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Pelas Páginas da Literatura

O olho mais azul que verá a morte de Genivaldo

Pelas Páginas da Literatura lembra de obra da escritora Toni Morrison após homem negro ser asfixiado em viatura da Polícia Rodoviária Federal de Sergipe

Por Marina Zanaki

28 de maio de 2022, às 10h03 • Última atualização em 28 de maio de 2022, às 10h04

O crime bárbaro cometido contra Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, negro e com esquizofrenia, é chocante. A Polícia Rodoviária Federal de Sergipe o matou asfixiado em uma “câmara de gás” no município de Umbaúba (SE) na quarta-feira (25).

Ele foi abordado, imobilizado, colocado dentro do porta-malas da viatura e asfixiado com gás. O IML (Instituto Médico Legal) confirmou que ele morreu por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda.

A Polícia Rodoviária tentou argumentar, justificar, fingir que foi um procedimento normal de quando alguém resiste agressivamente à abordagem. Mas como se explica os agentes terem ironizado os pedidos de socorro do sobrinho da vítima? Como se justifica o policial que viu as pernas de Genivaldo tentando sair da viatura, em um sinal de desespero, e as manteve imobilizadas?

Assistir o vídeo do momento que Genivaldo é morto é terrível. Dá um nó na garganta, um aperto no peito, uma desesperança na humanidade.

Sou uma mulher branca e que não consigo ter a dimensão do peso do racismo. Isso ficou muito claro quando li “O olho mais azul”, da americana Toni Morrison, em abril. Nesse livro brilhante, ela faz um retrato dos efeitos do racismo sobre a autoestima, indo até as últimas consequências. Toni Morrison mostra o que significa não conseguir se amar pois a sociedade diz que sua vida não vale nada por causa da cor da sua pele.

A personagem principal do livro é a menina Pecola, que sonha em ter o olho mais azul para ser considerada bonita. Na passagem mais dolorida da obra, ela revela que tem esse desejo profundo pois acredita que só assim os adultos ao seu redor vão ter vergonha de fazê-la ver coisas horríveis com seus belos olhos azuis.

Genivaldo era casado e deixa um filho de sete anos. Se tivesse o olho mais azul, esse menino não teria visto o pai ser morto de forma bárbara.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.