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Cotidiano & Existência

Recusas

Mesmo tachada de ingênua, não abro mão de acreditar na bondade inscrita em todo ser humano

Por Gisela Breno

07 de julho de 2020, às 08h08 • Última atualização em 07 de julho de 2020, às 08h54

Ainda que o egoísmo, o descaso, a indiferença, o desamor rondem esses tempos sombrios assolados também pela pandemia insisto em dar ouvidos à voz da minha alma que, incessantemente, sussurra-me que nascemos blocos de mármore, à espera do tempo e do toque milagroso capazes de esculpir e fazer de nós, como Michelangelo, verdadeiras obras de arte.

Pouco me importando com os que não se compadecem com a dor e a morte alheias, lanço minhas orações como sementes ao vento, para que germinando nos corações aliviem esses sofrimentos que dilaceram nosso corpo, estremecem e despedaçam nossos corações.

Ignorando todos os que se acostumaram com o inaceitável e crescente número de pessoas jogadas à margem da sociedade, vistas de longe pelas janelas dos nossos protegidos lares, quero não somente permanecer com o coração partido diante da omissão e responsabilidade que temos direta ou indiretamente por essas injustiças e dramas humanos, mas oferecer ajuda nem que seja para apenas um deles.

Dando as costas para aqueles que se bastam, navego em direção a ombros amigos onde frequentemente ancoro meu navio de incertezas, desacertos, desilusões, desânimos, para sorver a paz que de deles emana.

Mesmo tachada de ingênua, não abro mão de acreditar na bondade inscrita em todo ser humano, apesar da violência, intolerância, ódio, frieza cada vez mais sórdida e elaborada em tantos deles; e da convicção de que vale a pena se esforçar diariamente para ser bom, justo, correto mesmo que as recompensas terrestres jamais apareçam.

Transgredindo os ensinamentos da Biologia lhes confidencio que o ser humano (Homo sapiens) apesar de possuir o cérebro mais complexo e evoluído , não chega aos pés das araras que se ligam a um único parceiro pra vida toda, dos ipês que sem estar nas redes sociais, sem marketing algum, majestosa e silenciosamente dão um show de beleza para todos nós, pobres mortais ; dos pássaros que entoam sinfonias em meio à apatia, à indiferença aos seus (en)cantos.

E se me provarem que a vida eterna é ópio para nossos desassossegos, doce remédio para nossas dores, sigo firme na certeza de que um dia, cerrando os olhos para essa existência terrena,eles se abrirão para contemplar a Plenitude pela qual o tempo todo anseio.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.