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Minha alma cigana

Por Henrique Matthiesen

15 de outubro de 2020, às 08h47

Dentre as ponderações nas quais Darcy Ribeiro refletia, gosto muita dessa: “Presente, passado e futuro? Tolice. Não existem. A vida é uma ponte interminável. Vai se construindo e destruindo. O que vai ficando para trás com o passado é a morte. O que está vivo vai adiante.”

Nesta reflexão, Darcy nos traz a percepção de caminhada, de movimento, de construção. Característica intrínseca dos sábios que ousaram e desafiaram a mediocridade como Darcy Ribeiro, Paulo Freire e Anísio Teixeira. Eram essas suas inquietudes que os faziam caminhar, que os faziam ousar, que os faziam nômades da existência, como almas ciganas.

Latino-americanos e brasileiros por excelência, seus ensinamentos jamais se restringiram às fronteiras pátrias ou se serviram da mesmice.

Para os que optarem por sonhos, por utopias, por transformações, incorporarão de forma categórica o espírito cigano, pois inevitavelmente, as utopias e os sonhos são nômades por essência.

Nada mais itinerante do que a utopia; ela em si não se acomoda, não se conforma, não se imobiliza e tem a sua essencialidade no movimento, na transformação, no rompimento de fronteiras. A utopia por si só é cigana.

Entretanto, muitos optam pela involução, pelo parasitismo e pela imobilidade. Não ousam, não sonham, não caminham. Estão mortos antes mesmo do esgotamento biológico. Renunciam a caminhada, a descoberta, a grande e fascinante caminhada das causas, do sentido, do sublime.

Indignos da existência, despossuídos de alma, prisioneiros da mesmice, não saboreiam os aromas, as paisagens, e as maravilhas que as caminhadas podem proporcionar.

Afinal, alma cigana é uma escolha, uma opção, não um destino, mas um sentido para os que ousam a grandeza da existência.

Henrique Matthiesen é bacharel em Direito e pós-graduado em Sociologia

Colaboração

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