Cotidiano & Existência
Olhares e vidas aprisionadas
Mergulhados no individualismo, homens e mulheres deste século XXI se afastam da natureza; leia o artigo da professora Gisela Breno
Por Gisela Breno
10 de novembro de 2020, às 08h31
Link da matéria: https://liberal.com.br/colunas-e-blogs/olhares-e-vidas-aprisionadas/
O ser humano guarda dentro de si -consciente ou não- um amor pelos seus
semelhantes, um deslumbramento e pertencimento à Natureza, um
encantamento mesclado de temor pelos mistérios da vida, uma sede de Infinito e de busca pelo sentido da vida, que transpassam o seu corpo, a sua mente e a sua alma.
Mas mergulhados em rios de individualismos, de alienações, de imagens e informações pré-fabricadas cujo poder de devastar singularidades é aterrador, homens e mulheres deste século XXI não vislumbram o Homo sapiens permeado pelo sopro da energia criadora e imorredoura.
Enxergam o ser humano, a Natureza, o Cosmo como objetos separados do seu eu. Incorporam o papel de meros espectadores de tudo e de todos que os rodeiam; afastam- se inclusive, de si mesmos.
Improvável sentirem-se então parte de um Todo, improvável serem pontes para propiciar espaços e condições para construção de uma vida repleta sentidos.
Nessa caminhada insossa tornam-se frequentemente iguais —massa informe—, relutantes em despertar do sono profundo em que foram colocados, sem forças para conseguirem ouvir o som da própria voz; clones sem nomes e sem a paixão que os move em direção ao sentido de suas existências; surdos aos apelos de união que ecoam ao seu redor; incapacitados para perceberem que, das experiências de ser parte de um Todo, emerge um sentido de corresponsabilidade não apenas com os homens e mulheres de seu tempo, mas com o destino do Planeta.
Em tempos de incomparáveis avanços tecnocientíficos, de pulverização da singularidade, da exaltação do ter, do amortecimento de consciências, é preciso resgatar a crença nos recursos existentes no íntimo de cada ser humano, gestar a sensibilidade pelos mistérios e encantos da vida e da natureza, é mister direcionar nossas mãos e nosso olhar para não somente dar sentido a nossa existência mas para entrelaçarmos nossas vidas com as vidas dos irmãos e irmãs na travessia pelo Universo.
Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.