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Cotidiano & Existência

Reconquistas

Leia o novo artigo da professora Gisela Breno

Por Gisela Breno

13 de outubro de 2020, às 07h57

Padronizados por jeans, cores, modelos ditados pelos donos da moda; robotizados pelo marketing expert em tocar fundo nos desejos inconscientes que nos atira voraz e eficazmente em direção ao consumo de bens descartáveis; diluídos em meio à massa acrítica que incorpora gestos, falas dos tops do momento; pavoneados com roupas de grife e demais objetos de intermináveis desejos, criaturas desses tempos, enterram suas singularidades e diversidades, encaixes perfeitos para o grande quebra-cabeça que é a vida.

Clones de uma ideologia que despeja no mercado criaturas doutrinadas e /ou manipuladas por algoritmos para serem insensíveis aos apelos da alma, ostentamos esse modo de existir e seus badulaques nas arenas de concreto desprovidas hoje de leões, substituídos por seres de nossa própria espécie.

De que maneiras se infiltrar nessa multidão para despertar os massacrados pelo rolo compressor e opressor daqueles que se tornaram senhores de nossos destinos, impositores de regras seguidas mansamente por nós?

Como destruir esse sistema onipotente, mestre em matar nossa sede de infinito?

Que estratégias utilizar para derrubar essa imensa muralha que , crescendo feito praga, nos separa das verdades e das potencialidades que moram dentro de nós?

Como implodir esse laboratório que se apoderou das fórmulas belas de nossa essência, gravadas em nossos genes desde sempre para reconquistar:
a busca pela simplicidade de vida; o olhar demorado e revelador na natureza; a reverência pela sabedoria dos mais velhos; as risadas por tudo e por nada; a nostalgia evocada pelas tardes de outono; as saudades do bebê eterno e carente impresso em nossos corações; o desejo terno do beijo demorado no rosto daqueles que fazem parte de nossa história e sem os quais nada seríamos; o sentir-se pecador mas orar e lutar sem cessar pela santidade, cultivando a certeza de que o vazio existencial será preenchido na eternidade ; a convicção de que apesar dos erros, imperfeições, retrocessos, quedas, habita e arde em nosso eu um infinito amor por tudo e por todos.

Ah, se conseguíssemos nos libertar dessas prisões não somente reataríamos o cordão umbilical que nos liga ao ventre Divino, mas essencialmente reconquistaríamos o sentido do viver.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.