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Histórias do Coração

Lásara e Odair

O amor deste casal de olhos azuis tem raízes tão firmes que continua florescendo todos os dias. Todos os dias, nos últimos 64 anos

Por Carla Moro

07 de março de 2021, às 08h33 • Última atualização em 07 de março de 2021, às 08h34

Na década de 1950, mais precisamente em 1955, os moradores da cidade de Porto Ferreira que desejavam, pelos mais variados motivos, chegar em Monte Mor, precisavam pegar um trem até Campinas. Em seguida, havia apenas um ônibus que seguia para Monte Mor. Ele chegava à cidade sempre no fim da tarde, apenas uma vez ao dia, e parava na praça para que seus passageiros pudessem descer.

O amor deste casal de olhos azuis tem raízes tão firmes que continua florescendo todos os dias – Foto: Arquivo Pessoal

Em uma tarde de março de 1955, havia duas jovens esperando, na praça do centro de Monte Mor, a chegada desse único ônibus vindo de Campinas. Lásara e sua irmã eram filhas de Maria e sábado era dia de ofício. Elas moravam no sítio, que ficava distante alguns quilômetros da cidade e, terminadas as obrigações na igreja, elas esperaram.

Era já quase noite quando o Odair chegou. A Lásara viu primeiro a luz de dentro do ônibus se acender. Depois, enxergou o moço que vinha descendo, com um terno cinza e gravata bordô. As irmãs tinham horário para chegar em casa. Em 1955, as distâncias eram maiores. Odair insistiu, disse que levaria as moças embora de táxi. E, então, elas ficaram. Odair me conta que o amor começou assim: “Eu apertei a mão daquela moça e comecei a gostar dela”.

O casal desta história se conheceu muito antes desse encontro na praça do centro de Monte Mor. O tio do Odair morava no sítio vizinho ao sítio da família da Lásara, mas a primeira vez em que se viram ela tinha apenas quatorze anos. Pelos anos que se seguiram até o dia em que desceu do ônibus usando um terno cinza e gravata bordô, Odair escreveu ao tio perguntando da moça. Quando, já com dezesseis anos, Lásara respondeu uma dessas cartas que ele enviava ao tio, ele finalmente foi ao seu encontro.

Odair morava em Porto Ferreira e trabalhava na Nestlé. Ele viajava muito consertando o maquinário em cidades diferentes. Quando o casal já com filhos decidiu-se por se mudar para Americana, foi justamente para poderem ficar mais tempo juntos. Na cidade, eles tiveram um supermercado, a primeira casa, construíram de mãos dadas o futuro que vivem hoje. O passado não foi fácil, Lásara e Odair perderam os filhos muito jovens ainda, mas há os netos e os bisnetos, que fazem o presente ser um pouco mais doce.

Uma vez por mês, durante o namoro, Odair fazia novamente aquele primeiro caminho: um trem de Porto Ferreira até Campinas e um ônibus de Campinas até Monte Mor. Todo o resto do tempo, eles se comunicavam por cartas.

A casa onde eles moram hoje em dia em Americana tem um orquidário imenso, com mais de 500 vasos. Lásara me diz que o amor é como uma planta: se a gente não rega, ele murcha. E se murcha, morre. Durante os dois anos e oito meses de namoro, Lásara escreveu 104 cartas; Odair, outras 96. Elas estão guardadas. As palavras são capazes de fazer o amor murchar ou florescer, e as cartas cultivaram o amor durante os dois anos e oito meses de namoro. Elas foram como raízes. O amor deste casal de olhos azuis tem raízes tão firmes que continua florescendo todos os dias. Todos os dias, nos últimos 64 anos.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com