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Histórias de Americana

Em defesa da democracia

Como historiadores, buscamos pontuar a importância do pensamento crítico, uma vez que qualquer uso do passado é político e impacta nosso presente

Por Historiadores de Carioba

13 de fevereiro de 2022, às 10h36 • Última atualização em 14 de fevereiro de 2022, às 07h56

O ano de 2022 se inicia com uma apreensão para os cidadãos brasileiros: é ano de eleição. A cada quatro anos, saímos de nossas casas em um domingo de outubro para escolher democraticamente nossos representantes a nível federal. Mas nem sempre foi assim. Como conhecido por todos, entre 1964 e 1985, o Brasil passou por uma ditadura civil-militar. Isso significa que direitos civis foram cassados, a oposição foi duramente perseguida, a imprensa foi censurada e manifestações políticas não podiam ocorrer livremente, seja em âmbito individual ou coletivo, a menos que partilhassem das ideologias defendidas pelo governo ditatorial.

A partir de 1974, supostamente se iniciaria a abertura gradual para uma transição política. Contudo, o período foi marcado pela continuidade dos crimes da ditadura, como o assassinato de Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura e opositor do regime, em 1975. Essa notícia veiculou na imprensa de todo o País, inclusive no LIBERAL, em nossa cidade. Na ocasião, foi anunciado oficialmente que ele havia se suicidado, mas, depois da Comissão da Verdade, instituída em 2011, finalmente o óbito foi registrado como assassinato.

Curiosamente, em uma data próxima desse ocorrido, mais especificamente em outubro de 1975, o LIBERAL também anunciava um curso que ocorreria naquele mês, entre os dias 9 e 12, sediado no Instituto de Ciências Sociais de Americana, no Dom Bosco, e que teria a abordagem de temas como as características, a crise e o risco da democracia e as “fontes ideológicas da Revolução de 1964”. Nota-se pela linguagem utilizada no anúncio que se tratava de um encontro alinhado aos interesses políticos da ditadura, apresentando como nossa cidade estava diretamente ligada aos pressupostos ideológicos antidemocráticos do período, inclusive em suas instituições de ensino

Todavia, vale reforçar que onde há poder, há resistência. Se, por um lado, houve a insistência na propagação de uma amenização das violências ditatoriais no Brasil, por outro, existiu uma ampla organização resistente que até hoje luta pela memória desse passado nada glorioso. Observamos as consequências de uma postura acrítica em falas que atravessam o Planalto Central até hoje, utilizando-se de espaços democráticos para, enfim, tentar deslegitimar a importância da própria democracia.

Como historiadores, buscamos pontuar a importância do pensamento crítico, uma vez que qualquer uso do passado é político e impacta nosso presente. Assim, se hoje vivemos em uma democracia, é porque houve luta. E, dessa luta, resultam as possibilidades de posicionamentos e vozes que hoje podem defender a importância da participação política e da liberdade de expressão. Se, em 1975, os jornais publicavam sobre cursos em defesa da ditadura, hoje, em 2022, a imprensa pode ganhar importância ao cumprir outro papel ideológico: a de defesa da democracia. Que façamos bom uso dessa potência crítica e façamos desse ano não só um momento de reflexão, mas de prática.

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.