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Não mais que de repente

Por Geraldo Trombin

01 de maio de 2022, às 09h41 • Última atualização em 01 de maio de 2022, às 09h42

Você estuda bastante, se entrega com afinco à profissão. Coleciona incansáveis jornadas e horas extras. Trabalha até altas horas, inclusive sábados, domingos e feriados. De repente, percebe que usaram você, sua bondade e profissionalismo como escada para subirem na vida. E que, depois, ainda lhe deram uma bela rasteira, fato recorrente em sua trajetória. Ao se dar conta, já está na melhor idade. Olha pra trás, não vê nada além dos seus cacos pelo caminho, após tantas pedras e perdas.

Você tem um relacionamento por mais de uma década e acha que vai durar a vida toda. Troca carícias, beijos, alianças. Compra o sonhado “Lar, doce lar”, mobília com carinho cada canto do seu futuro novo cantinho. Acha que tudo vai às mil maravilhas. De repente, por inveja e fofoca, a casa cai e o sonho de uma vida feliz a dois é soterrado. Os sobreviventes? Cada um pro seu lado!

Você está de bem com a vida. Labuta, passeia, se diverte. Enche o carro, a casa de amigos. Faz festa, churrasco, rodada de pizzas. Vai a barzinhos e eventos. Tudo bem na saúde, família, trabalho e conquistas. De repente, na surdina, o destino puxa seu tapete. Você cai, perde a noção, o rumo, horizonte e amigos. Lembra da trova do poeta Soares da Cunha: “Amigos que não convêm são aves de arribação. Se faz bom tempo, eles vêm, se faz mau tempo, eles vão!”

Você convive por mais de 60 anos com um ente querido – no meu caso, meu amado pai. Compartilha o mesmo teto, inesquecíveis momentos, os mesmos sonhos, abraços, olhares e muito amor. De repente, olha pra frente, pros lados, pra trás e nem sombra dele. Nota que, além das suas medalhas de Skeet, restaram somente algumas poucas fotos, um punhado de lembranças e uma saudade danada!

Dizem que a única certeza na vida é a morte. Eu tenho outra certeza: que a vida é mesmo muito incerta! Não mais que de repente, tudo roda.

Geraldo Trombin
Publicitário e escritor

Colaboração

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