão impossível de ser realizado, é satisfeito quando construímos, inventamos e planejamos obras e objetos que ficarão aqui mais tempo do que nós mesmos. Contudo, ouvindo a história deste casal, percebo que há muito a humanidade já possui seu próprio quinhão de imortalidade e que isso só pode se concretizar no amor.
A Salete e o Coelho conheceram-se nos corredores do Kennedy no fim da década de 1960. Com 17 anos, o Coelho era muito conhecido pelas mocinhas da escola, menos pela Salete, que só ouvia falar do moço, mas não sabia quem ele era. A fama fez a curiosidade: uma prima dela insistia para que eles se conhecessem. Uma amiga em comum, inclusive, pediu que ele assinasse um papel e, em seguida, escreveu o nome da Salete com um coração em volta. Essa amiga fez a Salete acreditar que o coração tinha sido feito pelo Coelho. Brincadeira ou não, o interesse foi mútuo.
Separados por um corredor, a porta da sala de aula da Salete ficava de frente para a porta da sala de aula do Coelho. Ambos se sentavam na primeira carteira e ficavam se olhando quando tinham a sorte de as portas estarem abertas. A Salete até exagerava no calor, para pedir que a professora mantivesse a porta aberta. Ela tinha apenas 15 anos quando ele se ofereceu para levá-la até o ponto de ônibus.
Começaram a namorar depois de um fim de semana em que, entre amigos, combinaram de assistir O candelabro italiano, filme que estava passando no Cine Brasil, onde hoje fica o Teatro Municipal de Americana. A Salete achou que o Coelho não estava interessado nela, porque passou o filme todo sentado no fundo do cinema. Na saída, foram para a Noite Dançante do Rio Branco, mas o Coelho voltou para casa. Naquela noite, o moço foi ao encontro da Salete e explicou que não era falta de interesse, ele só precisava mesmo pegar uma blusa de frio.
Casaram-se em uma sexta-feira depois de 6 anos de namoro. A cerimônia foi na Igreja de Carioba e a festa, pequena, no salão da Igreja de Santo Antônio. Com um Dodge azul, presente do pai da noiva, dirigiram até o Rio de Janeiro, para a lua de mel.
De tudo aquilo que acaba, das escolas que deixam de existir, dos cinemas e clubes que fecham, ainda restam as histórias. Construímos as paredes, os telhados, os carros, as telas, mas também construímos o amor. O amor da Salete e do Coelho vem sendo construído há mais de 45 anos e é esse amor que permanece e atravessa o tempo. Diante de tudo aquilo que já acabou, o amor da Salete e do Coelho é mesmo a construção mais resistente.
Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com