26 de abril de 2024 Atualizado 15:37

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Histórias do Coração

Júlia e Fernando

Na coluna de hoje, Carla Moro fala sobre a essência do amor platônico: o de não se concretizar

Por Carla Moro

29 de agosto de 2021, às 08h25 • Última atualização em 29 de agosto de 2021, às 08h26

Para contar esta história do coração, precisaremos passar pela Grécia antiga e visitar um filósofo, para, então, saber de uma menina que, como muitas outras no início da adolescência, se apaixonou pelo menino mais velho do colégio. Menino que, como muitos outros, nunca teve olhos para a menina mais nova.

Comecemos pelo filósofo. Platão foi um pensador e matemático da Grécia antiga. Estima-se que tenha nascido por volta de 428 a.C., ou seja, mais de 2000 anos antes que a Júlia visse o Fernando no pátio do colégio no primeiro dia de aula.

Ela tinha 12 anos; ele, 16. Sabemos que a distância que separava a chamada sexta série do segundo colegial do ensino médio era ainda maior que a distância temporal entre filósofo, Júlia e Fernando. A adolescência é esse período em que tudo parece ser maior do que realmente é. Assim, não poderia ser diferente com o amor que a Júlia sentiu instantaneamente pelo Fernando.

Não se sabe muito bem quando a expressão “amor platônico” surgiu, mas, obviamente sua origem está no filósofo da nossa história. Tampouco se sabe se Platão foi um homem apaixonado, no sentido romântico da palavra. A História só deixou registrado seu amor pela filosofia, pela razão e pelos estudos. Então, quando falamos de amor platônico, como o amor da Júlia pelo Fernando, que começou no pátio do colégio em 1999, falamos de uma expressão que sofreu uma distorção ao longo do tempo.

Amor platônico, tão comum na adolescência (mas, infelizmente, também na idade adulta para os mais desafortunados), é o amor idealizado, não realizado e, muitas vezes, a distância, não necessariamente muito grande: quatro anos na idade ou alguns metros, a depender do tamanho do pátio.

A essência do amor platônico é o não se concretizar. Júlia passou todos os meses entre 1999 e 2000 sem poder concretizar o amor platônico que sentia pelo Fernando. Ela via o menino todos os dias pelos corredores do colégio, segurava a respiração quando estavam lado a lado no bebedouro e, no susto, desviava o olhar quando, por acaso seus olhos se cruzavam no pátio. O Fernando nunca soube desse amor, e como poderia, já que ele não saiu da cabeça e do coração da Júlia, nem do caderno, onde ela escrevia sobre o menino.

O Fernando era ruivo, de olhos verdes e tinha sardas no nariz. Um nariz bem grande, me conta rindo a Júlia. No recreio, ele estava sempre rodeado pelos amigos, também inatingíveis para as meninas da sexta série do fundamental.

A Júlia me trouxe uma fotografia: nela, é possível ver dois casais de adolescentes vestidos com roupas de festa junina. Um dos meninos é o Fernando, claro. Depois da festa, em junho de 2000, a Júlia comprou a fotografia, embora ela não aparecesse no retrato. Ao lado do Fernando estava a namorada, uma menina da sala dele.

Platão não pode prever os amores impossíveis que levariam o seu nome. O Fernando nunca soube do amor platônico da Júlia, nem pode guardar a fotografia de recordação da sua última festa junina no colégio. A foto está com a Júlia, dentro de uma caixa de all star, o tênis que todas as meninas de 12 anos usavam naqueles meses entre 1999 e 2000.  

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com