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Histórias de Americana

Em nome da moral e dos bons costumes

Artigo relembra quando grupo de estudantes e artistas amadores ligados à Companhia Cinematográfica de José Mojica, o Zé do Caixão, produziu um filme em Americana

Por Jefferson Luís Bocardi

14 de novembro de 2021, às 08h25

Em março de 1975, um grupo de estudantes e artistas amadores ligados à Companhia Cinematográfica de José Mojica, o Zé do Caixão, utilizou de vários espaços de Americana para a produção de um filme com conteúdo de terror e erotismo.

Em matéria publicada em 25 de março, no LIBERAL, é narrada uma confusão gerada durante a gravação no período noturno, dentro do Cemitério da Saudade, em Americana. A matéria traz a seguinte narrativa:

“Tudo ocorria tranquilamente, com populares assistindo as cenas das moças quase nuas, entrando e saindo em sepulturas simuladas quando apareceu ao local o padre João Rodrigues”, chamado por populares.

Em seu depoimento, o padre relata a cena que encontrou ao chegar no cemitério: havia moças quase nuas e rapazes com os corpos pintados, o que foi classificado por ele como profanação de um lugar sagrado. A tentativa por parte dos artistas de defenderem seu trabalho, dizendo que também eram cristãos e que estava trabalhando, foi sem efeito para acalmar o padre, que disse que “até os pagãos do Império Romano respeitavam as catacumbas”.

O coveiro José de Lima, responsável pelo local na fatídica noite, disse à reportagem que tudo ocorria normalmente, até a súbita chegada do padre, que, segundo ele, pulou o muro e disse aos populares: “quem for cristão que me acompanhe”. O coveiro ainda enfatizou que as sepulturas utilizadas eram cenográficas, ou seja, não eram do cemitério.

É possível perceber, ao ler os relatos dos fatos ocorridos naquela madrugada de uma segunda-feira de 1975, como o espaço de cemitério já era visto de diversas formas, posições colocadas em disputa: para uns, lugar de expressão de sua arte, para outros, de religiosidade e honra às memórias daqueles que partiram.

De todo modo, também é possível observar uma questão moral – ou mesmo moralista – no fato descrito na reportagem. Zé do Caixão e sua excêntrica figura, em plena ditadura civil-militar, rompia a normalidade de uma cidade interiorana, dividindo cristãos entre a curiosidade e a antipatia. E no fervor da gravação cinematográfica, o padre que invadiu noite adentro os muros do cemitério que jurava proteger marcou talvez a cena que faltava para dar comicidade à produção.

Jefferson Luís Bocardi é membro do grupo Historiadores Independentes de Carioba, dedicado à pesquisa história sobre Americana

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.